segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Norwegian Wood - Haruki Murakami

Os escritores com influências orientais tem um extraordinário talento para descrever os elementos da natureza; Murakami tem um extraordinário talento para o fazer com os sentimentos humanos.

Se gostei de "Em Busca do Carneiro Selvagem", com "Norwegian Wood" tornei-me fã declarada de Haruki Murakami. Apesar de todas as referências à música e cultura americanas, o autor não consegue libertar-se da sua própria origem nipónica, o que resulta numa excelente combinação. 

Esta é a história de um jovem, Toru Watanabe, que cedo é confrontado com o real significado da morte, quando o seu melhor amigo se suicida. Apaixonado pela namorada do seu falecido amigo, Naoku, acredita poder salvá-la do seu estado mental instável, abdicando mesmo da sua felicidade e de si mesmo. No entanto, Watanabe conhece Midori, a perfeita antítese de Naoku; divertida, faladora, com um olhar positivo sobre a vida. Midori já teve igualmente a sua parte no que toca a perdas dolorosas, mas a sua forma de as encarar não podia ser mais diferente da de Naoko.

"Lembra-te somente de que a vida é uma caixa de chocolates. (...) Tu sabes, aqueles sortidos de chocolates, gostamos de alguns e de outros não? E comes todos aqueles de que gostas e os que restam são aqueles que não aprecias tanto? Penso sempre nisso quando acontece algo doloroso."

Toru terá de escolher entre duas mulheres muito diferentes. Uma que representa o passado, aquilo que foi perdido - a nostalgia; e outra que significa a possibilidade de um recomeço e, quem sabe, de um final feliz.

Personagens principais que não tem nada a perder, parecem ser as predilectas de Haruki Murakami. Quase que parecem padronizadas. Quem sabe se não terão algo de "biográfico". Talvez na realidade sejam padronizadas a partir de todos nós. A verdade é que acho incrivel a capacidade do escritor em criar, num mesmo livro, personalidades tão diferentes. Penso que para conseguir tal proeza é preciso conhecer extremamente bem a natureza humana, deixar que ela seja parte de nós e expeli-la para fora sob a forma destas novas pessoas. 

Apesar de toda a diversidade de personalidades, a que me prendeu a atenção foi precisamente a mais perturbada de todas, a de Naoko. Não me identifico com ela. Longe disso. No entanto, acho que consegui entender a sua loucura e tive pena dela. Imaginem crescer desde os três anos com alguém, que se torna o nosso amante aos doze, com quem partilhamos tudo até aos dezassete anos, quando essa pessoa sem justificação decide acabar com a própria vida. Quando passamos tantos anos juntos, acabamos por criar o nosso próprio mundo, envolto numa redoma de vidro. Segundo Naoko, acabamos por ter de " pagar a nossa dívida ao mundo". É o fim da inocência. O inicio da verdadeira luta, no mundo exterior à redoma. Há gente que simplesmente não é capaz de fazer essa transição e desiste sem se quer tentar.



sábado, 14 de setembro de 2013

5 razões para não gostar de Saramago

José Saramago é um nome que causa a muitas pessoas algum grau de azia. O mesmo acontece comigo, sempre que alguém me fala de Margarida Rebelo Pinto, talvez um dia aborde aqui esse tema; uma coisa é certa, só existem duas posições possíveis no que diz respeito ao Nobel português: ou se adora, ou se detesta.

Embora eu me encontre no primeiro grupo, procurei perceber como é que alguém pode não gostar deste escritor e cheguei às seguintes conclusões:

1) A primeira, e mais óbvia, razão para detestar Saramago é não o saber ler e atirar as culpas para o facto de ele ter "uma pontuação estranha". Passamos anos na escola a ser formatados, acerca de como posicionar correctamente vírgulas, pontos finais, travessões, etc, etc. Chega este senhor aqui e escreve como lhe apetece, sem obedecer às regras de ouro, que durante tantos anos nos foram incutidas. Eu consigo compreender como é que isto enraivece muita gente. Mas penso que conseguir criar um novo estilo de escrita, que, se lermos atentamente e sem preconceitos, conseguimos perfeitamente entender, é ainda mais complicado do que inventar uma nova linguagem, como fez por exemplo J.R.R. Tolkien. 
Ontem ocorreu-me que se escrever é uma arte como a pintura, Saramago é como Picasso; ele não se limita a "pintar" o que vê, ele "pinta" como entende que realmente se deve pintar e sem ser limitado por aquilo que seria a correcta forma de o fazer;

2) A escolha do escritor em mudar de país de residência, ainda para mais recaindo a escolha sobre nuestros hermanos, não agradou aos mais patrióticos. Embora não concorde com a sua posição iberista, devido ao meu próprio orgulho em ser portuguesa, e também porque penso que nunca existiria um verdadeiro país, já que a própria Espanha se encontra minada de regiões que anseiam pela independência, apoio a sua decisão. Esta foi tomada após tudo ter sido feito pelo Estado português, para impedir que a obra "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" representa-se Portugal num concurso europeu, por alegadamente ir contra a fé católica. Ora, o Estado não é teoricamente laico? 
Se o meu próprio país negasse as minhas convicções e me censurasse, não hesitaria em mudar-me, ainda para mais se metade da minha família fosse espanhola;

3) Ser um escritor que declara abertamente o seu ateísmo e que denuncia os podres da Igreja Católica (basta ver pelo ponto anterior, como isso cai mal a muito boa gente cof-cof);

4) Fazer parte do programa escolar. Não gostar de Saramago é para muitos adolescentes uma forma de serem "fixes". Mal eles sabem, que parecem simplesmente uns cordeiros que seguem o rebanho. Quem realmente marca a diferença é quem tem opiniões próprias e justificadas.

5) Ser José Saramago, o prémio Nobel português. É triste, mas penso que a inveja é, hoje em dia, o principal problema e a raiz de todos os problemas do nosso país, das nossas famílias e da nossa vida. Sendo este escritor genial, muita gente odeia-o pelo simples facto de o ser.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

A Cidade dos Ossos - Cassandra Clare

Devia deixar de perder tempo a ler livros classificados como literatura YA. Primeiro porque acho que se calhar já não faço parte da faixa etária, e segundo porque me desiludem sempre, ou quase sempre. 

O que me levou a ler este primeiro volume da saga "Instrumentos Mortais", foi o trailer no cinema e todo o falatório na Internet acerca da saga. Devia ter ignorado tudo isto e continuado na minha tentativa, extremamente aborrecida, em acabar de ler "O Ano da Morte de Ricardo Reis" de Saramago. Mas não o fiz e, como é tarde para chorar sobre o leite derramado, aqui fica o meu testemunho sobre este "Cidade dos Ossos" - um cliché.

A história é narrada na terceira pessoa, coisa que normalmente resulta mal, quando não existe conteúdo q.b. Ultrapassado este problema, seguimos para a análise da história, toda ela previsível e não muito empolgante.

Clary, abreviatura de Clarissa Fray (Uuuh! O nome da protagonista tem as mesmas letras que o da escritora!) é uma jovem adolescente de quinze anos, que nunca encontrou o seu lugar, junto dos outros indivíduos da mesma idade (OMG! Problema universal dos adolescentes!). Um dia descobre que vê coisas que mais nenhum mortal é capaz de ver - demónios, vampiros, lobisomens (seres não humanos no geral) e os Shadowhunters! Este últimos são tipos dotados de tatuagens mágicas, as runas, que lhes permitem ter poderes que os simples mortais não tem e eliminar os demónios que habitam o nosso planeta. Resumindo, são uma espécie de anjos caídos. 

Mas porquê que Clary consegue vê-los? Porque também ela tem sangue de Caçador de Sombras! Juntamente com Jace, o herói bonzão e macho, e Simon, o seu melhor amigo, com uma paixão secreta por ela, Clary vai tentar salvar a mãe, que foi raptada pelos vilões. 

Baka baka baka, revelações previsíveis, baka baka baka fim. Esperem pelo próximo episódio.

Acredito que muita gente vá gostar deste livro, porque é um cliché de YA típico, com todos os elementos chave: uma rapariguinha com baixa auto-estima, um tipo jeitoso e o amigo desajeitado e apaixonado. A rapariguinha descobre que afinal vale mais do que aquilo que supunha e torna-se numa lutadora. Enfim, um enredo que já encontrei em muitos outros livros do género e que por isso não trás nada de novo. 


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terça-feira, 3 de setembro de 2013

"Não se Festeja a Morte de Ninguém"

"J.R.R. Tolkien morreu há 40 anos", foi o título que li esta manhã num desses portais sobre assuntos literários. Isto fez-me pensar: porquê que se festeja, ou assinala o dia de algum génio, seja ele literário, ou de outra área qualquer, no dia da sua morte? 

Para mim não faz qualquer sentido festejar, ou assinalar o dia em que um génio morre. Tomando como exemplo o caso da religião, visto que esta, quer queiramos, quer não, acaba por ter uma grande influência na sociedade, festeja-se o Natal, porque Jesus nasce; festeja-se a Páscoa, porque Jesus ressuscita; não se festeja, quando Jesus morre assassinado!

Então porquê todo esse alarido, quando faz anos que alguém notável morre (por exemplo, o centenário da morte de Darwin) ? Devia-se festejar o aniversário do nascimento de todos estes génios e esquecer que morreram, já que através das suas obras/investigações/descobertas, tornaram-se imortais; nunca deixaram de estar vivos.



 

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

5 Desvantagens em ler a saga "Harry Potter"

Toda a gente escreve sobre como a saga "Harry Potter" mudou a vida delas e sobre como toda ela é espectacular e espantosa. Raramente as pessoas dizem toda a verdade sobre "Harry Potter". 

Aqui ficam as cinco razões sobre as quais devem reflectir antes de lerem a saga:


1- Preparem-se para os sentimentos de frustração associados ao facto de serem simples muggles, principalmente se começarem a ler a saga no início da vossa adolescência. Esperarão dias, meses e anos pela célebre carta e esta nunca chegará. Acabarão por se tornarem muggles frustrados, porque sabem que Hogwarts existe, mas nunca a poderão ver. Simplesmente não têm aquilo que é preciso: magia;

2 - A vossa vida vai parar, quando lerem Harry Potter pela primeira vez. Vão passar horas a ler e, quando a vida real decide interromper-vos, vocês vão mandá-la dar uma volta. Isto pode levar a sérios problemas como reprovações em testes, zangas com a família, ou até mesmo a despedimentos;

3 - Morte, morte por todo o lado. Hmmm... isto não era suposto ser um livro para crianças? Bem, nem por isso. Assim, convém que os pais estejam atentos, não vão querer uma criança de doze anos a ler os últimos volumes desta saga, já que podem acabar a chorar noites a fio e com traumas para o resto da vida;

4 - Depois de lerem Harry Potter nunca vão encontrar nenhum outro livro que vos faça querer acordar às cinco da manhã, para ir esperar à porta da livraria local pelo novo volume. Isto pode ser bom, já que as vossas olheiras serão menores, mas também significa, que nenhum livro é suficientemente empolgante para vocês. Conheço até casos de pessoas que nunca mais leram e que estão constantemente a reler a saga completa;

5 - Os fãs do Michael Jackson vão sentir-se insultados, quando virem a caracterização do Voldemort na versão cinematográfica, que, surpresa surpresa, não é melhor que o livro.