Nunca gostei muito das aulas de Português. Talvez porque sempre dei muitos erros ortográficos, ou porque simplesmente as obras escolhidas não me cativavam o suficiente. Quem sabe se a culpa não era apenas da forma como as aulas eram leccionadas. Independentemente da causa, houve um período em que gostei das aulas de Português – quando lemos os contos de Sophia de Mello Breyner, “A Fada Oriana”, e “O Cavaleiro da Dinamarca”. Por essa altura, devia estar no 5º ou 6º ano e lembro-me dessas aulas passarem muito depressa. Foi pela magia desses contos, que resolvi reiniciar os “Especiais” com esta autora.
Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu a 6 de Novembro de 1919 no Porto. Era filha de Maria Amélia de Mello Breyner e de João Henrique Andresen, sendo a sua origem dinamarquesa, pelo lado paterno (o que explica, em parte, o nome estranho). A sua mãe fazia parte da aristocracia, filha do Conde de Mafra, Tomás de Mello Breyner (médico e amigo de D.Carlos).
A sua infância foi passada entre a Quinta do avô dinamarquês, “A Quinta do Campo Alegre”, que hoje se transformou no Jardim Botânico do Porto, e a casa de Verão da família, na praia da Granja. Muito do seu gosto pela natureza e pelo mar, bastante evidente nos seus contos e poesia, foi inspirado pelas recordações aqui experienciadas.
"Tenho muita memória visual e lembro-me sempre das casas, quarto por quarto, móvel por móvel e lembro-me de muitas casas que desapareceram da minha vida (…). Eu tento «representar», quer dizer, "voltar a tornar presentes» as coisas de que gostei e é isso o que se passa com as casas: quero que a memória delas não vá à deriva, não se perca".
A autora permanece no Porto até aos 17 anos, altura em que se muda para Lisboa, com o objectivo de seguir estudos superiores em Filosofia Clássica. Apesar de não chegar a terminar o curso, a veia helenista e a influência clássica sempre permaneceram como fonte de inspiração, para muita da sua obra literária.
A escrita da poesia começa, oficialmente, aos 20 anos, sendo os seus primeiros versos, publicados em 1940, na revista “Cadernos de Poesia”. Participa também noutras revistas e, em 1944, o seu pai paga a publicação de 300 cópias do seu primeiro livro, simplesmente intitulado de “Poesia”. Este primeiro livro inclui poemas escritos por Sophia, com a tenra idade de 14 anos, onde já estão presentes alguns dos elementos característicos da sua obra, como o mar, a ligação entre o Homem e Natureza, os deuses pagãos e a História.
Em 1946 casa com o jornalista e advogado Francisco Sousa Tavares, monarquista e activista anti-fascista. Torna-se uma das figuras mais representativas no apoio ao movimento monárquico e na denúncia do regime salazarista, sendo a poesia uma das suas principais armas.
Foi mãe de cinco filhos, um dos quais também escritor de renome (Miguel Sousa Tavares), e foi deles que veio a inspiração para a escrita dos seus contos infantis, hoje tidos como clássicos da literatura infantil portuguesa.
Em 1964 recebeu o Grande Prémio de Poesia pela Sociedade Portuguesa de Escritores pelo seu livro “Livro sexto” e, já depois da Revolução de 25 de Abril, foi eleita para a Assembleia Constituinte, em 1975, pelo círculo do Porto numa lista do Partido Socialista.
Além do seu trabalho enquanto poetisa e contista, realizou também importantes trabalhos de tradução de obras de autores clássicos, como Dante Alighieri, Eurípedes e Shakespeare.
Em 1999, recebe o Prémio Camões e, em 2003, o Prémio Rainha Sofia de poesia Ibero-Americana, sendo a primeira vez, que um português recebe este prestigiado galardão.
Os seus últimos trabalhos foram publicados em 2001.
A escritora morre a 2 de Julho de 2004, com 84 anos, sendo o seu corpo trasladado para o Panteão Nacional a 2 de Julho de 2014.
Deixa-nos como herança um vasto leque de poemas e de contos, que com certeza entraram no coração de muitos de nós.
Fontes:
-www.portoeditora.pt/campanhas/sophia-de-mello-breyner-andresen
-www.portaldaliteratura.com/autores.php?autor=296
-storberose.blogspot.pt/2012/06/pursuit-of-real-poetry-of-sophia-de.html
-pt.wikipedia.org/wiki/Sophia_de_Mello_Breyner_Andresen