quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

"Para Sempre Alice" - Lisa Genova

Este é mais um daqueles livros que, excepcionalmente, li depois de ver o filme. E ainda bem que o fiz, porque oferece-nos uma perspectiva ligeiramente diferente daquela que o filme nos proporciona. Enquanto no filme senti que estava a ver a luta diária de uma mulher extremamente intelectual, assombrada pelo terror que deve ser perder o controlo de toda uma vida, no livro senti que era de facto essa mulher. Senti acima de tudo o preconceito que a sociedade tem para com as pessoas portadoras de doença "mental" e percebi o objectivo que a autora quis alcançar - o de informar e desmistificar alguns mitos sobre a demência.  

A força da história de Alice, reside precisamente nesse ponto.  Contudo, o desejo tão evidente de autora em passar informação, acaba por de certa forma prejudicar a história. A certa altura parece que estou a ler partes de um qualquer livro do Dan Brown, em que somos bombardeados com informação demasiado detalhada.

Penso que foi por esta razão que, apesar de ter uma premissa promissora, a nível de escrita não me fascinou. Estava à espera de algo ligeiramente melhor e menos factual. 

Apesar de tudo, o que mais adoro nos livros é a capacidade de eles nos fazerem ver as coisas de pontos de vista diferentes; fazerem-nos "sair da bolha". Faço parte desta sociedade que olha as pessoas com doenças mentais de lado, tudo porque não conheço essa realidade. Como muita gente, reajo fugindo do desconhecido. É mais fácil do que tentar compreender, tentar integrar. Sem dúvida que este livro foi escrito com o intuito de tentar alertar as pessoas e desmistificar algumas crenças que se criam à volta do significado de ter Alzheimer, ou demência. Não é uma obra-prima literária, mas recomendo-o a toda a gente.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Figo

É incrível como a vida é imprevisível. Há duas semanas atrás estava eu toda empolgada com ir morar sozinha, uma semana depois o Figo morre. O Figo era o meu gatinho de quase 13 anos. Como tinha referido, num post anterior, ele tinha sido diagnosticado com um problema renal e um eventual problema cardíaco. Estávamos a fazer as adaptações necessárias. Alteraramos a dieta dele e já estávamos a dar-lhe medicação diária há 15 dias. Tudo levava a crer que, apesar de doente, ainda teríamos mais tempo; anos, imaginava eu. Por isso imaginem o nosso choque, quando vimos o nosso menino morrer em segundos.

Todo o momento pareceu irreal. Ele tinha acabado de comer e esteve no colo e lá andava feliz até que ouvimos o miar mais estranho que alguma vez ouvi, de aflição. Já não houve nada a fazer e senti uma impotência horrível. Estudei 6 anos veterinária, e não houve mais nada que eu pudesse fazer para evitar aquele momento. 

Lembro-me quando o fomos buscar. Tinha 14 anos. Era o Verão antes de entrar no secundário. Estava preocupada por não achar muita piada a gatos brancos e poder não gostar dele. Que parva! Logo que chegamos à esplanada, onde nos íamos encontrar com a criadora, foi amor à primeira vista! Ele meteu a cabeça fora da caixinha de cartão em que vinha e lambeu-nos os dedos. Sempre foi um beijoqueiro aquele gatinho! 

Desde esse dia foi o menino da casa. Sempre muito comilão e companheiro. Sem nunca miar como um gato normal, mas sempre pronto a pedir mimo e a dar beijos. Mesmo com a chegada das outras gatinhas, sempre foi muito permissivo e carinhoso. Como vou ter (tenho!) saudades daquele pelinho de algodão branco e dos beijinhos pela manhã.

A única coisa que me consola é saber que não houve um único momento em que ele não soubesse como gostávamos dele. Mesmo quando morreu, estava rodeado pelos seus humanos, ainda que todos eles chorões e incapazes de evitar o inevitável. O fim foi rápido e ele não sofreu.

Agora está algures no céu dos gatos, quem sabe até se não reencarnou em algum outro ser vivo espectacular. Talvez num pequeno pónei, como eu gostava de lhe chamar, ou numa princesa gorda... Gosto tanto de acreditar nisso nestes momentos menos bons, mesmo que tudo não passe de fantasias imaginadas.