terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Especial "Sophia de Mello Breyner Andresen" (1919-2004)

Nunca gostei muito das aulas de Português. Talvez porque sempre dei muitos erros ortográficos, ou porque simplesmente as obras escolhidas não me cativavam o suficiente. Quem sabe se a culpa não era apenas da forma como as aulas eram leccionadas. Independentemente da causa, houve um período em que gostei das aulas de Português – quando lemos os contos de Sophia de Mello Breyner, “A Fada Oriana”, e “O Cavaleiro da Dinamarca”. Por essa altura, devia estar no 5º ou 6º ano e lembro-me dessas aulas passarem muito depressa. Foi pela magia desses contos, que resolvi reiniciar os “Especiais” com esta autora. 




Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu a 6 de Novembro de 1919 no Porto. Era filha de Maria Amélia de Mello Breyner e de João Henrique Andresen, sendo a sua origem dinamarquesa, pelo lado paterno (o que explica, em parte, o nome estranho). A sua mãe fazia parte da aristocracia, filha do Conde de Mafra, Tomás de Mello Breyner (médico e amigo de D.Carlos)

A sua infância foi passada entre a Quinta do avô dinamarquês, “A Quinta do Campo Alegre”, que hoje se transformou no Jardim Botânico do Porto, e a casa de Verão da família, na praia da Granja. Muito do seu gosto pela natureza e pelo mar, bastante evidente nos seus contos e poesia, foi inspirado pelas recordações aqui experienciadas. 

"Tenho muita memória visual e lembro-me sempre das casas, quarto por quarto, móvel por móvel e lembro-me de muitas casas que desapareceram da minha vida (…). Eu tento «representar», quer dizer, "voltar a tornar presentes» as coisas de que gostei e é isso o que se passa com as casas: quero que a memória delas não vá à deriva, não se perca". 

A autora permanece no Porto até aos 17 anos, altura em que se muda para Lisboa, com o objectivo de seguir estudos superiores em Filosofia Clássica. Apesar de não chegar a terminar o curso, a veia helenista e a influência clássica sempre permaneceram como fonte de inspiração, para muita da sua obra literária. 

A escrita da poesia começa, oficialmente, aos 20 anos, sendo os seus primeiros versos, publicados em 1940, na revista “Cadernos de Poesia”. Participa também noutras revistas e, em 1944, o seu pai paga a publicação de 300 cópias do seu primeiro livro, simplesmente intitulado de “Poesia”. Este primeiro livro inclui poemas escritos por Sophia, com a tenra idade de 14 anos, onde já estão presentes alguns dos elementos característicos da sua obra, como o mar, a ligação entre o Homem e Natureza, os deuses pagãos e a História. 

Em 1946 casa com o jornalista e advogado Francisco Sousa Tavares, monarquista e activista anti-fascista. Torna-se uma das figuras mais representativas no apoio ao movimento monárquico e na denúncia do regime salazarista, sendo a poesia uma das suas principais armas. Foi mãe de cinco filhos, um dos quais também escritor de renome (Miguel Sousa Tavares), e foi deles que veio a inspiração para a escrita dos seus contos infantis, hoje tidos como clássicos da literatura infantil portuguesa. 

Em 1964 recebeu o Grande Prémio de Poesia pela Sociedade Portuguesa de Escritores pelo seu livro “Livro sexto” e, já depois da Revolução de 25 de Abril, foi eleita para a Assembleia Constituinte, em 1975, pelo círculo do Porto numa lista do Partido Socialista.

Além do seu trabalho enquanto poetisa e contista, realizou também importantes trabalhos de tradução de obras de autores clássicos, como Dante Alighieri, Eurípedes e Shakespeare. 

Em 1999, recebe o Prémio Camões e, em 2003, o Prémio Rainha Sofia de poesia Ibero-Americana, sendo a primeira vez, que um português recebe este prestigiado galardão. 

Os seus últimos trabalhos foram publicados em 2001. A escritora morre a 2 de Julho de 2004, com 84 anos, sendo o seu corpo trasladado para o Panteão Nacional a 2 de Julho de 2014. 

Deixa-nos como herança um vasto leque de poemas e de contos, que com certeza entraram no coração de muitos de nós. 



Fontes: 
-www.portoeditora.pt/campanhas/sophia-de-mello-breyner-andresen 
-www.portaldaliteratura.com/autores.php?autor=296 
-storberose.blogspot.pt/2012/06/pursuit-of-real-poetry-of-sophia-de.html 
-pt.wikipedia.org/wiki/Sophia_de_Mello_Breyner_Andresen

7 comentários:

Mariana Almeida disse...

Vale a pena visitar o Jardim Botânico no Porto, principalmente quando se é fã da Sophia. Sente-se o mesmo tipo de magia imbutido nos livros dela, é um local lindíssimo. Adorei ler os contos quando era miúda e continuo a gostar de os reler de vez em quando. Principalmente "A Árvore" e os "Contos Exemplares".

Mariana Almeida disse...

Blagh! E é embutido e não imbutido! Peço desculpa!

(já agora acho que na última frase querias dizer vasto não?)

Sara disse...

Sophia é uma escritora extraordinária...Recomendo tb os outros livros dela, não juvenis. Contos exemplares é um dos meus livros favoritos. Em relação ás aulas de português não me posso queixar...Sempre gostei, mas tb sempre tive boas professoras.

Alu disse...

Tenho que explorar a sua faceta mais crescida. O que conheço dela são mesmo os contos infantis, mas fazer este especial fez-me querer ler mais e conhecer Sophia de Mello Breyner em todas as suas facetas!

Alu disse...

Aahahah! Pois Mariana, eu bem disse, que eu e os erros ortográficos éramos muito amigos! ;)

Tenho que visitar o Jardim Botânico...é uma falha não ter ido ainda!

Cátia Frade disse...

Destes só conheço os dois primeiros: O cavaleiro da dinamarca e A menina do mar. Confesso que adorei o segundo, mas há um outro livro da autora que fez as minhas delícias e foi durante muito muito tempo o meu preferido: A Fada Oriana. Conheces?

Alu disse...

Claro que conheço! Também é o meu favorito, mas ainda não o tenho XD (ou não sei onde está...tenho que o procurar bem)