segunda-feira, 23 de novembro de 2020

A Arte e o Ser Humano


Os livros, a música, o teatro, o cinema; a Arte - é o espelho da alma humana e do que ela encerra. Temos a Arte como um dado adquirido. A Arte e os artistas não são um dado adquirido e esta Pandemia veio realmente expor muitas das suas fragilidades. A sensibilidade da sociedade pode ser avaliada pela forma como valoriza e protege os seus artistas, o espelho do sentimentalismo e dos sonhos. 

Hoje publico esta música da Marina. Talvez ela em particular não esteja a passar por grandes tormentos, mas queria apenas partilhar o seu lindo poema sobre o que significa ser humano e como essa condição é independente da profissão, estrato social, fronteira, raça, ou etnia. Seria tudo tão mais fácil, se todos conseguíssemos ver o que temos em comum nesta crise em vez de estarmos a encerrar-nos cada vez mais nos nossos casulos de egoísmo. Completamente sufocados pela ansiedade e preocupação...

Estou grata pel'Arte e pelos artistas. 

Obrigada.

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

"Dentro do Segredo" - José Luís Peixoto


Há uns meses atrás, no Podcast de Bernardo Mendonça, "A Beleza das Pequenas Coisas", ouvi a entrevista do escritor José Luís Peixoto. O seu nome não me era de todo desconhecido e não o será, para todos os que acompanham a esfera literária portuguesa (além disso, a cadelinha dele costuma frequentar o meu local de trabalho *FunFact!*). Na altura fiquei fascinada e muito curiosa com as histórias que contou acerca desse mundo secreto que é a Coreia do Norte e de como, já por duas vezes, tinha estado nesse país. 

Este ano, na minha segunda ida à Feira do Livro de Lisboa, desta vez em contexto apocalítico, trouxe um exemplar de "Dentro do Segredo". Mergulhei imediatamente na sua leitura e fiquei realmente surpreendida pela positiva.

Ainda não explorei a narrativa ficcional de José Luís Peixoto, mas "Dentro do Segredo", escrito na primeira pessoa, apresenta uma linguagem sem grandes floreados. A escrita é simples, mas cativante e desde a primeira página fiquei rendida. 

Há alguma coisa nele que me faz lembrar a forma como Murakami escreve, ou talvez fosse a solidão de um homem associada a estar num país ditatorial, como a Coreia do Norte. As personagens principais de Murakami tem também esse sentimento persistente de solidão. Em Dentro do Segredo, tive sempre a sensação de que José Luís Peixoto estava completamente só, num mundo completamente à parte. Porque a Coreia do Norte está realmente, completamente à parte. 

O levantar da cortina, para um povo tão enigmático foi fascinante. Perceber alguns dos costumes, as suas dificuldades e misérias e a forma obsessiva como tudo é político e tudo são regras e protocolos torna-se a certa altura asfixiante. O Líder é Deus. Por mais que tente comparar esta com as outras ditaduras, como a que fez parte da nossa própria história, ou como as ditaduras sul americanas, não encontro pontes. A Coreia do Norte de José Luís Peixoto, assemelha-lhe mais a um universo distópico, incomparável.

Estou habituada a ler histórias sobre personagens  que descortinam as injustiças e crimes e que se insurgem contra ditadores. Estou habituada a estar num dos extremos do segredo. Estar simplesmente Dentro do Segredo, sem fazer juízos ou tomar partidos, é difícil e solitário, mas de certa forma este livro consegue isso.

Quando terminei esta leitura, não pude deixar de me perguntar o que se esconde por detrás do aparente respeito e veneração do povo coreano pelo seu Líder. Onde estão as almas rebeldes? Haveria alguma réstia de espírito rebelde na guia turística, que acompanhava o grupo de turistas desta história? 

Para meu próprio conforto, gosto de acreditar que sim.  



sábado, 7 de novembro de 2020

Goodbye Facebook

Num dos raros momentos em que ligo o PC, o impulso já não é o mesmo. Já não primo imediatamente o botão do Facebook, como se na verdade essa fosse a minha página inicial principal. Quando acordo de manhã, já não pego no telemóvel para ver o Facebook, o Instagram, o Gmail e novamente o mesmo loop. 

Fazer delete no Facebook era algo que ambicionava há muitos meses (ou anos!?), mas sucessivamente ia inventando desculpas, que achava plausíveis: a página do Baú dos Livros; a página do negócio dos meus pais; o grupo dos veterinários; os meus amigos e familiares...mas a verdade é que eram apenas desculpas para justificar um vício. 

O Facebook esteve na minha vida desde 2010. Estive lá, quando toda a gente estava obcecada com o "FarmVille", depois vieram as selfies, as conversas com os amigos nos comentários das fotos de perfil, as sucessivas modas e reviravoltas, a obcessão pelos "gosto" e pelas partilhas...Foi divertido durante uns tempos. A nível social era uma ferramenta interessante; era possível, por exemplo, descobrir traições e cusquices meramente pela observação do padrão de ação das pessoas nas redes sociais (e ainda é...). No entanto, para mim o tempo do Facebook acabou. 

O WhatsUp veio permitir a interação com amigos e familiares à distância e com uma maior privacidade. Além disso, neste momento o ambiente no Facebook está tão tóxico e insustentável, que sempre que lá ia ficava a sentir-me zangada ou incomodada com a idiotice de muita gente. Entretanto, parece que passados 10 anos, o pessoal das gerações mais velhas descobriu a plataforma e comportou-se como se pudesse dizer e fazer aquilo que nunca pôde na vida real - publicar imagens completamente impróprias (será que sabem que aquilo está público?), ser mal educados e partilham pormenores que ninguém quer saber, ser intolerantes e donos de todo o saber. Esse tipo de comportamento minou completamente o Facebook e já não é característico só dessas gerações. Está disseminado um pouco por todo o lado. 

Em adição ao que eu acho sobre a plataforma, vi há umas semanas o documentário/drama chamado " O Dilema das Redes Sociais". Recomendo que vejam. Foi sem dúvida um empurrão para a decisão de diminuir a minha presença online:



Neste momento ainda não consegui deixar o ciclo vicioso de pegar no telemóvel de manhã e alternar entre os sites dos jornais, o Gmail e a plataforma de Podcasts, mas estou a tentar. Para já, consegui a pequena vitória de passar menos tempo no telemóvel. Ganhei tempo para fazer coisas que realmente são produtivas, como ler mais, aprender mais com os Podcasts que ouço, estar mais com as pessoas e deixar o que não é importante e os dramas dos outros de fora.

domingo, 1 de novembro de 2020

O Estado das Coisas - uma carta aberta ao Estado português.

Exmos Srs e Sras,

Desde Março deste ano que o mantra na comunicação social e do vosso discurso se repete - a pandemia é grave e é perigosa; protejam-se! Este mantra vende bem durante uns tempos e serve para esconder e justificar muitas ações, mas depois de 6 meses, sem resultados positivos, precisa de uma reformulação. 

Ninguém se consegue proteger de uma pandemia apenas com máscara, gelinho e bom senso, se o Estado/vocês não tomarem medidas à séria. Não falo de medidas como as atuais - fechar concelhos, limitar o número de pessoas na rua e em casa, limitar os horários dos estabelecimentos, etc etc. Essas medidas apenas vão adensar o problema social que se está a descontrolar - o desemprego vai aumentar (mais), os donos dos estabelecimentos vão-se endividar (mais) e toda a gente vai ficar mais pobre, mais sozinha e mais infeliz. Além disso, todos sabemos que os portugueses são peritos em contornar regras, pelo que os nossos agentes da autoridade vão ter de se esforçar mesmo muito, ou começar a assobiar para o lado, como aconteceu na observação das ondas na Nazaré.

A vida tem de continuar e o medo não pode ser a base de uma sociedade. É aqui que deveria entrar a vossa ação em conjunto com a dos media - todos os dias os portugueses deveriam ser informados de como o sistema nacional de saúde (SNS) está a ser reorganizado e reforçado e de como isso é a prioridade. Devíamos ser informados do que está a ser feito para diminuir a densidade populacional dos transportes públicos e quais as estratégias para combater o crescente desemprego. Nenhum português deveria precisar de se preocupar com a negligência face ao controlo das suas patologias crónicas, do comprometimento dos atos de medicina preventiva, ou do adiamento de procedimentos cirúrgicos, pelos quais esperaram meses.  Nenhum português deveria ter de se preocupar com o que fazer, caso o infantário, ou a escola dos seus filhos encerre e deixe de haver quem fique com eles.

Mas os Exmos senhores não falam de soluções concretas. Falam do vírus e falam com medo. Seguem os passos do resto da União Europeia, que se recusa a ter a coragem necessária para fazer reformas sociais JÁ! Tudo é lento, burocrático e pandémico. 

Infelizmente a história é cíclica. No final de tudo isto, quando perderem as próximas eleições legislativas, e os partidos populistas e extremistas ganharem uma maior representatividade no parlamento, espero que saibam que foi por culpa da vossa inércia e cobardia para seguir um caminho diferente dos restantes países do mundo Ocidental. 


Atenciosamente,

Luisa Alves