Será que daqui a uns meses, quando Passos Coelho encabeçar o novo governo, os mesmos anti-socráticos de hoje que culpam o primeiro-ministro pelo défice, pela crise económica, pelo terramoto no Japão ou pela subida do desemprego, não se irão desfazer em elogios pelo então ex-primeiro ministro e dizer, Ah, o Sócrates é que a sabia toda?Será que depois de Passos Coelho ser deposto e do PSD ser sucedido pelo PAP (Partido Anarquista Português), os anti-passistas, não irão também olhar para trás com saudade, e dizer, Ah, o Passos é que a sabia toda?
Deixando de lado suposições e invenções, quero falar do saudosismo de que padecem os portugueses, e digo dos portugueses porque só posso falar da realidade que conheço, ou melhor, só quero falar da realidade que conheço, porque desde 74 que posso falar do que bem entender (Tecnicamente só desde 89 porque foi quando nasci e, ainda mais tecnicamente desde 91, quando comecei a falar, se a memória não me falha). O português que conheço vive no ontem e para o amanhã. Não é que haja nada inerentemente mau a esta característica. Não. É só chato.
Claro que estamos a viver uma grave crise económica, que a precariedade é uma constante a todos os níveis, que o futuro se avizinha difícil, mas quem é que já não sabe isso?Parem com as queixinhas! E sim, eu sei que estou a fazer queixinhas dos queixinhas, mas ao fazê-lo estou a incluir-me no lote dos aqueixantes (pessoas que são alvo de queixinhas) o que é muito mais interessante do que lançar queixinhas a torto e a direito, quando se possui um auto-escudo-invisível-imaginário-anti-queixinhas sempre ligado; digo eu.
Por que não, de vez em quando, mas muito de longe a longe, para não se tornar tão chato como as queixinhas, olhar para a nossa realidade e ver as suas coisas boas?
Porque não olhamos para os avanços tecnológicos, por exemplo? Tanto podia estar a escrever este texto com um desktop como com um portátil, ou com um netbook ou com um tablet; podia até escrevê-lo num telemóvel e publicá-lo num blog, ou numa rede social, e saber o que leitores, um pouco por todo o mundo, acharam dele (se bem que preferiria não saber). E podia fazer tudo isto no conforto do lar ou num banco de avião, durante uma viagem que me custaria o mesmo que um farto almoço numa loja de comida rápida, para qualquer ponto da Europa.
Ou então, que tal olhar para o Sócrates e imaginar que em vez de um fala-barato como primeiro-ministro, teríamos um Kadafi no poder. Convenhamos que as suas mentirinhas e enganos não são particularmente agradáveis, mas ditadura, repressão e assassínio em massa não iriam ao encontro das necessidades de um povo de brandos costumes como o português.
Porque é que nunca entro num café e oiço alguém a dizer: “Ah, mas que bela medida esta, do primeiro-ministro” ou “Ui, que estes voos para Madrid estão mesmo baratos”. Porque é que em vez disso oiço: “Ah, o *******(substitua *******pelo insulto da sua preferência) do Sócrates só fez *******(substitua ******* pelo medida positiva que mais lhe agradar) só para enganar o povo”? Talvez seja porque não entro muitas vezes em cafés. Mas também há uma forte possibilidade de as pessoas simplesmente não o dizerem.
E é a essas pessoas que quero fazer um apelo. Parem com as queixinhas! Não porque há coisas boas no mundo, não porque as queixinhas denigrem a imagem do nosso país, não porque temos de pensar positivo; mas porque já chateia.
4 comentários:
É verdade. Mas a culpa não é do povo ou das pessoas, a meu ver.
É o sistema político que não inspira confiança. Como o jogo do poder parece inacessível à maior parte das pessoas, o que podemos fazer?
Queixamo-nos.
Ainda acredito que a queixa é o primeiro passo para a contra-reacção. E o grande benefício da democracia é mesmo podermos reclamar à vontade!
O problema é que, apesar de nos podermos queixar, não ganhamos muito com isso. Queixinhas em massa e organizadas, vulgo manifestações, podem alcançar alguma coisa; insultos à televisão num café não leva a qualquer mudança.
I complain as much as the next man, mas também sei ver que não é tudo negativo. Às vezes variar a nossa visão das coisas ajuda-nos a ultrapassá-las.
Mas um dos exercícios primários da democracia é mesmo esse. Reclamar. Mesmo que depois não se faça grande coisa. E uma simples conversa no café a queixar de algo que está mal pode levar a algo muito maior. Mesmo que essa probabilidade seja de 1%, está lá.
No início do século, os cafés eram os pontos de encontro favoritos da massa intelectual que fervilhava revolução nas suas ideias. Acho que ainda temos em nós esse jeito!
Prática não falta, agora resultados... xD
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