Segundo livro
que leio de Steinbeck, “As Vinhas da Ira” é uma obra que merece a designação de
“clássico da literatura”; não importa em que época seja lido, tem sempre uma
mensagem intemporal.
Nesta
história, somos transportados para o tempo da primeira Grande Depressão de 1929
dos Estados Unidos. Durante os 12 anos que caracterizaram a queda económica deste
país, muitas foram as famílias que sofreram as suas consequências. Os
agricultores dos Estados mais rurais do Oeste foram os primeiros a sofrer,
vendo-se forçados a abandonar as suas terras e a procurar trabalho em Estados longínquos,
como a Califórnia, iludidos por falsas promessas. A família Joad foi uma delas.
Com as
dificuldades económicas, associadas à modernização dos métodos agrícolas, como
a chegada de tractores, a produção manual deixou de ser rentável. As rendas
deixaram de poder ser pagas e o trabalho manual e a aragem dos terrenos tornaram-se
desnecessárias. Com as suas poupanças, e informados, através de apelativos panfletos,
de que haveria um mundo de oportunidades na Califórnia, a família Joad compra
um velho camião e parte esperançosa para Este.
No primeiro
livro que li de Steinbeck, “A Um Deus Desconhecico”, senti que estava perante
uma obra de reflexão sobre o ser humano e as suas crenças; uma reflexão sobre o
individuo e a terra. Em “As Vinhas da Ira”, a reflexão passa a crítica sobre a
natureza humana. Uma chamada de atenção para o poder que reside nos seres
humanos enquanto grupo, mais do que enquanto indivíduos isolados.
Ao ler sobre
todas as desventuras da família Joad, e das restantes famílias que passavam por
algo semelhante (existiam cerca
de 14 milhões de desempregados nos EUA), não pude deixar de pensar num
episódio marcante da história da humanidade, que haveria de passar-se algum
tempo depois da publicação deste livro – o Holocausto.
Porquê que o
ser humano não é capaz de se unir, quando mais precisa? De se revoltar, mesmo
quando o seu número ultrapassa em grande escala o daqueles que os oprimem?
Porquê que a história se repete sempre? O que é que existe em nós que nos
impede de agirmos facilmente em conjunto para fazer o bem? Porquê que mais
rapidamente há união para fazer o mal?
O final desta
obra trouxe-me sentimentos contraditórios; apesar de genial, no simbolismo que
integra, não deixa de me parecer surreal, por estar tão deslocado da restante
narrativa. Apenas li duas obras de John Steinbeck, mas penso que posso dizer
que os finais nunca surgem da forma que esperamos!
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