sábado, 19 de dezembro de 2020

TAG - Certified Bookaholic (Escrito em 2015)

Este Post foi escrito em 2015. Estava algures perdido nos rascunhos, mas achei engraçado publicá-lo hoje. Passados 6 anos não deixa de ter alguns pontos em que continuo a concordar:

Fui desafiada pelo blog "O meu reino da noite" a participar no TAG - Certified Bookaholic.


Este TAG foi elaborado não só pelo blog referido, mas também pelo "Words à la Carte" e pelo blog "As cenas do Tio". Sintam-se à vontade para partilharem! Aqui estão as perguntas e respostas:

1) O primeiro livro/colecção que te vem à cabeça - As famosas aventuras de "Os Cinco" de Enid Blyton. Talvez por ter sido a primeira colecção que li e que me fez ganhar o gosto pelos livros. Recomendo que vejam o filme "Enid", com Helena Bonham Carter no papel principal. Muito bom e surpreendente. Quem diria que Blyton era tão cabrazinha...  

2) Um livro que dizes a todos para não ler - Todos os livros da escritora Margarida Rebelo Pinto. É que naqueles livros o assunto é mesmo só "Pinto". Em termos de conteúdo é "zero" e a própria personalidade da escritora revolta-me.

3) O livro mais caro e o livro mais barato que tens (oferecidos não contam) - Se oferecidos não contam é difícil...há mais de dois anos que não compro nenhum livro acima de 5€...

4)Conto de fadas favorito - Adoro o "Peter Pan", versão Disney. No entanto, não gosto muito da versão original. Acho que na versão de J.M.Barrie, a personagem chega a ser um bocadinho macabra.

5) Top 3 das tuas personagens favoritas (sejam principais ou não) - Uh...difícil esta. Adoro a personagem Claire, da saga Outlander. Gosto dela por ser tão independente e ao mesmo tempo tão humana e frágil. Gostei muito do Vampiro Lestat, nos livros de Anne Rice; acho que é dos melhores vilões da literatura. Por último, escolho a Mia Thermopolis do Diário da Prinesa. Oh pá! Somos demasiado parecidas!

6) Top 3 das personagens que menos gostaste (sejam principais ou não) - Detestei a personagem Nick Dunne em Gone Girl. O rapaz era tão parado, tão "bonzinho", que quase me apeteceu fazer-lhe o mesmo que Amy, a sua esposa, lhe fez; Werther...não tive pachorra para aquelas lamentações. Desculpem-me a falta de sensibilidade; Jacob Black, da saga crepúsculo. Não tenho paciência para personagens que tem pena delas mesmas. 

7) Top 3 de lugares que existem só em livros que gostarias de visitar - resposta típica: Hogwarts, Narnia e Campo "Half-Blood".

8) Uma personagem que trarias à vida real - Tyrion Lanister. Ele merecia!

9) Um livro que te fez feliz - a maior parte deles fazem-me feliz...é por isso que leio.

10) Um livro que te fez chorar - Harry Potter e o Príncipe Misterioso, quando o Dumbledore morre...lembro-me que chorei. Sei que há mais que já me fizeram chorar, mas de momento não me lembro...

11) Um livro que te fez pensar - A maior parte dos clássicos que li, fez-me pensar...quanto mais não seja, fez-me pensar na natureza humana e que por mais que se mudem os cenários, as emoções estão sempre presentes. No entanto destaco um que, quando o li, me fez pensar bastante - "Se Isto é um Homem", de Primo Levi. É um livro que relata a vida do escritor no campo de concentração de Auschwitz. É um livro que gostava de reler num futuro próximo.

12) Um livro que te fez rir - O livro 11 do Diário da Princesa fez-me soltar algumas gargalhadas...

13) Pior adaptação cinematográfica de um livro - Há tantas! Normalmente acho sempre o livro melhor que o filme...Acho que o Eragon estava uma desgraça e tinha muito potencial.

14) Livro(s) que vais ter que reler  - O que referi em cima e, entre outros, Lolita, por exemplo.

15) Um livro que te vez voltar uma página atrás devido ao choque - A Guerra dos Tronos! Sem dúvida!

16) Um livro que aches que esteja incompleto - A Bíblia. Não se percebe metade daquilo...just kiding...(até porque nunca consegui passar das dez primeiras páginas). Acho que os livros, quando nos parecem incompletos das duas uma...ou estão mesmo incompletos, porque o autor morreu, ou algo assim trágico...ou então o fim foi deixado em aberto com um objectivo. 

17) Um livro com um final inesperado - "Em Parte Incerta" (Gone Girl) de Gillian Flynn...

18) Um livro que terminou num cliffhanger - Mais uma vez...Game of Thrones. Consegue sempre surpreender e deixar-nos a querer MAIS!

19) Um livro com um final de arrancar cabelos - O último livro da Saga do Eragon. Esperei tanto tempo e o último livro não respondeu a metade dos mistérios!

20) Uma citação importante - Adoro as citações de J.M. Berrie, autor de Peter Pan. Acho que passam todas uma mensagem positiva e é por isso que gosto delas:

21)Uma música perfeita para ler - A Banda Sonora do Harry Potter.


    sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

    Imogen Heap - Last Night Of An Empire


    A Imogen Heap é uma cantora britânica que me acompanha desde os meus 17 anos. Descobri-a através de um filme genial chamado Garden State, quando ainda fazia parte da banda Frou Frou. A sua voz pode não ter um alcance brutal. Parece-se quase com um suspiro. No entanto a sua genialidade reside na forma como a usa, aliada aos efeitos eletrónicos, para criar algumas melodias completamente à parte do que por agora se faz. 
    Há poucos dias lançou este novo single, que não podia descrever melhor o que se sente pelo Mundo...a subtileza e jogo de palavras deixa sempre espaço para interpretação, mas a meu ver, é sobre a loucura dos tempos que fala. Deixo aqui a sugestão:

    One down, two to go
    They multiply on impact for the show
    But we didn't switch off
    So freedom took a long sad bow for us
    Dropped and hung behind the curtain
    Red as the operating rooms worsen
    Sense of wrong, doom scroll on
    To less important ills
    Why aren't we running for the hills? Oh
    Or hunting for the kill? Oh

    Dance like you're on fire
    Oh, go crazy on yourself
    Your last rites sung by the choir
    You can't control this anyway
    Dance like you're on fire
    And oh, you might as well
    The last night of an empire

    In the light of no truth
    As sure as sea levels are rising
    In the spin of breaking news
    You droppеd your confidence in happiness (and your innocеnce)
    This data indignity
    That hoodwinked you for a great awakening
    Meanwhile everything you ever cared about
    Got hot-swapped out for someone else's twisted dream

    We should be running for the hills, oh
    Cause no one's got the will anymore
    I haven't got the will (Click. Buy. Uh!)
    Dance like you're on fire
    Oh, go crazy on yourself
    Your last rites sung by the choir
    You can't control this anyway
    Dance like you're on fire
    And oh, you might as well
    The last night of an empire


    So, it's come to this?
    We're in the biz
    A systemic hysteric's normalizing disbelief
    Temper, temper hate thy neighbor, that is... unless you agree
    So, it's come to this?
    We're in the biz
    A systemic hysteric's normalizing disbelief
    Temper, temper hate thy neighbor, that is... unless you agree


    Slam! (Slam!) Pow! Bang! (Bang!)
    Whack! KaBoom! (Boom!) KaPow! Bam! (Bam!)
    Crack! What the...?
    Slam! (Slam!) Pow! Bang! (Bang!)
    (Just go and switch another episode on)
    (Just go and switch another episode on)
    Whack! KaBoom! (Boom!) KaPow! Bam! (Bam!)
    (Just go and switch another episode on)
    (Just go and switch another episode on)
    What the...?

    quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

    3 Podcasts (ou 5?) - Todos Diferentes, Todos interessantes

    Os Podcasts são o novo canal Youtube da atualidade. Nos últimos dois anos tornou-se um formato que tem vindo a ganhar terreno e com a quarentena tive a impressão de que sofreu um ligeiro "boom" no seu público.

    No meu caso, tudo começou com o "The Vet Vault", de dois colegas veterinários australianos, que falam dos vários desafios que a minha classe profissional enfrenta e das histórias que tornam cada percurso profissional único. Com ele fiquei a conhecer atividades ligadas à veterinária, que nem sabia existirem e percebi a dimensão de alguns transtornos emocionais que existem no nosso dia-à-dia, como o síndrome de impostor, ou a fadiga por compaixão. Percebi que há várias coisas e comportamentos que podemos adotar e ouvir as experiências dos convidados, foi um "abrir de olhos". 


    Depois, saí da área da veterinária e fiquei encantada com um extraordinário pequeno grande podcast, chamado "A Beleza das Pequenas Coisas", do jornalista Bernardo Mendonça. Neste Podcast, o jornalista entrevista várias figuras públicas e ficamos a conhecer melhor a sua essência humana. 
    Durante inúmeras tarefas domésticas aborrecidas e viagens longas Porto-Lisboa/Lisboa-Porto, estes podcasts abriram a minha mente ao conhecimento e sabedoria dos outros. Consegui sair da minha bolha por uns momentos.


    Hoje venho deixar mais três sugestões, que fazem parte do meu dia-a-dia e que me são uteis para aprender: 

    1) Vamos Todos Morrer - este Podcast, que também passa nas manhãs da Antena 3, tem como narrador o comediante Hugo van der Ding e mistura história e curiosidades com humor. Em cada dia, é abordada uma breve biografia e factos interessantes (ou não) acerca de uma personalidade marcante, que faleceu nesse dia, há alguns anos. A forma como os textos estão comicamente escritos, tornam a abordagem à história leve e cativante e pelo meio ainda nos arranca umas belas gargalhadas. Cada episódio tem em média 6 a 8 minutos e costumo ouvir ao final do dia, no regresso a casa. É uma boa forma de descomprimir depois de um dia de trabalho. 



    2) Eixo do Mal - este não é um verdadeiro Podcast, uma vez que é um programa que faz parte da programação da Sic Notícias. No entanto, confesso que não sou consumidora de televisão e acabo por seguir o programa todas as sextas-feiras em formato áudio. Este grupo de comentadores, de proveniências várias (mas todas privilegiadas) mantém-me informada acerca das palhaçadas que constituem a palhaçolância que é Portugal. Ouvindo o Eixo do Mal torna-se praticamente desnecessário ver as noticias. Eles são as notícias comentadas e já várias vezes me fizeram também rir, com as suas teorias e zangas. 



    3) O Resto é História - apresentado por João Miguel Tavares e explicado pelo historiador Rui Ramos, "O Resto é História" fala precisamente, de história. Surprise! Há vários meses que andava à procura de um Podcast que falasse sobre a história da humanidade. Encontrei este formato, em português e explicado de forma clara e simples. Aqui são abordados vários episódios da história portuguesa e mundial, que sem dúvida nos dão uma visão daquilo em que nos tornamos e de como a natureza humana é, quase sempre, na sua essência, imutável. 


    O mundo dos Podcasts está em expansão. Há imensa coisa nas plataformas disponíveis. Estes são alguns exemplos do que me mantém sã em tempo de Pandemia. À semelhança dos livros, são janelas para o mundo exterior e agradeço a todos os criadores de conteúdos, por prestarem este serviço à humanidade!

    segunda-feira, 23 de novembro de 2020

    A Arte e o Ser Humano


    Os livros, a música, o teatro, o cinema; a Arte - é o espelho da alma humana e do que ela encerra. Temos a Arte como um dado adquirido. A Arte e os artistas não são um dado adquirido e esta Pandemia veio realmente expor muitas das suas fragilidades. A sensibilidade da sociedade pode ser avaliada pela forma como valoriza e protege os seus artistas, o espelho do sentimentalismo e dos sonhos. 

    Hoje publico esta música da Marina. Talvez ela em particular não esteja a passar por grandes tormentos, mas queria apenas partilhar o seu lindo poema sobre o que significa ser humano e como essa condição é independente da profissão, estrato social, fronteira, raça, ou etnia. Seria tudo tão mais fácil, se todos conseguíssemos ver o que temos em comum nesta crise em vez de estarmos a encerrar-nos cada vez mais nos nossos casulos de egoísmo. Completamente sufocados pela ansiedade e preocupação...

    Estou grata pel'Arte e pelos artistas. 

    Obrigada.

    sexta-feira, 13 de novembro de 2020

    "Dentro do Segredo" - José Luís Peixoto


    Há uns meses atrás, no Podcast de Bernardo Mendonça, "A Beleza das Pequenas Coisas", ouvi a entrevista do escritor José Luís Peixoto. O seu nome não me era de todo desconhecido e não o será, para todos os que acompanham a esfera literária portuguesa (além disso, a cadelinha dele costuma frequentar o meu local de trabalho *FunFact!*). Na altura fiquei fascinada e muito curiosa com as histórias que contou acerca desse mundo secreto que é a Coreia do Norte e de como, já por duas vezes, tinha estado nesse país. 

    Este ano, na minha segunda ida à Feira do Livro de Lisboa, desta vez em contexto apocalítico, trouxe um exemplar de "Dentro do Segredo". Mergulhei imediatamente na sua leitura e fiquei realmente surpreendida pela positiva.

    Ainda não explorei a narrativa ficcional de José Luís Peixoto, mas "Dentro do Segredo", escrito na primeira pessoa, apresenta uma linguagem sem grandes floreados. A escrita é simples, mas cativante e desde a primeira página fiquei rendida. 

    Há alguma coisa nele que me faz lembrar a forma como Murakami escreve, ou talvez fosse a solidão de um homem associada a estar num país ditatorial, como a Coreia do Norte. As personagens principais de Murakami tem também esse sentimento persistente de solidão. Em Dentro do Segredo, tive sempre a sensação de que José Luís Peixoto estava completamente só, num mundo completamente à parte. Porque a Coreia do Norte está realmente, completamente à parte. 

    O levantar da cortina, para um povo tão enigmático foi fascinante. Perceber alguns dos costumes, as suas dificuldades e misérias e a forma obsessiva como tudo é político e tudo são regras e protocolos torna-se a certa altura asfixiante. O Líder é Deus. Por mais que tente comparar esta com as outras ditaduras, como a que fez parte da nossa própria história, ou como as ditaduras sul americanas, não encontro pontes. A Coreia do Norte de José Luís Peixoto, assemelha-lhe mais a um universo distópico, incomparável.

    Estou habituada a ler histórias sobre personagens  que descortinam as injustiças e crimes e que se insurgem contra ditadores. Estou habituada a estar num dos extremos do segredo. Estar simplesmente Dentro do Segredo, sem fazer juízos ou tomar partidos, é difícil e solitário, mas de certa forma este livro consegue isso.

    Quando terminei esta leitura, não pude deixar de me perguntar o que se esconde por detrás do aparente respeito e veneração do povo coreano pelo seu Líder. Onde estão as almas rebeldes? Haveria alguma réstia de espírito rebelde na guia turística, que acompanhava o grupo de turistas desta história? 

    Para meu próprio conforto, gosto de acreditar que sim.  



    sábado, 7 de novembro de 2020

    Goodbye Facebook

    Num dos raros momentos em que ligo o PC, o impulso já não é o mesmo. Já não primo imediatamente o botão do Facebook, como se na verdade essa fosse a minha página inicial principal. Quando acordo de manhã, já não pego no telemóvel para ver o Facebook, o Instagram, o Gmail e novamente o mesmo loop. 

    Fazer delete no Facebook era algo que ambicionava há muitos meses (ou anos!?), mas sucessivamente ia inventando desculpas, que achava plausíveis: a página do Baú dos Livros; a página do negócio dos meus pais; o grupo dos veterinários; os meus amigos e familiares...mas a verdade é que eram apenas desculpas para justificar um vício. 

    O Facebook esteve na minha vida desde 2010. Estive lá, quando toda a gente estava obcecada com o "FarmVille", depois vieram as selfies, as conversas com os amigos nos comentários das fotos de perfil, as sucessivas modas e reviravoltas, a obcessão pelos "gosto" e pelas partilhas...Foi divertido durante uns tempos. A nível social era uma ferramenta interessante; era possível, por exemplo, descobrir traições e cusquices meramente pela observação do padrão de ação das pessoas nas redes sociais (e ainda é...). No entanto, para mim o tempo do Facebook acabou. 

    O WhatsUp veio permitir a interação com amigos e familiares à distância e com uma maior privacidade. Além disso, neste momento o ambiente no Facebook está tão tóxico e insustentável, que sempre que lá ia ficava a sentir-me zangada ou incomodada com a idiotice de muita gente. Entretanto, parece que passados 10 anos, o pessoal das gerações mais velhas descobriu a plataforma e comportou-se como se pudesse dizer e fazer aquilo que nunca pôde na vida real - publicar imagens completamente impróprias (será que sabem que aquilo está público?), ser mal educados e partilham pormenores que ninguém quer saber, ser intolerantes e donos de todo o saber. Esse tipo de comportamento minou completamente o Facebook e já não é característico só dessas gerações. Está disseminado um pouco por todo o lado. 

    Em adição ao que eu acho sobre a plataforma, vi há umas semanas o documentário/drama chamado " O Dilema das Redes Sociais". Recomendo que vejam. Foi sem dúvida um empurrão para a decisão de diminuir a minha presença online:



    Neste momento ainda não consegui deixar o ciclo vicioso de pegar no telemóvel de manhã e alternar entre os sites dos jornais, o Gmail e a plataforma de Podcasts, mas estou a tentar. Para já, consegui a pequena vitória de passar menos tempo no telemóvel. Ganhei tempo para fazer coisas que realmente são produtivas, como ler mais, aprender mais com os Podcasts que ouço, estar mais com as pessoas e deixar o que não é importante e os dramas dos outros de fora.

    domingo, 1 de novembro de 2020

    O Estado das Coisas - uma carta aberta ao Estado português.

    Exmos Srs e Sras,

    Desde Março deste ano que o mantra na comunicação social e do vosso discurso se repete - a pandemia é grave e é perigosa; protejam-se! Este mantra vende bem durante uns tempos e serve para esconder e justificar muitas ações, mas depois de 6 meses, sem resultados positivos, precisa de uma reformulação. 

    Ninguém se consegue proteger de uma pandemia apenas com máscara, gelinho e bom senso, se o Estado/vocês não tomarem medidas à séria. Não falo de medidas como as atuais - fechar concelhos, limitar o número de pessoas na rua e em casa, limitar os horários dos estabelecimentos, etc etc. Essas medidas apenas vão adensar o problema social que se está a descontrolar - o desemprego vai aumentar (mais), os donos dos estabelecimentos vão-se endividar (mais) e toda a gente vai ficar mais pobre, mais sozinha e mais infeliz. Além disso, todos sabemos que os portugueses são peritos em contornar regras, pelo que os nossos agentes da autoridade vão ter de se esforçar mesmo muito, ou começar a assobiar para o lado, como aconteceu na observação das ondas na Nazaré.

    A vida tem de continuar e o medo não pode ser a base de uma sociedade. É aqui que deveria entrar a vossa ação em conjunto com a dos media - todos os dias os portugueses deveriam ser informados de como o sistema nacional de saúde (SNS) está a ser reorganizado e reforçado e de como isso é a prioridade. Devíamos ser informados do que está a ser feito para diminuir a densidade populacional dos transportes públicos e quais as estratégias para combater o crescente desemprego. Nenhum português deveria precisar de se preocupar com a negligência face ao controlo das suas patologias crónicas, do comprometimento dos atos de medicina preventiva, ou do adiamento de procedimentos cirúrgicos, pelos quais esperaram meses.  Nenhum português deveria ter de se preocupar com o que fazer, caso o infantário, ou a escola dos seus filhos encerre e deixe de haver quem fique com eles.

    Mas os Exmos senhores não falam de soluções concretas. Falam do vírus e falam com medo. Seguem os passos do resto da União Europeia, que se recusa a ter a coragem necessária para fazer reformas sociais JÁ! Tudo é lento, burocrático e pandémico. 

    Infelizmente a história é cíclica. No final de tudo isto, quando perderem as próximas eleições legislativas, e os partidos populistas e extremistas ganharem uma maior representatividade no parlamento, espero que saibam que foi por culpa da vossa inércia e cobardia para seguir um caminho diferente dos restantes países do mundo Ocidental. 


    Atenciosamente,

    Luisa Alves

    terça-feira, 1 de setembro de 2020

    "Becoming - A Minha História" - Michelle Obama

    Este ano tem sido dedicado à leitura de obras de não ficção. Não tem sido de propósito, apenas acontece que são esses os livros que me tem vindo parar às mãos. No entanto e, apesar da quarentena, não tenho lido muito. Como já referi anteriormente, não tive uma quarentena típica, com muito tempo livre (e ainda bem...). 

    Apesar de ser apenas por acaso, a curiosidade para ler a autobiografia da Michelle Obama existia. O contexto político que caracteriza a actual América é no mínimo estranho e no máximo inacreditável. Tinha curiosidade em saber como é que se passava dos Obama para os Trump. O que correu mal?

    Claro que a leitura de Becoming não me ajudou a compreender os acontecimentos que aqui conduziram. Para isso era preciso um conhecimento bem mais profundo do mundo americano, da sua história (curta, mas rica) e dos meandros do mundo da política. Isso está longe de me assistir. 

    Acabei por ler esta autobiografia não para compreender, mas para desfrutar. Optei por ler a versão inglesa original, que está bem escrita, é simples e cativante. 

    É na primeira pessoa que ficamos a conhecer o contexto em que a 44ª primeira-dama americana cresce, os obstáculos que a sua geração enfrenta e as pessoas que a marcam. Só a meio do livro é que o nome Obama surge pela primeira vez, como o homem charmoso, que chega para ser o estagiário de Michelle, numa conceituada firma de advogados....marota! 

    Mas desenganem-se. Este não é de todo um livro sobre Barack Obama. É um livro sobre uma grande mulher, com uma identidade muito única, forte e simultaneamente frágil. Uma mulher que como todas nós, vive confrontada com escolhas difíceis e contraditórias, que muitas vezes ameaçam a sua verdadeira identidade.

    Este livro deu-me uma perspectiva interessante não só acerca dos bastidores da casa branca e da política americana, mas também da sociedade americana e dos preconceitos que a minam. Talvez sejam esses mesmos preconceitos que nos conduziram até ao dia de hoje. Baseado no que li neste testemunho, acredito que os Obama tenham realmente tentado. As pessoas são simplesmente impacientes e os interesses dos mais ricos são difíceis de ultrapassar. 

    sexta-feira, 21 de agosto de 2020

    O "Efeito Pandemia" na Veterinária

    Nunca na história da humanidade existiu um momento em que o mundo inteiro falou de um só assunto - da Pandemia COVID-19. Os seres humanos uniram-se contra a falta de descriminação da doença. Ela mata ricos e pobres; brancos e pretos; velhos e novos. Não escolhe quem infecta. O medo falou alto e toda a gente se fechou em casa. As ruas ficaram desertas. As clínicas veterinárias encheram. 

    Durante estes últimos tempos mantive-me em silêncio, não porque não tivesse o que dizer (toda a gente adora opinar), mas porque o "efeito pandemia" assolou de forma drástica o meu dia-à-dia e o de muitos colegas veterinários e profissionais da área.


    Os últimos quatro meses foram literalmente o sonho e o pesadelo de todos os veterinários - de repente os animais estavam todos a precisar de assistência médica. Alguns já estavam doentes há meses, em sofrimentos ignorado pelos seus "cuidadosos" donos; outros precisavam apenas de uma desculpa para sair de casa, como cortar unhas curtas, ou colocar a vacina da Raiva em dia, quando o prazo já tinha caducado há mais de 5 anos atrás. Tudo era urgente e nada podia esperar para depois da quarentena.

    Foi preciso controlar as pessoas. A Ordem dos Médicos Veterinários de Portugal implementou algumas directrizes, começando, por exemplo, por desautorizar o atendimento de cuidados de saúde não urgentes. Todos passamos a trabalhar por marcação e os donos começaram a ficar à porta da clínica. A nossa indumentária mudou. Parecíamos uns astronautas e as nossas mãos secaram de tanto pó talco de luva e álcool. As equipas foram divididas e isoladas e as clínicas que não tinham pessoal suficiente tiveram de reduzir o seu horário, ou mesmo de fechar; os veterinários que trabalhavam em serviço domiciliário viram os seus serviços suspensos, ou criticados pelos colegas.

    As dúvidas surgiram - o que era urgente e o que não era? Um corte de unhas podia ser considerado urgente, se na sua ausência as unhas revirassem e magoassem a pele do animal; uma vacina era essencial, se implicasse a protecção do animal e do seu dono, principalmente no caso das doenças transmissíveis aos humanos. O conceito de urgência era variável de clínica, para clínica. Surgiram acusações e guerras entre colegas veterinários. Nem dentro da nossa classe a solidariedade humana prevaleceu. Os tutores migraram para outras clínicas, mediante a disponibilidade das mesmas (ou não) para atenderem os seus caprichos. A Ordem remeteu para a direcção clínica de cada espaço a decisão de continuar a vacinar. Houve quem temesse a ocorrência de surtos de Parvovirose, Esgana, ou Leptospirose. Para muitos da nossa comunidade não fazia sentido suspender cuidados de profilaxia por tempo indeterminado. 

    Lentamente e com grande poder de adaptação, os veterinários por todo o mundo, foram-se moldando às novas regras. As consultas demoravam o dobro do tempo, porque não havia um tutor para ajudar a segurar do patudo em cima da mesa, ou para o acalmar. Os telefones não paravam de tocar, a uma velocidade que, com a diminuição das equipas, era impossível de dar resposta. Foram-se adaptando também ao grau de maluquice dos tutores, que dadas as circunstâncias sociais (penso eu), muitas vezes demonstravam falta de paciência, compreensão, bom senso, ou mesmo educação.  

    Era tão bom que a Pandemia realmente aproximasse os seres humanos e os tornasse solidários, mas cedo se percebeu que isso era uma ideia inocente e cor de rosa, que os media queriam que comêssemos. No geral, os seres humanos continuaram e pioraram os seus comportamentos habituais de egoísmo.

    Quando a quarentena terminou e as restrições começaram a ser aliviadas, recebemos a segunda vaga de loucura - a taxa de adopções/compra de animais disparou durante o confinamento e todos os bebés apareceram para iniciar as vacinações. Quem não ama bebés? Também nesta fase, todos os cuidados de saúde pendentes, como castrações, vacinações não prioritárias, desparasitações, etc etc, começaram a ser colocadas em dia. A loucura de trabalho continuou. 

    Estamos em Portugal, em Agosto de 2020, e as coisas começaram a acalmar. Depois de semanas a sair 30 a 45 minutos depois da minha hora, estou finalmente a conseguir processar a loucura destes tempos. Admiro-me como nunca tive medo da doença e começo a achar que foi simplesmente porque não havia tempo para ter medo. Os meus colegas e os animais precisavam de mim.

    Esta não é uma publicação de lamento; pelo contrário. É a prova concreta de que, apesar de muitos momentos de dúvida, que acredito que muitos colegas veterinários sintam ao longo da sua carreira, a nossa profissão é das mais maravilhosas e gratificantes do mundo. Em momentos atípicos da história da humanidade, em que muita coisa pára, as nossas ferramentas intelectuais e práticas, permitem-nos continuar a oferecer uma ajuda valiosa às pessoas e à sociedade. Mesmo que estas não reconheçam o nosso valor, no final do dia o nosso foco deverá ser sempre o bem estar dos animais que assistimos e a nossa consciência deverá sentir-se tranquila.  



     



    sexta-feira, 24 de abril de 2020

    Cancro em animais de companhia - Existe!

    Cancro é uma palavra com uma conotação negativa, pelas razões óbvias. Muitos de nós já tivemos um familiar, um amigo, ou um conhecido que teve de enfrentar a doença, com tratamentos drásticos e dolorosos, com desfechos por vezes vezes trágicos. 

    Em medicina veterinária a palavra cancro, ou doença neoplásica (termo científico), também faz parte do nosso dia-à-dia. Muitas vezes, à semelhança do que acontece com os humanos, quando é encontrado num estadio precoce, conseguimos actuar e trazer ao animal um estado de remissão que se pode prolongar por anos. 

    O que infelizmente está contra nós, é o facto da medicina preventiva ainda não ser uma realidade para todos os animais de companhia e para todos as suas famílias. A maior parte dos nossos animais geriátricos vai ao veterinário com a mesma frequência com que ia, quando era cachorro: uma vez por ano para apanhar a vacina anual. Ás vezes simplesmente não há dinheiro para mais e daí ser importante ponderar sempre a adição de um companheiro de quatro patas à nossa família. 


    O que ainda acontece actualmente em Portugal, e em muitos outros países, é que quando a doença é encontrada, já é tarde. 

    No entanto, quando uma doença neoplásica é encontrada num estadio precoce, e chega a hora de falar das opções terapêuticas com os tutores, o que acontece é que à mera referência à palavra "quimioterapia", existe uma retracção imediata. Os tutores ficam claramente assustados e muitos ainda optam por não avançar com essa opção terapêutica, por medo do sofrimento a que podem submeter o seu companheiro canino, ou felino. Imaginam que o animal se vai sentir terrivelmente mal, vai ficar sem pêlo, nauseado e sem forças. Algumas pessoas revivem experiências pessoais traumatizantes, como ver um ente querido a passar por toda a adversidade da doença neoplásica. 

    No entanto, na maior parte dos casos, a quimioterapia não tem esses efeitos secundários nos nossos animais e pode realmente ser a diferença entre salvar, ou não o nosso querido amigo. A parte mais difícil é realmente ter toda a família a bordo, com uma decisão informada e consciente e, acima de tudo, com expectativas realistas. 

    Esta é uma realidade que a Dr.Sue Ettinger tenta explicar aos donos, desmistificando a doença e tentando trazer algum optimismo a uma palavra tão cheia de negatividade - Cancro. A Dr.Sue, também conhecida como The Cancer Vet, tem um canal de Youtube, que descobri há poucas semanas, que realmente é muito útil e informativo para todos os tutores que tem animais e querem simplesmente aprender mais, ou que estão a passar por situação de diagnóstico de uma patologia neoplásica. O canal tem informação actualizada e baseada em bibliografia de confiança, o que é outro ponto a favor 

    Deixo aqui um video de uma sessão de quimioterapia em cães, para que seja desmistificada a ideia de que é algo extremamente traumático e doloroso, ou inclusive o mito de que é algo que não existe em medicina veterinária:


    sábado, 11 de abril de 2020

    Cadernos de Lanzarote vol. I e vol. II - José Saramago

    Uau! Um post sobre livros, num blog de livros, onde ultimamente se tem falado de tudo
    menos de livros... Finalmente, dizem vocês. 

    Sim - finalmente! - é também a palavra que escolho para iniciar este post. Venho arrastando (isto soa muito português do Brasil...) a leitura dos Cadernos de Lanzarote há meses. Mais precisamente, desde Março de 2019. 

    Antes de expressar a minha opinião sobre os livros, é importante dizer que Saramago é um dos meus escritores preferidos. Em 2018 visitei A Casa, em Lanzarote, e foi um momento de emoção. Nessa visita comprei dois livros do autor - A Jangada de Pedra e o primeiro volume do Cadernos de Lanzarote. Tinham como bónus o carimbo oficial d' A Casa de Saramago, por terem sido comprados lá. Achei que seriam uma recordação duradoura. 


    Embora A Jangada de Pedra ainda esteja por ler, em Março de 2019, decidi começar a explorar os Cadernos. Estes não são mais do que uma espécie de diário, ou se preferirem algo menos narcisista (palavras de Saramago, não minhas), um conjunto de crónicas do dia-à-dia do escritor, compiladas em 5 volumes que compreendem os anos de 1993-1998.

    Nestes cadernos podemos encontrar de tudo um pouco. Desde breves descrições da vida familiar de Saramago, até críticas literárias, ou algumas passagens de cartas enviadas ao autor. Há também uma série de comentários, ou reparos, mais ao menos sarcásticos em relação a personagens com as quais Saramago não alinhava o seu chackra. Esses comentários conseguiram arrancar-me um, ou outro sorriso, mas possivelmente só funciona, se vocês forem de esquerda, ou não gostarem de "múmias"

    Apesar da evolução lenta da leitura, foram dois livros de que gostei. Não pude deixar de reparar que apesar de uma origem humilde, o escritor cultivou gostos bastante eclécticos, como é o caso da ópera, referência frequente nestes cadernos. 

    As passagens de que mais gostei, para além das críticas mordazes ao modo que Portugal estava a ser comandado, referem-se às coisas simples da vida. A chegada de Pepe, o cão de Saramago e Pilar, as visitas e passeios que faziam com os amigos, etc. 

    Para quem gosta de Saramago, os Cadernos são uma estreita, ainda que fascinante janela, para a sua mente. Recomendo para qualquer fã, ou mesmo para aqueles que simplesmente querem compreender melhor o homem. 



    terça-feira, 7 de abril de 2020

    Passatempo "Dia Mundial da Terra - 22 de Abril (National Geographic)"

    Bom dia a todos! Espero que se encontrem bem e animados (dentro do possível).

    No dia 22 de Abril comemora-se o Dia Mundial da Terra. Esta data foi criada pelo senador americano Gaylord Nelson, em 1970. Tinha como finalidade consciencializar a população para os problemas associados à poluição, conservação da biodiversidade e outras preocupações ambientais para proteger o nosso querido planeta Terra

    Num momento em que a nossa preocupação se prende com questões de saúde pública, que exigem uma resposta imediata e urgente, não podemos esquecer-nos dos problemas que podemos ainda evitar. Ainda vamos a tempo de mudar e de evitar situações como a que hoje vivemos. A pandemia veio colocar a descoberto a fragilidade do SNS do mundo ocidental. De que estamos à espera, para exigir que quem está no poder se preocupe antecipadamente com o futuro do Planeta Terra? Se agirmos preventivamente, não será preciso remediar.

    Para não deixar esta data passar em branco, decidi sortear a edição deste mês da National Geographic (edição portuguesa). Esta é uma edição pouco comum. A revista vem dividida em duas partes inversas, como se fossem duas revistas diferentes; de um lado temos o olhar optimista para o futuro da Terra em 2070; do outro lado temos a visão pessimista. São duas perspectivas que acabam por se complementar e que são muito interessantes de ler, numa altura em que o nosso futura se afigura tão incerto. Podemos ter esperança? Sim, se fizermos por isso.



    O passatempo começa hoje, dia 7 de Abril e termina no dia 22 de Abril, ás 00h. Para se habilitarem a ganhar, basta:

    1) Seguir o Blog, usando a conta Google;
    2)Fazer Gosto/Like da página de Facebook do Baú dos Livros.

    Para sortear o vencedor, será utilizada a aplicação Rafflecopter. Os termos e condições podem ser consultadas também na aplicação (em baixo):

    BOA SORTE!


    a Rafflecopter giveaway

    segunda-feira, 6 de abril de 2020

    Oxalá Acordem!


    Saudações, caros leitores. Espero que a vossa quarentena esteja a correr bem, que se encontrem saudáveis e que a ansiedade não vos esteja a deixar paralisados de medo.

    Medo. Essa sensação que anda a transformar a nossa vida. Caminhamos entre casa e trabalho (ou supermercado, para quem não pode trabalhar), sempre cabisbaixos, silenciosos e sem sorrisos. Sente-se o peso da preocupação em qualquer sítio que se vá. Os supermercados tentam manter-nos calmos. Ouvem-se músicas animadas, mas para onde quer que se olhe, vêem-se pessoas de máscara e/ou luvas. Algo não bate certo. Somos recordados do tempo estranho em que vivemos.

    As minhas últimas semanas tem sido passadas entre a clínica e o meu quarto. Felizmente a casa onde estou tem jardim, e a minha cadelinha tem de ser passeada pelo menos duas vezes por dia. No meio desta confusão (por incrível que pareça), consegui finalmente arrendar um apartamento. Mudo-me em Maio. No entanto, não deixo de me sentir solidária com quem tem de partilhar casa com desconhecidos. Talvez seja uma oportunidade para criar amizades improváveis (e forçadas)?

    A vida na clínica sofreu mudanças drásticas, como seria de esperar. O nosso trabalho foi reduzido apenas para o essencial e urgente e os tutores dos animais não entram na clínica. A recolha da história clínica é feita na rua, esteja sol, chuva, calor, ou frio. Nós equipados com máscara, luvas, óculos e bata, respeitando sempre a distância de segurança. No início estávamos receosos com a reacção das pessoas - “Será que vão achar que estamos a exagerar?” - Hoje, passadas duas semanas, há tutores que deixam a caixa transportadora com o seu gato à porta e fogem para dentro do carro.

    Para quem é introvertido e não aprecia as interacções em consulta, isto é um sonho tornado realidade. Para mim fica tudo mais difícil. Nunca fui particularmente extrovertida (apesar de ser uma tagarela, com quem me sinto à vontade), mas a presença dos tutores é maioritariamente útil. É através das suas histórias e comentários, que conseguimos perceber alguns mistérios associados ao problema do animal. É através da comunicação, que conseguimos perceber o tipo de tutor que temos à frente e quais as suas expectativas. Mais do que ajudar o animal, acabamos por também ajudar as pessoas.

    Outra coisa que temos tentado fazer é manter as pessoas em casa. Neste momento de ansiedade e impaciência, é incrível a quantidade de pessoas que liga para agendar cortes de unhas, banhos e tosquias. Obviamente, recusamos o serviço. Não é urgente. Estamos no meio da fase de mitigação e é importante que fiquem em casa e em segurança.

    Apesar destas dificuldades, é importante manter a calma e contornar os obstáculos. Mais do que nunca, os médicos veterinários são necessários.

    Ao escrever este pequeno comentário acerca dos nossos dias, não posso deixar de me sentir um pouco como uma personagem de um filme de ficção. Aquilo que aqui fica registado, no meio de tanta informação acerca da pandemia, é só mais um testemunho de um ponto de viragem histórico na sociedade ocidental. Isto é história. Depois disto, há muita coisa que não voltará a ser igual.

    Oxalá que também venham coisas boas desta pandemia. Oxalá os nossos governantes deixem de ignorar os problemas que realmente interessam: a melhoria dos SNS, o investimento sério na educação e o não ignorar das questões ambientais que põem em risco o futuro do Mundo e dos seus habitantes. Os problemas não se podem ignorar, ou atirar para debaixo do tapete. O que acontece, quando se faz isso, é isto que agora estamos a viver.

    sábado, 15 de fevereiro de 2020

    Casa em Portugal?

    Ser locatário/inquilino em Portugal não está fácil. Nos últimos 2 anos o panorama tem vindo a ficar negro, para quem não tem casa, nem tem possibilidades (ou vontade) de vir a ter. 

    Um pouco por todo o país, os preços das rendas duplicaram e, em alguns casos, triplicaram. A comunicação social parece apenas acordar para este problema no início do ano lectivo. Presumo que seja, quando finalmente algum iluminado da direcção de informação se vê aflito para conseguir arrendar um quarto para o filho, ou para a prima do filho. 

    A verdade é que o problema da habitação está a tomar proporções ridículas e que se prolongam por todo o ano. É um problema que afecta não só professores e estudantes, mas todas as áreas profissionais (ou quase todas), que não tenham apoio do estado.

    Há 6 meses atrás, quando me mudei para os arredores de Oeiras, aluguei um quarto, com água e eletricidade incluídas, por 320€/mês. A casa onde o meu quarto está inserido, tem mais 3 quartos ocupados. Pessoas que eu não conheço, que se cruzam comigo à hora de jantar e, ocasionalmente ao fim de semana. Somos educados uns com os outros, mas é tudo muito impessoal e distante. É uma casa R/c, velha, com humidade, com um único WC e já tivemos a visita de um rato. Porquê que estou aqui? Passo a explicar: antes deste quarto visitei mais três. Nenhum deles me oferecia contrato. Todos eles tinham regras mesquinhas: apenas aceitam trabalhadores de fora do distrito; não podem receber visitas sem autorização; animais de estimação estão interditos; a caixa de correio é exclusiva do senhorio; etc. Todos eles exigiam rendas a rondar os 300 euros/mês. 

    Como eu, centenas de pessoas vivem assim e centenas de pessoas pagam mais de metade do seu ordenado para poderem ter um sitio onde se possam sentir em casa. Enquanto deambulo pelos grupos de Facebook de procura de casa, vejo cenas de xenofobia, racismo e descriminação diária. Vejo mães solteiras à procura de quartos, porque não conseguem pagar imóveis completos. Pergunto-me como será crescer assim...num quarto, numa casa cheia de estranhos. 



    Actualmente, um T1-T2 nos arredores de Lisboa, com condições aceitáveis, ronda os 700€ mês. Como é que alguém solteiro (ou divorciado) pode suportar algo assim? Falamos de liberdade frequentemente, e eu pergunto: qual liberdade? Vivo com a sensação de que o estado português quer condicionar as minhas escolhas de vida, não me oferecendo opção e forçando-me a seguir a via mais óbvia - um crédito habitação!

    E isto leva-me a afirmar o óbvio: não interessa aos políticos falar dos preços do mercado de arrendamento, ou da carga fiscal alta a que os arrendatários estão sujeitos (28% da renda + IMI); interessa sim, que o povo se veja obrigado a ver na compra de um imóvel a solução para a impossibilidade de arrendarem um espaço decente por um valor justo. O crédito habitação vai mantendo a banca feliz - Banca feliz = Políticos felizes.

    O problema da habitação em Portugal não é simples. Embora eu continue a achar que deveria existir algum bom senso nas rendas praticadas, como em todos os negócios, sei que isso é uma mera utopia. A culpa não é realmente do senhorio, nem do agente imobiliário e definitivamente, a culpa não é de quem não quer, ou de quem não pode comprar casa. A culpa é do Estado. 

    PS - Se souberem de algum T0, T1, ou T2 (Oeiras, Cascais, Odivelas, Sintra, Amadora), como um preço razoável e que passe contrato, por favor digam! XD