"The House of God", de Samuel Shem, foi sem dúvida um desafio. Não apenas porque o li em inglês, mas também pela própria temática - Medicina.
Normalmente quando escolho um livro, opto por temas que fujam daquilo que faz parte do meu dia-à-dia; torna-se um escape da realidade. Quando decidi aceitar a sugestão oferecida pelo do Dr. Guillermo Couto, numa das suas palestras, não sabia onde é que me estava a meter.
A história, de carácter autobiográfico, centra-se na personagem de Dr.Roy Basch, um jovem médico que consegue um estágio como interno, naquele que é considerado um dos melhores hospitais dos Estados Unidos, "The House of God". Inocentemente, este médico acreditava que as suas qualidades académicas o teriam preparado para lidar com tudo, estando apto a salvar vidas e a ser o "herói". Contudo, cedo descobre que a realidade é outra. Aquilo que será realmente testado não serão as suas capacidades intelectuais, mas antes a sua integridade mental. Roy não terá de salvar vidas, mas sim de salvar a sua própria vida de ser subjugada, pelos abusos da profissão.
Foi um desafio terminar este livro. Não o digo, por ser fraco, antes pelo contrário. Foi uma leitura lenta, por não me permitir um escape total da minha realidade. Dei por mim a fazer várias comparações entre as personagens que fazem parte do meu quotidiano, com as da "Casa de Deus". Reparei em coincidências curiosas, como o facto de um dos chefes ter uma marca de nascença na cara, no exacto local e com a mesma descrição, que um dos meus professores (embora o meu professor seja bem mais simpático, que a personagem), ou o facto de um dos pacientes se chamar "Jane Doe" e na semana passada ter redigido um trabalho sobre uma paciente também chamada "Jane Doe". A personagem "Jo" também me fez lembrar alguém com quem lido quase diariamente.
Poderia continuar com os paralelismos, mas não passam de experiências pessoais. Assim, aconselho vivamente a quem esteja no ramo da Medicina, quer seja humana, ou veterinária, ou aqueles que estão a ponderar optar por este caminho, a lerem isto! Destruam desde cedo a imagem irrealista da profissão, que séries como "Anatomia de Grey" insistem em transmitir.
Apesar de ter sido publicado em 1978, e ser, ainda hoje, fonte de controvérsia entre a comunidade médica, é uma obra actual e que nos recorda da importância de não perdermos a nossa essência, independentemente dos desafios e abusos exteriores.
Sem comentários:
Enviar um comentário