Morte. Uma palavra estranha na minha vida. Nunca tinha perdido nenhum ente querido, nunca tinha presenciado uma morte e nunca havia desejado a morte a alguém. E aqui estava ela. Tão cedo, tão inesperada.
A reacção da minha família perante tal desastre foi a que se esperava. Dor, culpa e revolta. Porquê que num mundo com 6 biliões de pessoas tinha de ser a sua querida e jovem filha a padecer de um acto tão terrível como o assassínio?
Tudo foi feito para encontrar os criminosos. Contudo, foi tudo em vão. Podia ter sido qualquer um. O caso foi arquivado por falta de provas e a vida continuou, como se Eli nunca tivesse existido. Isto porque, no meu país, quando uma pessoa morre a solução é o silêncio. As pessoas evitam tocar no assunto. Evitam partilhar o que sentem. Fecham-se em si mesmas, como se isso fosse a solução. Como se basta-se para apagar a mágoa.
Eu, pelo contrário, não podia esquecer. Estava viva. Talvez não na verdadeira concepção da palavra, mas existia.
O sítio para onde vamos depois de morrermos fisicamente não se assemelha em nada à imagem do Paraíso, que me tinha sido incutida na catequese. Era um local livre de anjos, de um Deus todo-poderoso e de santos. Nada disso existia na minha pós-vida. Sentia-me leve, lembrando-me apenas das coisas boas que tinha experimentado em vida. Lembrava-me dos abraços e beijinhos dos meus pais, das brincadeiras com o irmão, do puré com frango da minha mãe, das aventuras na neve com o meu pai, do som das rolas pela manhã… todos os pequenos e grandes prazeres da vida. Não sentia os anos a passar.
Subitamente regressei, recordando todos os maus e bons momentos. Senti-me assustada, com dores e como se tivesse acabado de sair de uma piscina. Não conseguia ver nada e sempre que tentava falar, um estranho som saía das minhas cordas vocais. Não era a minha voz.
to be continued...
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