Este foi dos melhores livros que li nos últimos meses. Não é que tenha lido muito. O último ano lectivo foi uma complicação, com muito trabalho, muito cansaço e pouco tempo para leituras lúdicas. Ainda assim, volto a repetir que gostei muito deste "Rebecca" e não percebo como pude deixá-lo na mesinha de cabeceira, por ler, durante tanto tempo.
Publicado em 1938 e da autoria da escritora inglesa Daphne Du Maurires, "Rebecca" cedo se estabeleceu como um sucesso literário e a obra que marcou a carreira da escritora, que ainda hoje é lido e comentado por muita gente.
"A noite passada sonhei que voltava a Manderley." é a frase com que iniciamos esta nova viagem. É a segunda Senhora De Winter, que nos contará como é que Manderley veio a ocupar um lugar tão importante na sua história, desde que esta era uma simples dama de companhia, até se tornar na sucessora da inesquecível primeira Senhora De Winter, Rebecca.
É em torno do fantasma de Rebecca, vítima de um trágico naufrágio, que todos os pensamentos da segunda esposa do Senhor De Winter, Maxim, começam a viajar. A insegurança desta jovem e simples rapariga é tão evidente (por vezes é até irritante), que chega mesmo a tornar-se aflitiva a forma como a sua vida passa a girar em torno do que as outras pessoas esperam dela. Aparentemente a segunda esposa nunca será suficientemente apta ao estatuto de Senhora de Winter, soberana da luxuriante propriedade inglesa, Manderley. Ela nunca será Rebecca.
Adorei da forma como a autora nos conduz pelo enredo, fazendo-nos sentir na pele o desconforto que a narradora sente. Todos os livros são capazes, até certo ponto, de nos fazer sentir assim, mas por alguma razão senti-o com maior intensidade em "Rebecca". Talvez por isso o desfecho tenha sido uma surpresa. Por estar tão "dentro" da personagem, não me apercebi do que poderia estar para acontecer.
Outra das coisas que gostei foi da descrição que Du Maurier fez do primeiro amor,
Por felicidade não se repete a febre do primeiro amor. Porque é realmente uma febre, e um fardo, também, apesar de tudo o que os poetas possam dizer. Ninguém é suficientemente forte, aos vinte e um anos...Dias cheios de pequenas covardias e ínfimos receios sem fundamento, em que é tão fácil a gente sentir-se magoada, pois a primeira palavra má fere como arame farpado. Quando, porém, como hoje, nos sentimos envolvidos pelo manto da meia-idade já próxima, as minúsculas picadas diárias apenas nos tocam de leve e facilmente são esquecidas; mas naquela época....uma palavra descuidada permaneceria como um estigma ignominioso!
Gosto desta passagem. Acho que a vida é mesmo assim e que ao ficarmos mais velhos e ao sofrermos decepções, vamos ficando mais fortes e mais capazes de racionalizar o que está a acontecer. Pode ser bom, mas por outro lado trás uma certa pena, essa noção de que nos vamos transformando numa espécie de ser humano com armadura.