quinta-feira, 13 de março de 2014

Um passo de cada vez - Garraiada Académica

Ontem na minha universidade (UTAD) foi dado um pequeno grande passo na luta contra as actividades de Tauromaquia: a garraiada académica foi eliminada do cartaz da Queima das Fitas.

Para quem não sabe a garraiada não é o mesmo que tourada; a garraiada consiste em usar o "garraio" (um touro jovem) num cercado, onde podem entrar pessoas para o desafiar numa luta igual e justa.

Isto é o que dizem os pró-tauromaquia. A realidade das garraiadas é outra: a garraiada não é uma luta igual e justa. A começar pela palavra: cercado; seguida da palavra: álcool; seguida das palavras: conjunto de pessoas = O animal está num cercado, onde podem entrar e sair várias pessoas, muitas delas sob o efeito do álcool. Porquê que elas são tão apreciadas? Porque são as únicas vezes do ano em que algumas pessoas, se podem exibir; são uma futilidade que sobrevive à custa do bem-estar de outro ser vivo. 

Mas não é só pelo factor social que as garraiadas continuam a existir. Elas existem, porque contribuem para um monopólio comercial bastante alargado. Este monopólio tem a sua expressão máxima no sul de Portugal, onde existem famílias inteiras que se dedicam à criação da touros de raça Brava. Como tal, há que continuar a incentivar o gosto pela "tradição", porque se apedrejar mulheres também facturasse, então ainda se faria isso, pela "tradição", claro! 

Mas como e quando é que estas "tradições" vão terminar?  

Costuma-se dizer que para evitar zangas graves é melhor não se falar em religião, política ou futebol. O tema das touradas e garraiadas encaixa perfeitamente nestes temas que nunca irão reunir consenso, isto porque existe uma grande dificuldade em ambas as partes de se colocarem na pele uns dos outros: se um dia algum fulano começasse a dizer que o pão fazia mal à saúde e que todas as padarias deveriam deixar de existir, eu ficaria assustada, revoltada e preocupada, já que a minha família depende da venda de pão para sobreviver. Mas não seria puro egoísmo da minha parte achar que só isso era o suficiente para continuar a fazer mal às pessoas com o pão que eu lhes vendia? Sim.


A resposta para o fim das actividades de tauromaquia e para o fim do célebre argumento "estão a condenar a raça Brava ao seu fim, se não continuarem a "tradição" ", está em tornar a raça útil e valiosa por outros motivos, como por exemplo, pela qualidade da sua carne. Desta forma preserva-se a raça e sustentam-se as famílias. Acredito que, a longo prazo, este tipo de "tradição" se vá perdendo, não só porque cada vez existe mais gente sensibilizada e informada, mas também porque o próprio factor tempo é capaz de diluir muita coisa.

Numa discussão amigável, que tive em tempos sobre o tema, com alguém que tolerava a garraiada, mas não a tourada, apercebi-me de uma coisa sobre a qual nunca tinha reflectido: o ser humano não é perfeito. O ser humano tem ainda o seu lado animal, aquele que se delicia em subjugar os outros, ou as outras espécies; aquele que lado que acha piada às pessoas que são arrebatadas do chão pelos cornos de um touro. No entanto, cabe a cada um de nós definir onde termina o nosso lado animal e onde achamos que deve começar o nosso lado humano. É este último que nos permite expressar compaixão e amor pelo próximo. 

Sinceramente gosto mais desse lado humano e tento, em todas as ocasiões, combater o meu lado animalesco. E vocês?

sexta-feira, 7 de março de 2014

"Leitores como Nós" #2 - Tomás Magalhães

"Leitores como Nós" é a nova publicação semanal do Baú dos Livros. O objectivo é dar a conhecer diferentes visões do mundo da literatura, dadas na primeira pessoa, pelas pessoas que vamos seleccionando. Só temos um critério de admissão: gostar de ler! 

 
 Esta semana, o Baú dos Livros foi saber o que pensa Tomás Magalhães sobre o mundo dos livros:

Desde muito cedo, um entusiasta das causas animais, Tomás Magalhães é hoje estudante do 4º ano de Medicina Veterinária na UTAD (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro). É um grande fã de cinema e de séries, mas não dispensa a companhia de um bom livro! Estar rodeado da família e dos amigos é algo a que dá grande importância, pelo que procura construir relações fortes e duradouras. Viajar é outra das suas paixões, ansiando sempre pela próxima viagem. Um jantar de amigos ou uma sessão de cinema estão entre os seus programas favoritos.


BL: Lembras-te do teu primeiro livro sem imagens? Qual foi?
TM: Não me consigo lembrar qual foi o meu primeiro livro sem imagens, porque durante muito tempo, numa primeira fase da minha vida, gostava de ler banda desenhada, começando pelas famosas revistas da Disney.
Depois, com o tempo, fui introduzido aos tais “livros sem imagens” por intermédio da escola e desde aí fiquei rendido à “experiência de ler”.

BL: Qual o livro que mais te marcou e porquê? É o teu livro favorito? Se não for, então qual é?
TM: São duas questões difíceis de responder…Vários livros me marcaram de diferentes maneiras através das suas histórias e respectivas mensagens subjacentes, pelo que não consigo nomear aquele que mais me marcou. Mas se tivesse que escolher um dentre esses que me tocou de maneira mais especial escolheria o livro “Uma amiga como Shiva”, que relata a história de uma cadela que se tornou uma verdadeira amiga e um pilar forte na vida de um rapaz de seis anos enquanto este atravessava uma fase de vida muito complicada, a luta contra um cancro.
Relativamente ao livro favorito, este é “A Rapariga quesonhava com uma lata de gasolina e um fósforo”, o 2º livro da trilogia “Millennium”. O primeiro livro desta saga já me tinha despertado muito interesse, principalmente de metade para o fim em que me deixou literalmente “agarrado”, mas o segundo foi aquele que mereceu a minha maior adoração. A trama é muito intensa e desenrola-se de uma forma cativante forte (e por vezes mesmo cruel e fria), despertando no leitor várias sensações e opiniões. A personagem principal é uma pessoa muito completa, repleta de conflitos interiores, de uma inteligência que sobressai em cada acção que realiza e de uma perspicácia e ironia que eu aprecio. Além disso possui inúmeros defeitos e partes menos boas, pois como todos nós, é imperfeita, o que permite ao leitor rir, sofre, torcer e acreditar junto dela ao longo das várias páginas que constituem esta obra de Stieg Larsson. É um livro que aconselho a qualquer pessoa que gosta de ler!!!

BL: Que géneros preferes?
TM: Gosto um pouco de tudo, mas tenho uma “queda” para o suspense / thriller. Adoro um bom policial, não fosse a minha escritora preferida a Agatha Christie, a “rainha do crime”.
 
BL:Tens algum hábito de leitura estranho?
TM:Penso que não tenho nenhum hábito de leitura estranho...apenas pego num livro e rapidamente me “embrenho” na sua história...e que bom que é!!!

BL: Qual a melhor adaptação cinematográfica de um livro que já viste?
TM:A adaptação cinematográfica que mais gostei foi, sem dúvida, aquela que foi feita dos livros da saga “Os Jogos de Fome”. Os filmes, tal como os livros, estão repletos de acção, de carga emotiva e de tamanha força que não deixam nenhum espectador/ leitor indiferente. Senti-me suspenso a cada virar de página e encontrei nos filmes uma sensação muito semelhante, como se conhecesse aquelas personagens diante de mim e como se de algum modo fizesse parte do que estava acontecer.
Um outro livro que penso ter sido muito bem adaptado à 7ª arte é “A Vida de Pi”, com efeitos visuais incríveis e muito fiel ao enredo que lhe está na base.

BL: Se pudesses escolher uma personagem a encarnar qual escolhias e porquê?
TM: Identifico-me quase sempre com algum traço de personalidade numa ou mais personagens dos livros que leio. Apesar disso não gostaria de encarnar nenhuma, até porque não me estou a imaginar numa arena como tributo a lutar pela minha sobrevivência, nem envolto numa investigação criminal!!!!
Cada um tem a sua história, e nós fora dos livros também temos a nossa! A “vida real” já é um verdadeiro livro que abarca todos os géneros literários!
 
BL: Qual é aquele escritor que não suportas? Quais as razões?
TM: Sem dúvida alguma, José Saramago. Não me identifico minimamente com a sua visão do mundo, nem com a sua forma de escrita. Infelizmente foi me imposto ler uma obra dele no 12º ano, mas terá sido o único e último livro que lerei deste autor. A maneira como descreve as situações e as convicções que coloca nas suas frases vão contra aquilo que aprecio e que procuro num livro. Sem querer ofender aqueles que gostam do seu estilo de escrita (os quais respeito), acho que este escritor jamais deveria fazer parte do leque de autores com obras de leitura obrigatória no ensino, porque definitivamente não escreve em “bom português”. apesar de ter sido galardoado com o Prémio Nobel da Literatura (algo que também não consigo compreender).
 
BL: Qual o pior livro que já leste?
TM: Essa é outra questão para a qual não consigo encontrar resposta. Já li vários livros que não me agradaram tanto e outros que acabei por desistir por não encontrar neles nada com que me identificasse. Contudo, acho importante ler de tudo um pouco para definirmos as nossas preferências e enriquecermos a nossa opinião. Nem sempre podemos gostar dos livros que lemos e nem isso seria bom, porque assim podemos dar valor àqueles que de facto são especiais e que nos marcam.
           
BL: O que achas que poderia fazer as pessoas lerem mais?
TM: Já existem muitos estímulos à leitura e iniciativas nesse sentido, por isso cabe às pessoas sentirem essa vontade para ler. Neste momento vivemos numa sociedade em que as pessoas optam por ocupar o pouco tempo livre que têm em programas mais fáceis ou que não exigem tanto do intelecto. Isto acontece, porque o emprego e as preocupações quotidianas já absorvem a maior parte da nossa atenção e paciência. É claramente mais fácil ligar a televisão e ver um filme ou uma série aconchegados no sofá (eu próprio muitas vezes opto mais por este cenário), mas acredito que ler “cultiva-nos” a mente e traz inúmeros benefícios psíquicos!!!
            De qualquer forma, se pretendesse estimular alguém a adquirir hábitos de leitura ou a ler mais, optaria por conduzir conversas pautadas pelo meu interesse e entusiasmo por ler e que permitissem transmitir a ideia de poder que os livros têm em nos despertar tantas sensações.
 

E esta foi a nossa segunda entrevista! O Baú agradece ao Tomás e convida aqueles que gostariam de participar, a contactarem-nos via email, ou página Facebook!

quarta-feira, 5 de março de 2014

"As Noistes das Mil e uma Noites" - Naguib Mahfouz

"O romance "As Noites das Mil e uma Noites", de Naguib Mahfouz, começa precisamente onde termina o clássico "As Mil e Uma Noites"."

Se eu tivesse lido isto, antes de começar o livro, teria poupado imenso tempo; como não tinha lido "As Mil e Uma Noites", não percebi metade daquilo que estava a ler.

Este é um livro que está dividido em várias histórias, de diferentes personagens, mais ao menos interligadas entre si, e que (suponho eu) estão ligadas ao clássico acima referido. Nestas histórias, as personagens vêem a sua moralidade ser colocada à prova pelas várias tentações a que são expostas, quer através de génios, de mulheres misteriosas, ou de objectos mágicos. Misturando a realidade, com o fantasia que caracteriza as histórias árabes, as personagens fazem-nos reflectir sobre o eterno dilema da natureza humana - seguir o bem, ou o caminho, sempre mais apelativo, do mal.

Esta será talvez das minhas opiniões aquela que é menos exacta; não gostei do livro. Achei que as histórias eram aborrecidas, e que toda a linguagem era demasiado religiosa e cortês. Talvez no mundo árabe as pessoas falassem mesmo assim; talvez se eu tivesse lido "As Mil e Uma Noites", a minha opinião fosse diferente, por conseguir fazer a ponte entre as duas narrativas, reconhecendo subtis mensagens. Como tal, terei de o ler, antes de definir que esta é a minha opinião final.


domingo, 2 de março de 2014

Vamos "spikar" de Línguas

Em tempos tive um namorado com quem falava muito em inglês. Éramos os dois portugueses, mas por alguma razão metíamos o inglês no meio das nossas conversas. Talvez fosse porque víamos muita coisa em inglês na televisão, ou talvez porque achávamos que éramos melhores que os outros a falar o nosso "fabulous english". 

De qualquer das formas, não me apercebia que o fazia assim tanto, até deixar de ter conversas com ele. Essa mania passou-me, mas ainda agora, dou por mim a praguejar em inglês, ou a dizer expressões do género "WTF, ou "OMFG", mas no fundo, acho que o faço para evitar libertar a minha fúria com aquilo que realmente quero gritar - um belo de um P**a que P***u, ou um C*****o. 

Dei por mim a pensar nisto, depois de ter visto o palestra de uma mulher árabe, que defendia a importância da preservação da nossa língua materna. Segundo esta senhora, é essencial sermos bons na nossa própria língua antes de partirmos para a escrita, ou mesmo fala, de outros idiomas, sob o risco de perdermos a nossa individualidade. Não foi um discurso radicalista, mas antes realista. A verdade é que a nosso língua materna é aquela que ocupa o nosso pensamento, se não a dominarmos, como vamos fazê-lo noutras línguas, sem perdermos a nossa identidade?


Mexe comigo quem, por opção, escolhe escrever numa língua que não a sua, antes de dominar a própria língua; é quase como se estivesse a renegá-la, por não ser boa o suficiente, por ser algo de que se tem vergonha. 

Claro que existem razões válidas para se escrever em inglês, como chegar a um maior público, mas acredito que é sempre possível conciliar as duas, quer estejamos a falar de um leitor, ou de um escritor. 


sábado, 1 de março de 2014

Tablets e outras tecnologias zen

Não sou uma pessoa extremista, mas também não sou uma deslumbrada; acredito que as novas tecnologias são uma excelente ferramenta, mas que também podem ser uma excelente forma de alienação. 

Estava sentada a conversar com uma das minhas amigas, no átrio do pólo universitário onde tenho aulas, e reparei que toda a gente à nossa volta, estava vidrada no telemóvel, ou num desses tablets, mesmo aquelas que estavam com outras pessoas...Já não chega o tempo que passam no Facebook, quando estão em casa, agora também estão no Facebook, ou a jogar Candy Crush, ou wathever, quando estão cá fora. É algo que dá que pensar e que acaba por dar razão a todos aqueles que continuam a usar apenas o seu Nokia velhinho. 

Não me interpretem mal. Eu gosto de ir espreitar o Facebook a meio de uma aula aborrecida, gosto de tirar umas fotos engraçadas com o telemóvel e de ler no Kindle (principalmente, porque leio à pala), mas começa a ser assustador, a forma como as pessoas se deixam viciar tão facilmente. Já para não falar daquelas que estão sempre a queixar-se que não tem dinheiro, mas que aparecem com Tablets topo de gama, se for preciso, quando nem cuecas sem buracos têm.

Também não percebo, ou não quero perceber, a quantidade de crianças, com cerca de dois anos de idade, que em vez de um peluche, andam com um "tablet" nas mãos. Em minha casa, só me deixavam jogar uma hora de videojogos de cada vez, e só ao fim de semana. Eu era incentivada a brincar lá fora, a brincar com os meus primos, os meus vizinhos, com o meu irmão (embora não resultasse muito bem); hoje parece que os tablets são vistos como uma bela forma de manter o puto calado e sossegado - Nova Chupeta Sensação! 



Quem sou eu para recriminar os pais que compactuam com isto. Se calhar as exigências profissionais das pessoas, levam-nas a este tipo de comportamento, para com os filhos. Pois bem - não tenham filhos, se não estão prontos para abdicar de tempo para eles - Enquanto os Tablets podem ser uma moda, os filhos certamente que não deveriam ser.