sábado, 26 de março de 2016

"The Curious Incident of the Dog in the Night-Time" - Mark Haddon

"The Curious Incident of the Dog in the Night-time", narrado na primeira pessoa por Christopher Boone, um rapaz de 15 anos com algo do género Síndrome de Asperger's (o autor não especifica), é diferente de todos os livros classificados como mistério policial, que já li!

Tudo começa, quando Christopher descobre Wellington, o cão da vizinha, assassinado de forma violenta. Inspirado pelo seu herói, Sherlock Holmes, o rapaz decide descobrir quem foi o autor de tão injusta morte e escrever um livro, enquanto tenta desvendar o mistério. 

Ao longo da narrativa vamos descobrindo a forma singular como o cérebro deste rapaz funciona; a sua incapacidade de compreender e de se relacionar com as outras pessoas, o modo estritamente racional e lógico dos seus pensamentos, as suas rotinas, tudo o que se passa na sua cabeça... Compreendemos como a morte da sua própria mãe, parece não o afectar por aí além, desde que a ordem das coisas se mantenha a mesma. É assim que ele funciona! 

Há passagens que são tão baseadas na lógica, que chegam mesmo a ser cómicas, como a seguinte reflexão que o protagonista faz sobre a religião:

"I think people believe in heaven because they don't like the idea of dying, because they want to carry on living and they don't like the idea that other people will move into their house and put their things into the rubbish."

É também sobre a perspectiva de Christopher, que vamos descobrindo (talvez antes mesmo de Christopher compreender), que a morte de Wellington é apenas a ponta do Iceberg numa série de acontecimentos desencadeados por fortes emoções, incompreensíveis para o rapaz. 

É isso que é tão fascinante e ao mesmo tempo triste em todo este livro - a forma como todos aqueles que amam o protagonista, vêem o seu amor não correspondido. A solidão que parece afectar de forma negativa todos à excepção de Christopher, e a forma como o seu modo de ser afecta tudo à sua volta e o condiciona. 

Ainda assim, em certos aspectos, somos todos um bocadinho como ele. E há uma passagem que relata exactamente aquilo que sinto, quando olho para o céu numa noite estrelada (coisa que faço, especialmente se estou triste):

"And when you look at the sky you know you are looking at stars which are hundreds and thousands of light years away from you. And some of the stars don't even exist any more because their light has taken so long to get to us that they are already dead, or they have exploded and collapsed into red dwarfs. And that makes you seem very small, and if you have difficult things in your life it is nice to think that they are what is called negligible which means that they are so small you don't have to take them into account when you are calculating something."

É um livro que aconselho aos curiosos e aos que procuram alguma coisa diferente do habitual mistério/livro para crianças/adolescentes!

segunda-feira, 21 de março de 2016

Vet Life - Scotland #8 Visita a Perth

No meu segundo fim-de-semana escocês, resolvi visitar Perth. O tempo não estava nada de espectacular, mas aproveitei a boleia de uma amiga, que ia à cidade fazer compras. Preparei uma bela sanduíche, fruta (e bolachas gordas, coff coff...), água e roupa confortável e lá fui à descoberta! 

Perth é a cidade mais próxima de Pitlochry. Situada nas margens do rio Tay, é a capital administrativa do concelho de  Perth e Kinross e do município de Perthshire. Não é muito grande (cerca de 50.000 habitantes), mas foi, em tempos, considerada a capital escocesa, por ser um local de destino da realeza deste país. Para provar esse facto, é aqui que se localiza a "Scone Abbey" (nos arredores da cidade, para ser mais exacta), local onde estaria presente a pedra da coroação, onde os Reis escoceses eram coroados (The Stone of Destiny aka a Pedra do Destino).


Depois de chegar à zona comercial da cidade, onde as grandes superfícies comerciais estão presentes, dirigi-me para o centro da cidade.  A rua principal, "High Street", é a zona mais movimentada da cidade, com montes de lojas e lojinhas, e a entrada para o Shopping da cidade. Resolvi deixar esta vertente mais comercial de lado e segui para o Museu de Arte, na zona norte. 


Pelo caminho, um senhor perguntou-me se era turista. Eu disse que sim e ele disse "Eu também!". Pensei logo, "É AGORA QUE VOU SER ASSALTADA/RAPTADA/VIOLADA/VENDIDA PARA TRÁFICO HUMANO..." e respondi: "De onde?" Ao que ele responde "da Islândia." E depois mais blahblah sem interesse e cada um seguiu o seu caminho. Foi engraçado, mas um pouco random...é estranho, como longe do nosso habitat natural é mais fácil conversar com estranhos (E PERIGOSO! MÁ LUISA! MÁ!).

No museu não desgostei do que vi. É um sitio sossegado e dá para ter uma ideia geral do desenvolvimento da região, assim como do estilo de vida das pessoas ao longo dos tempos. 

Depois de feita a rápida visita, segui para Sul, tendo como destino a Galeria Fergusson. Pelo caminho encontrei o cemitério e tive que parar...eu e a minha tara por lugares mórbidos, mas extremamente bonitos. Um dia prometo fazer um post sobre cemitérios...hoje não.


A Galeria Fergusson foi uma agradável surpresa. Apesar de ter estudado Arte, e de ter tirado uma excelente nota no exame de História de Arte, sou uma terrível apreciadora de coisas artísticas. A minha sensibilidade é inexistente, mas estas visitas que tenho feito na Escócia aos museus (que são grátis, daí eu visitar...), sozinha e com tempo, tem-me revelado algumas coisas que desconhecia, ou que havia encerrado aqui dentro, bem no fundo do meu ser - eu gosto de histórias e, na maior parte das vezes, as obras de arte escondem uma. Mais do que ver o que está à frente dos meus olhos, se me esforçar e fizer o meu cérebro trabalhar, começo a ver aquilo que está por detrás do mero desenho e de toda a tinta.

Foi isso que fiz neste museu e gostei de imaginar as histórias por detrás das obras do pintor John Duncan Fergusson, embora nenhuma delas me tenha feito sentir especialmente emocionada. O homem gostava de mulheres...e as mulheres deviam gostar dele (aqui está, a minha sensibilidade artística em todo o seu esplendor!).


À saída do museu, as senhoras da entrada, que já me tinham perguntado de onde eu era e após ouvirem a resposta responderam, todas contentes, que na semana seguinte iam a Portugal, fizeram-me parar. Perguntaram se por acaso falava espanhol. Ao que eu respondi em tom hesitante, que arranhava qualquer coisa...Elas sacam de bilhetes de comboio e de reservas em hotel e pedem-me para traduzir, visto que elas também iam a Madrid, mas não sabiam se aquilo eram os bilhetes de comboio. Senti-me aliviada, porque por momentos senti o complexo de portuguesinha a abater-se sobre mim, achando que elas simplesmente assumiram que em Portugal se falava espanhol, porque na realidade nós éramos um distrito de Espanha!

Depois de salvar o dia, resolvi aproveitar para visitar a Poundland! Para quem não sabe, aqui nos UK, existe esta cena que é tipo um supermercado com tudo a 1£ (tive que procurar durante 3 minutos o símbolo de libra estrelina no teclado...). As coisas que vendem aqui, são provenientes de lojas/supermercados que faliram, fecharam, ou cujas coisas estão com o prazo de validade muito próximo (whatever...). Estava à espera de encontrar mais coisas de comer, mas ainda assim é um bom local para comprar coisas de higiene pessoal e porcarias para comer, tipo bolachas, chocolates, batatas fritas, massa (não é porcaria...).  


Depois de ter os sacos cheios do que achei que ia precisar para a semana fui embora. E pronto. Em meio dia, vi tudo e fiz compras, e pus-me a andar. Perth é giro e tal, mas é pequeno. Nos arredores há o Scone Palace, mas nesta altura do ano está fechado ao Sabado, e o Huntingtower Castle, mas não me apeteceu lá ir com a chuva que estava.
 

quinta-feira, 17 de março de 2016

Vet Life - Scotland #9 O Momento em que Conheci a J.K.Rowling

O momento em que, por mero acaso, conheci a J.K.Rowling, a escritora da saga que marcou a minha geração, Harry Potter, foi dos mais espectaculares imprevistos da minha vida!

Sabia que a escritora morava algures nos arredores de Aberfeldy, mas foi quando voltávamos do passeio ao Glen Etive, que a cena se sucedeu.   

Já era final da tarde e o sol estava a pôr-se. Estávamos mesmo a passar em frente à casa dela e a minha amiga estava a explicar-me que era ali que ela morava e que tinha comprado todas as casas à volta, para ninguém a perturbar, quando travámos de repente. Foi um travar de repente com chiar de pneus e cheiro a borracha queimada. Apanhei um susto descomunal! Eu, que odeio andar de veículos (Seja ele qual for), porque acho sempre que posso morrer. À nossa frente, pelo meio da estrada, tinha acabado de passar um galgo a correr, que fez com que o nosso condutor tivesse de travar daquela forma. Pouco depois passa uma silhueta de cabelo louro, casaco creme e calças de ganga, que depois de apanhar o seu cão, veio pedir imensas desculpas ao vidro do condutor. 

Não foi preciso muito para perceber, que aquela era a J.K.Rowling em carne e osso. Todos percebemos, mas só eu é que fiquei maravilhada, visto ser a única fã dos livros que viajava no carro.  Depois de arrancarmos fiquei o máximo de tempo que pude a olhar pelo vidro de trás, mal acreditando no que tinha acabado de acontecer....


E foi assim que, depois de alguns parágrafos de incredibilidade, vocês aprenderam que eu só conto disparates e que tanto posso dizer verdades, como depois mentir com quantos dentes tenho. Heis a beleza da internet!

domingo, 13 de março de 2016

Vet Life - Scotland #7 Gordices

Estou sempre a dizer que assim não consigo viver! E é verdade! Há tanta coisa diferente e gorda no Supermercado, que sempre que lá vou nunca consigo comprar só o que está na lista! Vou virar obesa, se não começar a atinar com estes horários e a praticar desporto, quando acordo!

Perco-me sobretudo na secção de chocolates e bolos...não admira que esta gente tenha índices de obesidade tão elevados! Aqui a marca que predomina é uma das minhas preferidas em Portugal - Cadbury - com a diferença na variedade de oferta da marca. Desde brownies, passando pelo clássico chocolate com passas, até aos recheios mais exóticos, como os de oreo, ou menta. 


E é assustador o que a maior parte das pessoas leva no carrinho...montes de batatas fritas, pizzas, hambúrgueres e sopas enlatadas (existe um corredor inteiro só de sopa enlatada)! Tudo pré-feito e quase pronto a comer!

Por outro lado, cá em casa tenho muita sorte com a família que me acolheu. Tenho provado muitas coisas diferentes e boas graças a eles e tem sido uma experiência de intercâmbio cultural muito interessante!  

Ainda não tive coragem de provar o "Black Pudin"...acho que nunca vou ter, mas já provei outra coisa típica - "Haggis". Segundo a Wikipedia, é um prato tradicional da cozinha escocesa e consiste num bucho de carneiro recheado com vísceras, ligadas com farinha de aveia...A versão que provei não incluía o bucho do carneiro. Basicamente era o recheio, em forma de bola, mergulhado num preparado tipo tempura e frito. Foi servido com um molho de arando e vinho do Porto. Adorei o contraste de sabores doce/salgado.

P.S. Se a marca Cadbury estiver interessada em patrocinar o meu blog, terei todo o gosto em provar e avaliar os vossos produtos! É só mandarem para cá os "goodies"!!


 

sábado, 12 de março de 2016

"A Street Cat Named Bob", James Bowen

"A Minha História com Bob", é o nome em português para o livro "A Street Cat Named Bob" de James Bowen. Mais uma vez, as traduções portuguesas no seu melhor!

Este não seria um livro que escolheria espontâneamente. A minha experiência com os "não-ficção" ficou-se por aqueles livros de relatos na primeira pessoa, das mulheres muçulmanas. Leituras que não gosto de recordar, pela pouca satisfação que me davam...Felizmente, existem outros livros bem mais interessantes, com relatos de vidas reais, como por exemplo o fantástico "Sete Anos no Tibete". Mesmo assim, teria bastantes dúvidas antes de escolher este.

"A Street Cat Named Bob", foi sugerido por uma amiga aqui na Escócia (onde quase toda a gente lê!), que me deixou uma montanha de livros para me emprestar durante a minha estadia. Como tenho andado a ler livros para crianças, decidi começar a voltar aos "para crescidos" devagarinho. Pareceu-me uma boa opção começar com este.

James Bowen é um toxicodependente em fase de desintoxicação, sem nenhuma motivação ou ambição na vida. Um dia, por acaso, depara-se com um gato laranja à sua porta. Com o passar do tempo, acaba por adoptar o gato baptizando-o de Bob e é a partir desse dia que a sua vida começa a tomar um novo rumo. 

Gostei bastante deste livro. Não é nenhuma obra prima, mas está escrito de forma muito simples e clara. É muito interessante ver a relação que este ser humano cria com Bob e o modo como este passa a ser o motivo para a sua luta contra a dependência nas drogas. Por vezes questiono-me, do ponto de vista psicológico, até que ponto esse afecto desmedido será saudável para James e o que irá acontecer quando o gatinho morrer, mas no final acho que tudo acaba por se resumir ao "agora". Se resultou para ele, ainda bem. Quem sou eu para julgar a vida e os sentimentos das outras pessoas.

Adorei ver a forma como a ligação entre o humano e o animal se desenvolveu e espero que este livro ajude a desmistificar a ideia de que os gatos são filhos do diabo! Porque não são e só quem tem um é que pode dizê-lo. 

sexta-feira, 11 de março de 2016

Vet Life - Scotland #6 Trilho "Bealach Path"

A Escócia é conhecida pelas suas magníficas paisagens. Cheia de trilhos e percursos, é o paraíso para quem gosta de caminhar, de correr, ou mesmo praticar BTT. 

Como não podia deixar de ser, fiz-me à aventura!

Normalmente não sou pessoa de correr riscos, mas também não sou pessoa de ficar à espera que alguém venha comigo. Por isso, preparei a minha mochila com comida, água, roupa extra e um impermeável. Avisei para onde ia e liguei o GPS do telemóvel. Certifiquei-me de que o céu estava limpo e parti à aventura. 



Decidi começar por um dos oito percursos que existem sinalizados à volta de Pitlochry. Como estava fresquinha, escolhi o de 17,5km - "Bealach Path". Teria de atravessar a maior montanha da região (sem ter de subir ao cume...) - Ben Vrackie!




Os primeiros 5km foram os mais complicados. Muita subida e alguma neve, com lama à mistura. Cruzei-me com alguns montanhistas pelo caminho, com quem troquei respeitáveis saudações, mas houve momentos de completa solidão na montanha. Senti uma grande sensação de liberdade. Lá no topo, com o mundo a meus pés! Ainda gritei um "UHUUUUH!!!!!", mas tive medo de provocar uma avalanche (just kiding...não havia neve que chegasse). Cruzei-me com um esquilo vermelho, rebanhos de ovelhas e muita ave que não sei identificar...finalmente alcancei a civilização, no "National Trust for Scotland", em Killiecrankie.




O local não era mais do que um parque de estacionamento, com um centro de desportos radicais, incluindo "bungee jumping" (a avaliar mais tarde) e um centro histórico relativo à famosa batalha de Killiecrankie, na qual os Highlanders lutaram contra os ingleses. O local ficou famoso pela espectacular fuga de um dos militares ingleses que, no desespero, conseguiu saltar uma distancia de 5 metros, para a outra margem do rio. O local ficou conhecido por "The Soldier's Leap". Na minha opinião aquilo tem menos de 5 metros e de onde observamos não parece assim tão inédito...mas eu observei de longe. 



 
A partir daí o percurso continua pelas margens do rio Tay. 

Quando cheguei à ponte que atravessava o rio, descobri que esta se encontrava fechada, por causa dos danos provocados pelas cheias recentes. Como alternativa tive que seguir até Pitlochry (3,5km) pela estrada nacional. Essa parte da caminhada foi uma pasmaceira e a certa altura tive que recorrer ao impermeável, porque começou a nevar. 


No final completei uma distância de 16km e no dia seguinte as minhas pernas e rabo estavam mortos. Sem dúvida, que este fim de semana vou experimentar outro dos percursos!



 

terça-feira, 8 de março de 2016

Vet Life - Scotland #5 A clínica

O meu objectivo principal, ao escolher o Reino Unido como destino de Erasmus Estágio, foi vir aprender com um povo conhecido pelo seu respeito e amor pela vida animal. Por incrível que pareça, não vim só pela paisagem e para passear!

No tempo em que ainda não existiam muitos programas de televisão sobre a vida dos veterinários, e quando eu andava frustrada com a vida, num curso que detestava, havia  um programa de televisão chamado "Animal Hospital". O apresentador australiano, Rolf Harris, viajava pelo Reino Unido, acompanhando o trabalho diário da RSPCA e de uma série de veterinários. Não digo que tenha sido esse programa que me fez tomar a decisão de sair das Artes e tentar Veterinária, mas desde essa altura que nunca esqueci a forma peculiarmente cuidadosa com que os animais eram tratados. O desejo de vir para o Reino Unido estagiar surgiu dessa pequena curiosidade em ver para crer. 


Por isso cá estou! A meio da primeira semana e já com imensa coisa absorvida! 

A clínica onde estou é a única na vila. Tem tudo o que é preciso para funcionar devidamente e está ao nível, ou melhor, do que alguns dos Hospitais Veterinários em Portugal. Só não é considerada Hospital, porque não está aberta 24 horas/7 dias da semana. Em termos de equipamento tem um mini laboratório, com todo o material para fazermos as análises de sangue e urina; tem uma sala de raio-x e ecografia; uma sala de cirurgia; consultório e compartimentos associados...basicamente está bem equipada. 

Para além desta clínica, existe outra mais orientada para os animais de quinta, que fica a uns 15 minutos de carro. No entanto, aqui em Pitlochry, tenho visto sobretudo casos de cães e gatos e ocasionalmente algumas coisas em animais de quinta. Sinceramente prefiro assim, porque está um frio terrível e não há nada como o conforto do consultório! Além disso, ultimamente tenho descoberto que se calhar vou gostar mais de exercer veterinária em animais de companhia (cães e gatos).

Sim, porque os animais de quinta são muito interessantes enquanto lemos sobre o tema, no conforto da nossa casinha, mas o trabalho de campo não é para qualquer um, principalmente num clima como este (e tem estado calor...)! 


Para além da suprema organização e eficiência que tenho notado por aqui, o horário dos veterinários é um sonho! Entram às 9h e saem às 18/ máx.19 (em dias excepcionais). Para eles isso é sair tarde! Para mim está excelente! Além disso não trabalham aos fins de semana. Há sempre alguém a receber as chamadas de emergências durante a noite e fins de semana, mas faz-lo a partir de casa e as noites vão alternando entre a equipa de vets. Considerando que quando me formar o mais certo é fazer o que ninguém quer - noites, fins de semana, feriados, férias, licenças de maternidade...parece-me uma excelente razão para me mudar e ter alguma qualidade de vida. Não é que eu não queira trabalhar, mas eventualmente vou querer ter uma vida para além da minha carreira profissional!

Outra coisa que devia acontecer em Portugal - Haver bolos e presentes todos os dias! Estou a exagerar um bocadinho...dia sim, dia não estaria perfeito! É o que tem acontecido por aqui! Sempre que vem um vendedor de medicamentos fazer uma palestra, ou falar com os vets, há sempre bolos, sandes, doces...e os clientes passam a vida a trazer chocolates e muitas outras guloseimas! É incrível! E da parte dos representantes das farmacêuticas, é uma excelente forma de marketing!


No geral tem sido uma experiência super boa! Ver os principais problemas por aqui, a forma como as coisas são feitas, aprender novo vocabulário e trocar experiências. Vou contando mais coisas, à medida que for vendo mais!




 

sábado, 5 de março de 2016

Vet Life - Scotland #4 Caça aos Veados em Etive Mhór

O meu primeiro fim-de-semana na Escócia não podia ter começado da melhor forma! 

Às 7 da matina já estávamos (eu e a minha FAT) todos acordados e a iniciar os preparativos para a nossa caça aos veados. Claro que estou a falar no sentido figurado, uma vez que, apesar de a caça ser uma coisa super importante aqui, para mim continua a ser uma coisa medonha e completamente desnecessária. 

A nossa única arma resumia-se a uma máquina fotográfica, que pretendíamos usar para dar uns belos disparos sobre eventuais espécimes que pudéssemos encontrar. O objectivo era encontrar um grupo de veados selvagens que estavam tão habituados à presença de seres humanos, que frequentemente vinham de livre e espontânea vontade comer das nossas mãos.

Saímos de Pitlochry por volta das 9 da manhã em direcção à vila de Aberfeldy, depois de prepararmos a nossa cesta de piquenique, com salada, pão fresco, queijos, frutas e bolachinhas e um delicioso chocolate quente (ou café, para quem quisesse).


O nosso destino era um local chamado Etive Mhor, ou Glen (Vale) Etive. Conhecido local, palco de filmagens de vários filmes conhecidos (007 - Skyfall, o mais recente). Apesar de ser um famoso local, pelas paisagens espectaculares, nada me tinha preparado para o que estava prestes a adicionar à minha lista pessoal dos locais mais bonitos onde alguma vez estive.

A viagem durou cerca de 2,5 horas, com algumas paragens para fotos e afins pelo meio, mas a estrada é super plana e agradável, apesar das mil montanhas à nossa volta. Pelo caminho passamos por algumas aldeias remotas, mas com um aspecto bastante confortável e devidamente equipado com todos os serviços básicos, como é o caso de Killin, na extremidade oeste do Loch (Lago) Tay. 

A paisagem sempre me pareceu linda, mas assim que passamos o cruzamento em direcção a Fort William, as montanhas espectaculares e imensas começaram a aparecer no horizonte. Estruturas naturais que pareciam saídas de desenhos da primária, com a exacta forma que em crianças imaginamos as montanhas. Uma delas baptizamos imediatamente de Pointy Mountain, uma vez que não sabíamos qual o seu verdadeiro nome. Em casa descobri que se chama Buachaille Etive Mòr.



A certo ponto da A82, saímos para uma estrada extremamente estreita, em direcção ao Lago Etive, onde o suposto grupo de veados semi-selvagem estaria. Pelo caminho encontramos um grupo de três fêmeas, das quais nos tentamos aproximar, mas que não pareceram ter muito interesse nas guloseimas que lhes queríamos oferecer, e que acabaram por ir embora. 

Para nossa desilusão, quando chegamos ao fim da estrada, que coincidia com o inicio do Lago, a única coisa que havia era cócó de veado. A eles, nem vê-los. Desanimados, bebemos uma caneca de chocolate quente com marshmallows (que bem que soube, naquele frio terrível...) e iniciamos o caminho de regresso à estrada principal. Poucos metros à frente encontramos três veados macho na berma da estrada e algumas pessoas a tirar fotos e a tentar dar-lhes guloseimas. Saímos entusiasmados e, apesar de eles manterem uma distância segura, foi uma experiência extraordinária estar no meio daquele sítio remoto, com uma paisagem maravilhosa, frente a frente com um animal tão majestoso!

 
À vinda embora, e depois de um piquenique no carro (porque estava muito frio e vento), voltamos para Pitlochry. Pelo caminho passamos pela casa da J.K.Rowling, da qual falarei numa outra altura...


sexta-feira, 4 de março de 2016

Vet Life - Scotland #3 Os Horários e o Clima

Uma das coisas que mais confusão pode fazer a quem chega ao Reino Unido, vindo de um país "latino" são os horários e o clima. 


No meu primeiro dia de estágio cheguei a casa às 18h. O pessoal já se estava a preparar para jantar. Considerando que eu ainda só estava a pensar em lanchar e depois fazer o meu jantar, foi deveras estranho. Às 22:30h já estavam todos na cama.

Não desgosto deste horário. Significa que tenho imenso tempo depois de jantar para trabalhar na minha tese (que ainda não evoluiu muito, desde que saí de Portugal...). Além disso em Portugal já gozavam comigo por às 23h já estar a ir para a cama...

Outra coisa que adoro é o facto de, apesar de ir para a cama cedinho, só ter de estar no trabalho às 9h e do facto de a clínica não estar aberta ao fim de semana. Considerando que em Portugal os veterinários recém-licenciados (e outros) trabalham como escravos a fazer noites e fins de semana, e tudo o que ninguém gosta de fazer, começo a considerar vir trabalhar para aqui... 



O clima também não é tão mau como estava à espera, mas já tive o meu primeiro dia de neve! Ah, e é impossível ir correr de manhã, porque há imenso gelo na estrada de asfalto e aquilo que acontece é que deixamos de correr e passamos a só tentar não cair. 

Cuidado também com os dias aparentemente "de sol". Passado 10 minutos, passa a ser um dia de chuva e muito frio.


Felizmente nesta altura os dias já são relativamente longos, o que é perfeito para passear e fazer caminhadas. Não faltam trilhos e percursos por aqui. Mais sobre isso nos próximos posts.


 

quinta-feira, 3 de março de 2016

Vet Life - Scotland #2 Primeira Ida ao Supermercado

Aproveitei o primeiro dia da minha estadia aqui, para conhecer Pitlochry, a vila onde vou passar os próximos 3 meses. Uma das minhas primeiras paragens foi no Supermercado, "The Co-operative". Precisava de abastecer a minha despensa, e esta é a única grande superfície comercial do género na área.  


Ir sozinha a um supermercado no Reino Unido, ou noutro país diferente do nosso, pode ser bastante estranho. Não só temos marcas que nunca vimos na vida, como existem coisas que são super complicadas de encontrar, ou então existem sob uma diferente apresentação.

Um exemplo disso é o Leite. Em Portugal estamos habituados a comprar Leite UHT. Compramos uns 12 pacotes de cada vez e chega-nos para um mês, ou mais, dependendo da quantidade de leite que bebem por semana. Aqui o leite UHT está escondidinho numa prateleira obscura e é mais caro que a opção principal. O que as pessoas consomem é o leite pasteurizado, que tem uma validade de 3/5 dias - o chamado leite do dia. Tem um sabor ligeiramente mais forte, que a mim não me faz diferença. Acaba por ser bom para os produtores de leite, uma vez que têm uma forma mais directa de escoar o produto e as pessoas compram leite com maior frequência...embora no final, se calhar acabam por beber a mesma quantidade. 


Outra coisa que me fez imensa confusão foi a inexistência de uma banca de peixe. Sendo este um país de carnívoros, não estava à espera de uma grande oferta, mas esperava mais do que uns douradinhos ultracongelados! Aparentemente para comprar peixe nesta terra, tenho que esperar pelo peixeiro que passa por cá duas vezes por semana (num sitio que ainda não descobri), ou ir a Perth, a cidade mais próxima, que fica a 40 min de viagem. Para quem não tem carro, como eu, arranjar peixe fresco pode ser complicado. 



Chegada a altura de escolher alguns legumes e fruta, qual o meu espanto, quando descubro que quase tudo é vendido embalado e quase nada a granel! Bela forma de chular o povo!A ideia não será má, se os agricultores receberem uma parte justa desse valor. Ainda assim, custa-me dar 1,30€ por 5 maçãs minúsculas, ou 1€ por um pepino! Não faço ideia se isto também é assim nos restantes supermercados do Reino Unido, mas vou começar a procurar por outras lojas de legumes e fruta.

Aqui senti-me bombardeada por uma grande quantidade de tentações deliciosas e não consegui resistir à secção da manteiga de amendoim...Os chocolate também me pareceram mais baratos que em Portugal, assim como muitas das marcas inglesas que em Portugal são super caras, por exemplo o Fairy...

Chega a altura de pagar e é super engraçado ver a quantidade de porcarias que a maior parte das pessoas leva. Montes de batatas fritas de pacote e coisas pré-cozinhadas. 

Espero mais para a frente, conseguir apresentar algumas reviews de produtos comestíveis mais difíceis de encontrar no nosso país. Será uma espécie de estudo de mercado!

P.S. Se vierem cá, tragam Sal Marinho. É super caro aqui! Tipo 4 euros o kg! (em Portugal são só 0,30€!)

quarta-feira, 2 de março de 2016

Vet Life - Scotland #1

Depois de um ano de preparativos e de expectativas, finalmente estou a realizar um dos meus sonhos, desde que embarquei na aventura da Veterinária - Estagiar no Reino Unido.

Todo o processo de obtenção de um lugar foi difícil. Mandei mais de cinquenta e-mails, para mais de cinquenta instituições de ensino de veterinária, hospitais e clínicas. Todos respondiam que, ou só me aceitariam por 15 dias, ou que só aceitavam estudantes dos UK.  

No dia do meu 25º aniversário recebi um presente especial - uma resposta positiva, sem hesitações, ou exigências especiais. Agora aqui estou, algures entre Edimburgo e Invernes, no meio da natureza e de uma cultura completamente diferente da minha, no meu terceiro dia como estagiária. 

O mais difícil foi deixar a família e embarcar nos voos. Aquele momento em que ficas sozinha pela primeira vez, no meio de um aeroporto, com montes de bagagem. Hesitas um momento e depois obrigaste a ser crescida e a acreditar que tens tudo em ti mesma para ir à aventura.

As duas viagens de avião foram terríveis. Por mais que queira não consigo evitar suar por todo o lado, durante todo o voo. Cada barulhinho aterroriza-me e não consigo adormecer! Mas lá cheguei a Edimburgo. 



Depois de uma espera de 3 horinhas, experimentei uma viagem de autocarro. Uma das coisas boas que Portugal tem, são os transportes públicos. Mais uma vez fui recordada disso. Este autocarro era podre como tudo e cheirava a mijo de velho. QUE BOM! 




Felizmente estava tão interessada em aproveitar para ver as vistas, enquanto havia luz, que ignorei os odores desagradáveis, até porque não tinha outra opção. Cheguei ao destino e conheci a minha família de acolhimento temporário (FAT).



Aproveitei o dia 29 para conhecer os arredores e caminhar um bocado. No dia seguinte entrei ao serviço e tem sido uma experiência muito interessante! No entretanto já tive direito a muita vida selvagem e a neve!