Era um leitor ávido; só lia porcaria, mas lia-a avidamente. Tinha a mente preparada para ler, para passar horas a fio a desfolhar as páginas dos “Cinco”, “Harry Potter” ou o que quer que a minha irmã tivesse na estante, repleta qualidade e variedade, desde Nicholas Sparks a Paulo Coelho.
Depois veio a pré-adolescência e, ao sinal do primeiro pêlo púbico atirei todos os livros para um canto para me dedicar à masturbação e aos videojogos a tempo inteiro. Isto durou até aos 17/18, quando perdi parte do interesse pelo joystick.
Depois de sensivelmente cinco ou seis anos sem ler (excepção: Harry Potter), para além de um braço direito mais musculado e mãos e dedos calejados, fiquei com aversão a literatura a preto e branco e sem imagens. Completei a Secundário a analisar Eça e Saramago sem ler um livro.
O meu passado como não-leitor e estudante das “artes” ajudou a clarificar o meu futuro. Decidi tirar um curso na área das letras.
Decidi recomeçar a ler. Na minha ignorância, cri que um curso no ensino superior existia um nível de exigência superior, mas tratou-se apenas de uma confusão semântica; superior neste caso quer dizer “situado em cima” e não “de melhor qualidade”. Recomecei pelo mais fácil: vi filmes, e depois li os livros (O Padrinho, Revolutionary Road, Ensaio Sobre a Cegueira, etc). Calculei que se não tivesse de imaginar as personagens já teria metade do trabalho feito e tinha razão (não sabia é que me estava a poupar um trabalho interessante).
Voltei a ler a sério. A sério porque odiava ler o que lia e não há nada mais sério do que fazer algo que se odeia. Devorava Saramago, Dickens, Tolstoi ou Dostoievski. Devorava porque não parava para saborear, engolia sem mastigar; tomava literatura como se fosse brufen em pó dissolvido em água.
Mesmo assim, aos poucos voltei a encontrar prazer na leitura. Nada comparável à vontade incontrolável de ler o novo Harry Potter, que me fazia deixar de comer durante uma ou duas semanas para comprar o novo volume, ainda em inglês, em que não percebia uma palavra em cada três. Mas o bichinho crescia, como um eucalipto que brota das cinzas.
Voltei a ler. Desta vez sem ser a sério. Dei por mim a sorrir com uma ironia do Eça, a rir-me um comentário cáustico do Saramago, a pensar sobre uma frase do Dickens ou a ler sem parar um livro do George R.R. Martin. As palavras passavam a correr, os livros a voar (comecei a encomendá-los pela Amazon.co.uk)
O vício é tanto que comecei a ler um dicionário de ponta a ponta, começando pelas palavras que me aparecem noutros textos e que desconheço.
Até quando é que vou ler compulsivamente não sei. Talvez baste sair um novo Metal Gear Solid ou o novo Rocco, Destruidor Anal, para voltar à rotina decadente – se bem que divertida – da puberdade. A ver vamos.
Depois de sensivelmente cinco ou seis anos sem ler (excepção: Harry Potter), para além de um braço direito mais musculado e mãos e dedos calejados, fiquei com aversão a literatura a preto e branco e sem imagens. Completei a Secundário a analisar Eça e Saramago sem ler um livro.
O meu passado como não-leitor e estudante das “artes” ajudou a clarificar o meu futuro. Decidi tirar um curso na área das letras.
Decidi recomeçar a ler. Na minha ignorância, cri que um curso no ensino superior existia um nível de exigência superior, mas tratou-se apenas de uma confusão semântica; superior neste caso quer dizer “situado em cima” e não “de melhor qualidade”. Recomecei pelo mais fácil: vi filmes, e depois li os livros (O Padrinho, Revolutionary Road, Ensaio Sobre a Cegueira, etc). Calculei que se não tivesse de imaginar as personagens já teria metade do trabalho feito e tinha razão (não sabia é que me estava a poupar um trabalho interessante).
Voltei a ler a sério. A sério porque odiava ler o que lia e não há nada mais sério do que fazer algo que se odeia. Devorava Saramago, Dickens, Tolstoi ou Dostoievski. Devorava porque não parava para saborear, engolia sem mastigar; tomava literatura como se fosse brufen em pó dissolvido em água.
Mesmo assim, aos poucos voltei a encontrar prazer na leitura. Nada comparável à vontade incontrolável de ler o novo Harry Potter, que me fazia deixar de comer durante uma ou duas semanas para comprar o novo volume, ainda em inglês, em que não percebia uma palavra em cada três. Mas o bichinho crescia, como um eucalipto que brota das cinzas.
Voltei a ler. Desta vez sem ser a sério. Dei por mim a sorrir com uma ironia do Eça, a rir-me um comentário cáustico do Saramago, a pensar sobre uma frase do Dickens ou a ler sem parar um livro do George R.R. Martin. As palavras passavam a correr, os livros a voar (comecei a encomendá-los pela Amazon.co.uk)
O vício é tanto que comecei a ler um dicionário de ponta a ponta, começando pelas palavras que me aparecem noutros textos e que desconheço.
Até quando é que vou ler compulsivamente não sei. Talvez baste sair um novo Metal Gear Solid ou o novo Rocco, Destruidor Anal, para voltar à rotina decadente – se bem que divertida – da puberdade. A ver vamos.
3 comentários:
quem é o idiota?
Duh! Nicholas Sparks!
ahah! Achas que eu alguma vez procurei a cara dele?
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