Enquanto lia o jornal do dia, de trás para a frente como costumo, mas não de frente para baixo como às vezes faço, deparei me com a crónica do MEC. A minha reacção não foi de surpresa, afinal, desde que me lembro que aquele cantinho é dele, mas de reconforto, ao saber que algumas coisas continuam na mesma; ou fraseando de outra maneira, que algumas coisas boas continuam na mesma.
A crónica, também ela não foi surpresa, bem escrita e a letra bonita, falava das pequenas coisas, afinal as grandes já têm atenção que chegue, mais do mesmo também é demais. Em menos palavras do que em poucas já foi dito, o MEC dizia que a tecnologia estava a privá-lo do prazer da ignorância.
Que exagero, pensei eu, mudei a página do meu Kindle, partilhei a crónica com o meu telemóvel, e fui à minha vidinha.
Ao longo do dia, por muito exageradas que aquelas palavras me parecessem, ficaram coladas na parte de trás da minha cabeça (esta expressão em inglês faz mais sentido, se é que em português faz algum). Sempre que olhava para o e-mail, sempre que fazia mais um post no Facebook, sempre que narcisisticamente apurava se alguém tinha feito um post no meu Blog, lá estavam as malditas palavras: "Há um prazer na incerteza", que eu sacudia como podia, mas que voltavam a cada meia-volta.
Numa dessas meias-voltas, estava eu na casa de banho - a tecnologia ajuda, mas não em tudo - frente ao urinol e com o telemóvel numa mão e, e o resto o contexto ajuda a perceber, quando estava a acabar, o e-mail, que do resto já estava despachado, voltaram-me aquelas palavras à cabeça, mas neste momento outras ouviam-se mais alto, "E agora? Como é que vais fazer isto só com uma mão?". Então, as prioridades inverteram-se, a voz que me perseguia podia esperar, tinha um assunto mais importante em mãos!
Torci-me, contorci-me, suei mas não ressuei e, botão após botão, casa após casa, descobri reflexos que desconhecia possuir.
No fim desta empreitada, custosa mas bem-sucedida, comecei a pensar na razão por que coisas destas acontecem, no porquê. E foi nesse momento que decidi, vou deixar de adiar o inadiável, vou começar a usar fecho.
Luís Azevedo
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