domingo, 1 de novembro de 2020

O Estado das Coisas - uma carta aberta ao Estado português.

Exmos Srs e Sras,

Desde Março deste ano que o mantra na comunicação social e do vosso discurso se repete - a pandemia é grave e é perigosa; protejam-se! Este mantra vende bem durante uns tempos e serve para esconder e justificar muitas ações, mas depois de 6 meses, sem resultados positivos, precisa de uma reformulação. 

Ninguém se consegue proteger de uma pandemia apenas com máscara, gelinho e bom senso, se o Estado/vocês não tomarem medidas à séria. Não falo de medidas como as atuais - fechar concelhos, limitar o número de pessoas na rua e em casa, limitar os horários dos estabelecimentos, etc etc. Essas medidas apenas vão adensar o problema social que se está a descontrolar - o desemprego vai aumentar (mais), os donos dos estabelecimentos vão-se endividar (mais) e toda a gente vai ficar mais pobre, mais sozinha e mais infeliz. Além disso, todos sabemos que os portugueses são peritos em contornar regras, pelo que os nossos agentes da autoridade vão ter de se esforçar mesmo muito, ou começar a assobiar para o lado, como aconteceu na observação das ondas na Nazaré.

A vida tem de continuar e o medo não pode ser a base de uma sociedade. É aqui que deveria entrar a vossa ação em conjunto com a dos media - todos os dias os portugueses deveriam ser informados de como o sistema nacional de saúde (SNS) está a ser reorganizado e reforçado e de como isso é a prioridade. Devíamos ser informados do que está a ser feito para diminuir a densidade populacional dos transportes públicos e quais as estratégias para combater o crescente desemprego. Nenhum português deveria precisar de se preocupar com a negligência face ao controlo das suas patologias crónicas, do comprometimento dos atos de medicina preventiva, ou do adiamento de procedimentos cirúrgicos, pelos quais esperaram meses.  Nenhum português deveria ter de se preocupar com o que fazer, caso o infantário, ou a escola dos seus filhos encerre e deixe de haver quem fique com eles.

Mas os Exmos senhores não falam de soluções concretas. Falam do vírus e falam com medo. Seguem os passos do resto da União Europeia, que se recusa a ter a coragem necessária para fazer reformas sociais JÁ! Tudo é lento, burocrático e pandémico. 

Infelizmente a história é cíclica. No final de tudo isto, quando perderem as próximas eleições legislativas, e os partidos populistas e extremistas ganharem uma maior representatividade no parlamento, espero que saibam que foi por culpa da vossa inércia e cobardia para seguir um caminho diferente dos restantes países do mundo Ocidental. 


Atenciosamente,

Luisa Alves

2 comentários:

katrina a gotika disse...

Estavas mesmo à espera de que reforçassem o SNS? Não, porque isso custa muito dinheiro. Mandar as pessoas andarem de máscara na rua fica mais barato, até porque não são eles que pagam as máscaras. Começa logo por aí.
Tudo isto é mesmo para achatarem a curva e não terem de investir mais no SNS, já de rastos antes da pandemia. Eu quero ver os números da mortalidade não-Covid quando isto acabar, comparados com os números de anos anteriores. Porque é que não há já números? Se calhar porque não são tão bombásticos na comunicação social. 5000 mil mortos por Covid desde que isto começou. Quantos outros?

Alu disse...

Estava à espera que se preparassem minimamente, uma vez que vivemos (teoricamente) num estado social, liderado pelo partido socialista...resgatar o BES também custa muito dinheiro e isso não impede que o façam. Aqui o problema não é só o dinheiro que iria custar. O problema é literalmente não existirem recursos humanos e o pessoal do serviço público estar habituado à boa vida e a não ter de apresentar resultados no final do mês.