terça-feira, 8 de julho de 2014

"Leitores como Nós" 5# - João Tiago Ferreira



 "Leitores como Nós" é a nova publicação semanal (ou não) do Baú dos Livros. O objectivo é dar a conhecer diferentes visões do mundo da literatura, dadas na primeira pessoa, pelas pessoas que vamos seleccionando. Só temos um critério de admissão: gostar de ler!
Fomos saber o que João Tiago Ferreira acha sobre o mundo dos livros:

 João Tiago Ferreira, 24 anos, será em breve um arquitecto, mas entretanto vai personalizando essa designação combinando o seu interesse pelo desenho, planeamento urbano, turismo, cultura, educação... Com alguma dificuldade em localizar-se em Famalicão, prefere viver no Porto, onde já estudou, assim como em Barcelona. Recentemente desenvolveu uma investigação sobre quatro cidades de culturas distintas, as quais experienciou, confrontando a identidade no contexto de globalização do seu crescimento.



BL: Como descreverias os teus hábitos de leitura?

JTF- Preguiçosos… fui apanhado! Diariamente leio muitos artigos para o meu trabalho de investigação, principalmente online, e também muitas notícias e reportagens sobre a actualidade. Mas confesso que me faz falta ler um pouco mais de literatura, pois falta-me fluidez para expressar a velocidade das minhas ideias por escrito.

Confesso que a maior parte dos livros que li foi por obrigação (na escola), mas devorei-os! Ficava viciado quando isso acontecia, também por, á partidaserem livros recomendáveis para a formação. Sou muito mais de aproveitar o tempo para estar com as pessoas, de falar, e de produzir, e não valorizo tanto apenas a minha companhia.





BL: Durante a infância, qual foi o teu livro favorito? Porquê?

JTF- Lembro-me de ficar muito orgulhoso quando li o meu primeiro livro sem figuras, Os cinco e a ilha do Tesouro. Entre os 8-11 anos gostava de ler esses livros, mas diria que O Cavaleiro da Dinamarca e O Principezinho foram daqueles livros que me lembro de ler, acompanhado pelos meus pais, e que maior significado tiveram para mim. O primeiro pela capacidade fazer parte de uma grande viagem, de descobrir novos sítios, novas culturas, e que todos temos a possibilidade de fazer da nossa vida uma epopeia. O segundo por me rever em todas as perguntas, e por me ir explicando o mundo dos adultos, embora na altura não percebesse completamente muita coisa. Mas é um livro que continuo a “ler”, na medida em que continuo diariamente em processo de descodificação.



BL: O que é preciso para classificares um livro como “bom”?

JTF- Uma mensagem que nos transporte para fora daquilo que já conhecíamos antes. Sem uma interpretação implícita da realidade, a meu ver, o livro está apenas a matar tempo, e a distrair-nos. Para mim, um bom livro agarra-nos pelo desejo que temos de querer saber mais, e evoluirmos, não para vivermos através deles.



BL: Qual o teu escritor favorito?

JTF- Saramago. Identifico-me imenso com a sua narrativa, a forma como encontra de fantasiar a partir da realidade, e de coisas que realmente me preocupam sobre as pessoas. Mais uma vez, descobri-o na escola e apaixonei-me com O Memorial do Convento. Embora isto pudesse soar lamechas, quem leu o livro perceberá que me refiro à aceitação da condição humana, e ensinou-me a viver tranquilo comigo próprio, sem precisar de grandes formalidades, de prescindir de convenções, e basicamente, a fazer aquilo que sinto, porque não há nada mais válido que isso tudo. E por isso me enternece uma história em que as personagens descomplicam uma coisa tão incompreendida como o amor sem necessitarem de qualquer tentativa de o explicar. A partir daí, as suas obras constituem momentos de reflexão e de gargalhadas com a acutilância do seu sentido crítico. E claro, tenho um grande orgulho que represente tão bem Portugal.



BL: E o que não suportas? Quais as razões?

JTF- Historinhas de sagas intermináveis de Bem VS Mal, de procura pelo amor ideal, de todas essas convenções que deturpam a realidade das pessoas a uma expectativa generalizada sobre uma convenção que reduz a nossa vida a preto e branco, azul e rosa. Isto porque me entristece que, mesmo muita gente possa concordar com este ponto de vista, acaba por ser sempre influenciada por esta pressão generalizada, acabando por limitar a liberdade de saberem aquilo que sentem. E isso é desperdiçar a maior e provavelmente a única liberdade que temos.



BL: Qual é o livro que recomendarias a toda a gente? O que tem de especial?


JTF- Repetindo-me, talvez O Principezinho, porque nos consegue acompanhar desde crianças a adultos, e nos continua a dar lições de vida a todas as idades. Quando o revisitamos, ficamos sempre surpreendidos como achávamos que já o tínhamos lido, e afinal nos voltamos a esquecer.



BL: Que livro pensas que merecia uma adaptação cinematográfica?

JTF- Esta é complicada, pois a minha resposta será muito parcial. Gostaria de fazer uma adaptação cinematográfica sobre os meus avós. Gostaria de ter a capacidade de escrever um argumento sobre como a lucidez é uma coisa que nos acompanha cheia de partidas ao longo de toda a nossa vida, e quando envelhecemos, os desencontros desse estado nos permitem descobrir coisas que sempre estiveram diante de nós e que nunca demos valor, e como a perda dessa lucidez é que nos faz querer viver mais e nos liberta a fazer o que queremos antes que o nosso tempo acabe. Porque todos caminhamos neste sentido.


BL: Se tivesses que tatuar permanentemente uma frase de um livro na testa, qual escolherias?

JTF- Provavelmente um ponto final para não ocupar muito espaço… Principalmente na testa, não sou muito fã de tatuagens, muito menos de de rótulos ou lições de vida, como se estivesse a fazer propaganda aos outros da minha frase. Tenho as minhas frases e convicções, mas essas acompanham-me dentro da minha testa. Nunca tatuaria uma frase porque vamos crescendo e as frases que mais me dizem hoje, não serão as de amanhã, e não gostava de cristalizar tão cedo. Um dia que reconheça que envelheci, ou que alguma coisa na minha vida se tornar tão importantemente invariável, posso pensar em fazer alguma tatuagem…


Esta foi a opinião do João Tiago Ferreira. E a tua? Para participares, entre em contacto com o Baú dos Livros!












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