Muitas pessoas acham que a única coisa que varia, quando falamos de medicamentos para animais, está exclusivamente no tamanho/dose dos mesmos. Por vezes é realmente assim, mas o organismo dos nossos animais domésticos nem sempre funciona como o dos humanos. Por essa razão, alguns medicamentos, que para nós tem um efeito benéfico, são extremamente nocivos para os nossos amigos de quatro patas. É também importante ter em atenção que os gatos não são cães pequenos! Existem diferenças entre estas duas espécies e alguns medicamentos que podem ser usados em cães são PROIBIDOS em gatos, pois este não os metabolizam de forma idêntica, o que os torna mais sensíveis!
1) PARACETAMOL, conhecido pelo nome comercial de “Benuron” – as intoxicações por Paracetamol são comuns em pequenos animais. Este é um fármaco usado em medicina humana, pelas suas propriedades analgésicas, antinflamatórias e antipiréticas. Nos cães o principal problema em administrar Paracetamol tem a ver com a dose. É muito fácil ultrapassar o limite do aceitável para um cão e causar uma intoxicação por excesso de fármaco. Como consequência podemos ter graves lesões no fígado e rins, que podem ser fatais. O animal pode apresentar como sinais: vómito, depressão e perda de apetite. Nesta fase é importante estimular o vómito, para promover a eliminação dos comprimidos ingeridos (ver em baixo, como o fazer).
No caso dos gatos, o quadro é mais grave. Meio comprimido de 500mg basta para provocar a morte de um gato adulto. A grosso modo, o que acontece é que os gatos tem níveis baixos da enzima responsável por metabolizar este medicamento. Por isso, os resíduos que se formam causam lesões não só hepáticas, mas também a nível dos glóbulos vermelhos, tornando-os incapazes de transportar o precioso oxigénio. Os gatos afectados surgem com um quadro que inclui anemia (pois os glóbulos vermelhos acabam por ser destruídos), urina de aspecto avermelhado (a hemoglobina, proteína existente nos glóbulos vermelhos “falecidos”, é a responsável por esta coloração), vómito, salivação excessiva, língua e mucosas azuladas (devido à falta de oxigenação), sinais de intoxicação hepática aguda, entre outros sinais clínicos.
Aquilo que normalmente é feito, além da estimulação do vómito nos casos mais iniciais, é fazer terapia com administração intravenosa de soro, para ajudar a diluir e eliminar o agente tóxico em circulação, e administrar o antídoto – acetilcisteína. Também é recomendada oxigenoterapia, para ajudar o animal a respirar melhor. Uma intervenção rápida do médico veterinário é fundamental! Nos casos mais graves pode ser necessária transfusão sanguínea.
2) IBUPROFENO, conhecido como “Brufen” – este é um fármaco do grupo dos Antinflamatórios não-esteróides (AINE’s). É usado em Medicina Humana principalmente para o tratamento de dor de origem musculoesquelética e como antipirético. Aquilo que este medicamento faz é inibir a síntese de Prostaglandinas, o composto responsável pela inflamação/dor. Contudo, as prostaglandinas não tem apenas efeitos nocivos; algumas delas são responsáveis por proteger o nosso estômago contra a acção do ácido responsável pela digestão, e por regular a irrigação sanguínea de órgãos como os rins, por exemplo. Assim, estes antinflamatórios não vão apenas parar a dor. Eles também levam, em caso de terapia crónica, ou de sobredosagem, a uma falha na protecção do compartimento gástrico e ao aparecimento de úlceras, assim como ao aparecimento de lesões renais e/ou hepáticas. Os seus efeitos nos nossos animais são bastante imprevisíveis, pois as sobredosagens são facilmente alcançadas com um simples comprimido de 200g. Isto é mais grave em cães de pequenas dimensões e em gatos! Os sinais incluem: vómito (com ou sem sangue), anemia (devido à perda de sangue pelas úlceras), dor abdominal, letargia, desidratação, fezes escuras (devido à presença de sangue digerido), entre outros.
O tratamento de intoxicações por
Ibuprofeno inclui fluidoterapia intravenosa, a administração até 2h depois da
ingestão do medicamento de carvão activado (aprisiona os tóxicos que possam
existir no estômago, impedindo-os de chegar à corrente sanguínea), transfusão
sanguínea (no caso de anemia grave) e tratamento das úlceras e dos sinais clínicos,
como o vómito! Muitas vezes o veterinário pode requerer análises
complementares, para avaliar se existe dano nos rins e fígado.
3) ÁCIDO ACETILSALICÍLICO, a famosa “Aspirina” - Este é um medicamento que pode ser usado, ainda que com precaução, nos cães. Pertence ao grupo dos AINE’s e actua da mesma forma sobre as prostaglandinas, sendo capaz de provocar os mesmos efeitos secundários no caso de intoxicação, referidos em cima. Normalmente é usada no tratamento de artrites em cães, mas o seu uso deve ser sempre aconselhado pelo médico veterinário, visto que pode interagir com outros fármacos e causar problemas ao peludinho. Existem actualmente alternativas mais seguras para canídeos com este tipo de problemas, como o Rimadyl (também um AINE’s - Carprofeno). No entanto é sempre importante fazer a sua administração por períodos não muito longos, e sob indicação do médico veterinário, devido aos efeitos secundários associados a tratamentos crónicos (como as úlceras gástricas).
O uso de Aspirina também tem um efeito anticoagulante – reduz a propensão para a formação de trombos. É por isso útil em animais que tenham problemas cardíacos e propensão para a formação destas estruturas, mas PROIBIDO em animais que tenham alguma patologia que interfira com a capacidade de coagulação do sangue, como é o caso de cães com a Doença Hereditária de Von Willebrand. Também está contra-indicada a sua utilização em animais gestantes, ou com problemas renais/respiratórios)
Nos gatos a administração de Aspirina pode ser fatal! Isto sucede, pois mais uma vez, o sistema enzimático dos gatos não está preparado para degradar o ácido acetilsalicílico. Assim, enquanto no cão o intervalo entre administrações de Aspirina é de 8h, no gato é de 40h ou mais horas! Além disso, basta uma dose mais pequena de Aspirina para se atingirem os valores de toxicidade. NUNCA DAR ASPIRINA A GATOS!
No caso de uma intoxicação por Aspirina, não existe nenhum antídoto, como no caso do Paracetamol. Aquilo que é feito é o tratamento de suporte, para reverter os efeitos secundários.
A auto-medicação é um problema comum, que deve ser combatido, não só nos casos de Medicina Humana, mas também em Veterinária. As pessoas devem entender que os animais não são seres humanos! O que para nós é benéfico, pode não o ser para eles!
É fundamental consultar sempre um médico veterinário antes de fazer a administração de qualquer tipo de medicamento, nomeadamente Antibióticos e Anti-inflamatórios, mas não só!