segunda-feira, 9 de março de 2015

"Heidi" - Johanna Spyri

Finalmente encontrei uma forma fácil e eficaz de continuar a ter tempo para ler. Essa forma eficaz chama-se "Audiobook"! Pois é, depois de vinte e cinco anos de existência, quinze dos quais dedicados aos livros, cedi e experimentei. Não podia ter ficado mais satisfeita. Os audiobooks permitem-me "ler" enquanto faço o trajecto de vinte minutos Casa-Escola,  enquanto arrumo o quarto, ou quando faço o jantar/almoçoTem também a vantagem de me ajudarem a treinar o "listening", visto que não suporto as versões brasileiras que por aí andam e são raras as versões em português de Portugal.

Escolhi este livro de Johanna Spyri, tornado célebre, no nosso tempo, pela adaptação sob a forma de anime realizada por  Isao Takahata e Hayao Miyazaki, em 1974, por ser um livro destinado a crianças. Sabia por isso que a linguagem não seria muito complexa, sendo uma forma não muito intimidante de iniciar esta aventura pelo mundo dos audiolivros. 

"Heidi" foi escrito em 1890 e tornou-se num êxito da literatura suíça e da literatura infantil a nível mundial.  Originalmente foi publicado em duas partes e narra as aventuras de uma rapariguinha de cinco anos, Adelaide (Heidi), criada pela tia depois de ter ficado orfã e que é reencaminhada por esta para os Alpes suíços, onde irá ficar ao cuidado do Avô, um homem temido na região pelo seu passado obscuro. 

Cedo somos deslumbrados pelas descrições maravilhosas das paisagens, das casas e das personagens, feitas sob o olhar inocente e bondoso de Heidi. Esta inocência está presente ao longo de todo o livro o que certamente o tornou tão atractivo para mim, jovem adulta, nostálgica por natureza. 

Foi interessante ver como Heidi vai crescendo e aprendendo acerca do mundo, sem no entanto alguma vez ver maldade nas pessoas. Penso que acaba por ser uma utopia uma criança alguma vez crescer assim. Talvez no passado e naquele local fosse possível. Ainda assim, Heidi parece-me ter apenas o melhor de todas as crianças concentrada nela mesma - a criança perfeita, inocente e bondosa. Contudo, a escritora, apesar de não lhe dar defeitos, consegue não a tornar odiável pela sua perfeição. Muito pelo contrário.  Se ao menos todas as crianças fossem assim...

Não sou uma pessoa minimamente religiosa. Pode dizer-se que tenho fé (mas não sei bem em quê). Mas, a parte que mais me marcou neste livro foi a interpretação que Heidi faz acerca de Deus e da religião. A menina acaba por concluir, por ela mesma, que Deus escreve direito por linhas tortas. Ou seja, após passar por momentos desagradáveis, Heidi descobre que todos esses momentos foram necessários, porque um dia eles passam e chegamos a um local onde somos novamente felizes, muitas vezes por causa desses mesmos momentos menos bons. Se alguma criança seria capaz de concluir algo assim na vida real, não sei. Mas nós adultos muitas vezes parecemos esquecer-nos disso. Parecemos esquecer-nos de ter fé e de sonhar. 

 

1 comentário:

Ivonne Zuzarte disse...

engraçado, penso o mesmo. Estava aqui a ver que livro iria partilhar no Dia do Livro Infantil e lembrei-me logo de Heidi :) Li há muitos anos, quando era miúda, nunca escrevi uma opinião, acho que está na altura de o fazer.