sexta-feira, 6 de maio de 2011

Documentários: What are they good for?


Sempre achei o documentário um género menor do cinema. Um género que perdia muito quando comparado à ficção. O meu raciocínio era simples, para mim o cinema tem que ser necessariamente um escape à realidade, por isso um género que eu cria ser uma tentativa de representação da realidade falhava nesse pressuposto básico. Para mim, se queria ver a realidade, olhava à minha volta, lia os jornais e, se via um documentário, via-o como fonte de conhecimento sobre o tema que tratava e nunca como obra verdadeiramente cinematográfica.
Estas opiniões que eu tinha em relação ao documentário foram formadas, assim como quase todas as minhas opiniões, em ignorância e ideias pré-concebidas. O pouco que aprendi sobre documentários nos últimos tempos fez-me começar a encarará-los de maneira diferente. É isso que quero partilhar.

O problema maior que eu sempre notei nos documentários são as suas terríveis limitações. Desde o seu nascimento que o cinema sempre funcionou como uma alternativa à realidade – também sempre funcionou como representação da realidade, mas isso não é para aqui chamado. Essa característica do cinema, de não ter de obedecer à realidade, permite-lhe ser toda e qualquer coisa, retira qualquer limitações que pudessem existir, permite criar mundos e realidades alternativas; e podia continuar a divagar ad infinitum sobre as possibilidades do cinema, mas uma voz diz-me que não o devo fazer. O documentário, por sua vez, só permite mostrar a realidade e, para mim, isso só queria dizer uma coisa: BORING!, com o “O” bem carregado.
Em que é que uma história “real” pode ser mais inventiva do que uma, como é que posso dizer, inventada? Como é que poderia avaliar da mesma maneira um argumento construído de raiz, pensado e repensado exaustivamente, com uma história que já existe?
O que me poderia dizer alguém espontaneamente, sem qualquer encenação, que actores treinados já não o tivessem dito melhor? Será que alguma fala me ficaria mais na memória do que It’s the one that saysBad Motherf*****’” ou “I’m going to make him an offer he cannot refuse.”? A resposta era não e continua a ser não. Mas, por num documentário não me poder deliciar com os belos diálogos da ficção, não fico privado de uma boa experiência cinematográfica.
O ponto de viragem da minha percepção dos documentários foi a mim primeira aula de “Cinema e Documentário”. Não a aula em si, mas a vontade de saber mais sobre esta variante de cinema que nasceu nesse dia. O filme do dia foi “O Homem da Câmara de Filmar” de Dziga Vertov. Apesar de extremamente aborrecido para quem o via com olhos habituados a explosões, perseguições e outros “ões” e para quem o ouvia com ouvidos também habituados a outras andanças, fez-me pensar um bocado. Nele o realizador tomava várias decisões conscientes, fazia várias escolhas artísticas que introduziam um cunho pessoal.
Espera. Decisões conscientes? Escolhas artísticas? Afinal, o documentário não era só uma representação do real, mas sim uma representação SUBJECTIVA do real! Sim, continuava a achar aquele filme um tédio, mas fez-me pensar, Agora se calhar vou começar a olhar para ele e para outros documentários com outra atenção.
A partir daí comecei a ver mais documentários mais vezes, a procura-los, a querer ler sobre eles. Comecei por ver o Taxi to the Dark Side, que tinha uma clara intenção política; “Restrepo”, que contava a história de um soldado sem praticamente ter aparecido no ecrã, ao mesmo tempo que contava a história de um grupo de soldados e de uma guerra; Grizzly Man, a história de um mártir sem santificações, entre outros que vi nas aulas como Persépolis ou “Forever”.
Com mais filmes na bagagem, vistos com uma atenção e sob um prisma diferentes, a minha opinião foi mudando. Claro que não continua a haver um argumento bem construído e delineado, mas o realizador faz escolhas que moldam a história que quer contar, transforma a história “real” e utiliza dois poderosos filtros, a lente da objectiva, e o seu olhar subjectivo – três se o realizador sofrer de miopia ou astigmatismo – para contar a sua história. Isto é por demais evidente no “Grizzly Man”, filme no qual Werner Herzog se coíbe de fazer uma elegia a uma personagem de tantas formas louváveis, e faz um retrato heterogéneo, onde mostra tanto defeitos quanto qualidades, todas as características de um ser humano complexo. Ele não tipifica nem mistifica. Ele chega a discordar. Outro realizador certamente enveredaria pelo caminho mais fácil do elogio ou até por um mais difícil mas, mais importante, qualquer outro realizador faria um filme diferente. E poderia dizer-se que sim, o filme é diferente, mas a história é a mesma. Eu agora diria que a história e o filme se tornam um, por isso um filme diferente seria uma história diferente.
Logo quando pensava estar a apanhar o jeito a isto dos documentários, descubro estar enganado. “Triunfo da Vontade”. Leni Riefenstahl. Unanimemente aprovado como um dos melhores documentários de sempre. Não o cheguei a ver todo. Contemplei o suicídio várias vezes enquanto o via. Não o levei a cabo porque adormeci antes.
No primeiro documentário clássico (com clássico quero dizer velho) que vi, e de que falei acima, também surgiram alguns bocejos, mas pensei que fosse normal, não fosse esta uma experiência nova que requer habituação, como a primeira chávena de café, que me fez perder o sono e ganhar dores de cabeça, mas que à décima ou décima segunda, já não sei ao certo, se tornou aceitável e, gradualmente, até um prazer e um vício. Mas não, depois de não sei quantos documentários vistos este, o suposto ápex dos documentários, parecia-me mais entediante do que o primeiro. A minha interpretação baseou-se num raciocínio simples que me pareceu perfeitamente plausível: se eu não gosto mas toda a gente gosta isso é indicação clara de que toda a gente está errada. Agora só faltava uma opinião coincidente com a minha para provar a minha teoria, e puder dormir melhor à noite. Não foi difícil. Bastou-me recorrer ao crítico a que recorro sempre, Roger Ebert, que conseguiu apontar todos os erros que eu via mas que não tinha o discernimento para, efectivamente, os apontar.
Depois de ter encontrado quem fizesse o trabalho sujo por mim, posso voltar a iludir-me e a pensar que já estou a apanhar o jeito a isto dos documentários. Mas não estarei a iludir-me por certo se disser que estou mais rico agora do que quando ignorava o valor dos documentários, e não vou pôr um ponto final no final, porque a descoberta dos documentários ainda está longe de acabar
Luís Azevedo

3 comentários:

MERCEDES disse...

Hay documentales fantasticos muy trabajados y con un gran trabajo de documentacion.Lo que a mi me pasa es que me da pereza mirarlos por que me hacen pensar y con las peliculas sencillamente me evado de la realidad.Que la vida ya esta bastante complicada.Eso si cuando veo alguno generalmente me gustan mucho.saludos

Luís Azevedo disse...

Os documentários nisso diferem um bocado das obras de ficção, mas às vezes existem documentários muito simples que não exigem muita reflexão e obras de ficção que são o oposto.
Cumprimentos

MERCEDES disse...

Tienes razon hay filmes que tambien te hacen reflexionar,no te pienses que siempre estoy perezosa lo que pasa que a veces me gusta desconectary ver algo sin mas.
Por cierto hay cortos fantasticos y tampoco tienen el reconocimiento que se merecen.Salud