quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Bananas (1971)


O filme Bananas, de 1971 falha em vários aspectos, desde a montagem ao ritmo; do argumento rebuscado aos fracos actores secundários. No que que não falha, contudo, é no poder de fazer rir, ora com humor inteligente ora com slapstick mais rudimentar. Woody Allen nunca foi mais engraçado.

Ao ver este filme não pude deixar de pensar no And Now for Something Completely Diferent dos Monty Python. Pelos piores e melhores motivos: O argumento parece apenas uma estrutura provisória, prestes a colapsar. Vigas de madeira carcomida – vulgo, a história de uma cobaia para produtos tecnológicos (Fielding Mellish, interpretado por Woody Allen) que se torna o presidente de um país fictício na América do Sul – a suportar a mais fina e cara porcelana – alguns dos melhores sketches cómicos de que há memória. Como no filme dos Monty Python, é palpável a falta uma história coerente que ajude a interlaçar os momentos cómicos (aka 99% do filme – não me perguntem como cheguei a este número).

O cinema cómico de Woody Allen atingiu o pico em Annie Hall. Até lá, houve um crescendo estrutural (à falta de melhor palavra para descrever a coerência do argumento) e cómico (aqui a palavra certa). Depois de Annie Hall, Woody Allen continuou a aprimorar o aspecto formal mas o lado cómico foi-se perdendo com os anos. Se Bukowski ainda fosse vivo, e não menosprezasse totalmente Hollywood e os seus intervenientes, e tivesse visto a maioria dos filmes de Woody Allen, e quisesse fazer uma apreciação crítica e… bem, se todas as condições se materializassem, Bukowski provavelmente reciclaria uma frase sua, “As the spirit wanes the form appears”. (qualquer coisa como, quando o espírito desvanece a estrutura aparece) 

Se nos abstrairmos dessa falta de estrutura inicial, desculpável a um aprendiz de realizador, Woody proporciona-nos momentos como só os maiores da comédia conseguem. Numa cena que marca o aparecimento da figura recorrente do psiquiatra nos seus filmes, Fielding Mellish, deitado no sofá da praxe começa a divagar sobre a sua infância com tiradas que parecem saídas directamente do seu stand-up. Mellish conta como costumava esfregar os dedos nas partes porcas de uma revista pornográfica em braille ou como os pais apenas lhe tinham batido uma vez enquanto criança. Começaram a 23 de Dezembro de 1942 e pararam no final da Primavera de ’44. Nessa mesma sequência, aparece a reconstituição hilariante de um dos sonhos recorrentes de Mellish que só pode ser descrito usando o chavão “só visto”!



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