Num dos meus posts anteriores referi que o tempo de leitura é proporcional à pouca qualidade de um livro. Estava errada. Depois de ler “O Sonho Celta” cheguei á conclusão de que nem todos os livros têm de ser devorados para serem sinónimo de satisfação. No entanto, alguns, como este, exigem uma leitura lenta para poderem ser apreciados.
“O Sonho Celta” de Mário Vargas Llosa, baseia-se na história do irlandês Roger Casement. Este homem, nascido no dia 1 de Setembro de 1864, teve um papel fundamental na luta contra a escravidão no Congo e na Amazónia, denunciando crimes atrozes realizados contra os nativos destas regiões tropicais. Foi um humanitário, mas também um grande patriota que desejava do fundo do coração a independência do “Eire”, ou se preferirem em inglês, “Irland”. Ajudou a fundar os “Voluntários Irlandeses”, que tiveram um papel preponderante na luta de 1916 (a designada “Easter Rising”), que apesar de ter levado á derrota desta organização, desencadeou por toda a Irlanda uma onda de indignação e revolta. Este seria apenas o início de uma longa luta pela independência finalmente alcançada em 1922. No entanto, apesar do “Sonho do Celta” de ter concretizado, Casement não esteve presente, pois em 1916 havia sido capturado e condenado a ser enforcado por traição contra o império britânico. Muitas foram as personagens célebres que tentaram salvar Roger Casement deste destino cruel. Entre elas encontram-se Sir Arthur Conan Doyle, Edmund Morel e William Butler Yeats.
Este foi o primeiro livro de Llosa que li. Além do conteúdo histórico muito interessante, quer relativamente á luta contra a escravidão, quer em relação á história da Irlanda, a forma como o escritor consegue humanizar uma personagem, que apesar de ter existido, não conheceu, é extraordinária. A sua escrita simples e fluída contribuíram certamente para esta capacidade de humanizar Roger Casement, homem com as suas lutas interiores, os seus traumas e as suas fraquezas, mas também com a sua força e a sua compreensão do dever.
Este é um livro que vale a pena ler, não porque nos vicia, mas porque nos educa e nos torna mais conscientes do quanto a humanidade evoluiu.
(6/7)