Este ano tenho dito várias vezes o "este foi dos melhores livros que li até agora". E ainda bem! Não há coisa mais triste do que ler um livro por obrigação. Mas este "Expiação" de Ian McEwan é simultaneamente revoltante, apaixonante e cativante.
A história passa-se na Inglaterra pré-Segunda Guerra Mundial. A protagonista da primeira parte do livro é Briony Tallis, de 13 anos. Dramática e sonhadora, Briony aspira a ser escritora. Passa os dias da infância a imaginar o que lhe reserva o futuro e o dia em que irá ascender ao universo dos adultos, transpondo finalmente o limite misterioso que a separa desse mundo.
Por entre caprichos e histórias de fadas, Briony torna-se testemunha de uma cena entre a sua irmã mais velha, Cecília Tallis, e o jovem Robbie Turner, filho de uma das empregadas e protegido do seu pai, que irá mais tarde dar asas a um acontecimento, que marcará de forma trágica o destino destas três pessoas.
Já tinha visto a versão cinematográfica, por isso conhecia o enredo. Isso poderá ter o limitado um pouco o impacto emocional, que a história poderia ter despertado em mim. Ainda assim, dei por mim a sentir um ódio visceral para com esta Briony, que escondida atrás de uma máscara de criança inocente, conseguiu arruinar a vida daquelas duas pessoas, assim como amaldiçoar-se para toda o sempre com um sentimento de culpa que nunca consegue expiar.
Mesmo conhecendo onde a história me levaria, foi um livro que me deu imenso prazer ler. A escrita é bastante simples, ainda que rica em reflexões e descrições que nos vão fazendo apaixonar por algo, que poderia facilmente ter sido apenas mais uma história com um final interessante.
As restantes partes do livro, dão-nos a conhecer a perspectiva de acontecimentos do ponto de vista de Robbie e Cecília. Dei por mim a identificar-me com Robbie Turner, um rapaz que apesar de ter um interesse pela literatura, não conseguia sentir-se satisfeito com a mera contemplação e reflexão abstracta; como eu, Robbie precisava de uma razão mais concreta; precisava de satisfazer a sua faceta científica e por isso desejava tornar-se médico. E sabia que seria um médico melhor, precisamente por ter estudado literatura. Não porque isso o tornaria alguém mais "culto", mas antes porque teria uma maior e melhor bagagem para demonstrar maior sensibilidade, para com os que sofressem. Claro que isso não aconteceu. Por causa de Briony.
Mesmo tendo lido o livro todo, há uma parte de mim que continua muito zangada com esta personagem. Briony. O livro serve-lhe de expiação, de penitência, mas tendo em conta as consequências dos seus actos e palavras fantasiosas, não merece perdão. Porque a própria procura por um alívio da sua culpabilidade, demonstra apenas aquilo que sempre existiu nesta "criança" - egoísmo e cobardia.
Dizem os críticos que "Expiação" é uma história de amor e perdão. Na minha opinião, é uma história de um amor destruído, de guerra, de culpa, mas nunca de perdão. Se calhar encaro este livro assim, porque sou péssima a perdoar e tenho um terror de morte ao sentimento de culpa. Ainda assim, talvez as almas mais permissivas consigam desculpar Briony Tallis e lhe permitam a expiação final.
Um excelente livro, que merece a atenção de qualquer um!