quarta-feira, 31 de maio de 2017

"Receite-me qualquer coisinha...."

"Receite-me qualquer coisinha para o meu ------, que tem ----- e que eu não posso trazer aqui, porque----."

Sim, estou constantemente a ter pessoas na clínica que acham que basta receitar qualquer coisinha, sem ver o animal, para que ele fique bem, mesmo que eu não saiba o que ele tem. Como se nós, veterinários, tivéssemos poderes de adivinhação e só olhando para a foto do tal bichinho conseguíssemos descobrir a maleita dele.

Tentar comprar-nos as vacinas para darem em casa, também é bastante comum. Isto estará a ser incentivado pelos farmacêuticos?! 

Não funciona assim!

Ainda ontem apareceu lá um fulano que queria à força toda que eu vendesse um sedativo para ele dar ao gato antes de o trazer ao banho e tosquia. Eu até daria, se a) o gato não fosse um persa (ás vezes não reagem bem a sedativos) e b) se eu já tivesse visto o gato alguma vez na vida.

Disse isto de forma explicita ao dono e mesmo assim o senhor fez cara feia e disse: 
"- Assim vai complicar a minha vida e a sua." 
"- Pois, não se preocupe, que nós estamos habituados a lidar com gatinhos maus."

Será que ele ouviu o que eu lhe expliquei? 

Também há uns tempos apareceu uma senhora a dizer que a gatinha dela não comia há dois dias e tinha umas remelas estranhas. Mostrou-me a foto e queria que eu lhe receitasse algo, que ela já tinha tentado dar Benuron...Não conseguiu, felizmente! Quando ela disse isto eu interrompia e tive que alertá-la, que podia ter morto a gata com o Benuron! Raio das pessoas! Sempre com a mania da auto-medicação! Assustei tanto a mulher, que até a fiz chorar, mas de certeza que não volta a tentar dar medicação humana sem perguntar se pode...acabou depois por trazer a gatinha para ser vista de forma conveniente. 

Estas situações são recorrentes e preocupam-me, na medida em que a prestação de cuidados de saúde animal deve ser tão cuidadosa e ponderada, como a que é instituída às pessoas. Claro que o problema reside precisamente na forma como nós, portugueses, encaramos a utilização de fármacos. Passamos a vida a auto-medicar-nos. Não há quase controlo nenhum nas farmácias e há uma extrapolação desse comportamento, no que diz respeito aos animais. 

terça-feira, 30 de maio de 2017

Sr.Doutor

Aturar pessoas é a parte chata do meu trabalho. Há dias que até estou com paciência, mas na maior parte do tempo dou por mim a ser cínica, ou a repetir sempre a mesma conversa e fico cansada. Mas se há coisa que me tira do sério é gente idiota! 

Esta semana foi lá um senhor com o seu cãozinho, porque achava que ele estava doente. O senhor tem praticamente a minha idade e por alguma razão (sexto sentido) não vou com a cara dele. Mas faço a parte que me compete e lá vi e tratei do bichinho dele. 

No final, quando estava no consultório a arrumar as coisas, ouvi a minha colega a perguntar o nome do sujeito para aceder à ficha. Ao que ele responde "Doutor Fulano da Silva". Eu até perguntei a mim mesma se tinha ouvido bem. Como é que ainda hoje há este síndrome de incluir o DOUTOR no nome?! WTF?! Será que o senhor realmente tinha Doutor no cartão de cidadão? Apeteceu-me ir perguntar, mas obviamente que me contive. 

As pessoas tratam-me por doutora (excepto se forem estrangeiros), o que a mim nem me aquece nem me arrefece. Continuo sempre a apresentar-me como Luísa, médica veterinária. Acho uma idiotice o estatuto de Doutor, ou Engenheiro. Só mesmo aqui na tugalândia isso poderia ter importância...para mim parece só ridículo. 

Quando mais tarde liguei para saber como estava o cãozinho, volto a ouvir do outro lado do telefone - Fala Doutor não sei quantos. Engulo o sapo e informo-me sobre o estado do patudo. 



segunda-feira, 29 de maio de 2017

O Vitória perdeu a taça

e eu entretive-me a reflectir sobre a natureza humana, enquanto pessoas se insultavam mutuamente no café em frente.

As pessoas são realmente muito estranhas. Quase se matam por causa de futebol, mas na hora em que devem reclamar ficam caladas e submissas. Veja-se a quantidade de anos que passamos em declínio económico e a ser literalmente explorados e enganados, sem nunca (à excepção dos taxistas) termos armado o barraco em praça pública?! 

Deus nos livre de reclamarmos abertamente os nossos direitos! Ofensa! Sacrilégio! Bora expressar o nosso estado de espírito no Facebook de preferência sem o beneficio do corrector automático. Viva a liberdade de opinião! Para quê saber a diferença entre há e à?! Agora com o novo acordo é normal estes erros acontecerem. O que interessa é opinar! 

A verdade é que fico contente por termos uma estrela mediática como Presidente da República e um PM sempre bem disposto e pouco fatalista. Parecendo que não o tipo de discurso importa e estava cansada de ouvir aquele senhor laranjinha (e o amigo cor de laranja) sempre com previsões catastróficas. Para pessimista já chego eu. Claro que vencer o Euro e a Eurovisão com menos de um ano de diferença foi importante para o povinho ver que Portugal tem valor. 

Conclusão, isto funciona tudo como o slogan da Matinal (#postpatrocinado #sóquenão):



domingo, 28 de maio de 2017

Uma série de divagações/frustrações



(CLIQUEM NO VIDEO EM CIMA, PARA BANDA SONORA DRAMÁTICA)

Volta e meia dou uma limpeza na lista de blogs que vou seguindo. Fico triste com a quantidade de blogs literários que se transformam em montras e perdem a sua verdadeira identidade. Talvez eu seja na realidade uma miúda com a "puta da mania", mas já lá vai o tempo em que queria sacar livros às editoras (consegui uma, ou duas vezes). Claro que, quando escrevia o que realmente achava do livro era o fim do negócio. Sou péssima a lamber cus e a engraxar sapatos. 

Também não interajo muito no mundo dos Blogs. Deve ser por isso que por aqui também não há muita interacção. Agradeço a quem vai passando. Gosto sempre de ir espreitar com regularidade o Desabafos Agridoces da Sara e leio uma série de posts do Man's Repeller. Realmente sou pouco interactiva. Devo ser um bocadinho self-absorved (nem nisso sou original...).

Damn! Se eu soubesse que a vida de adulta ia ser assim, teria dito ao meu eu criança, para se deixar estar e não querer crescer tão depressa. Quando der por mim, vou estar a ter um bebé, para tentar criar alguma emoção na minha vida. Bem, dramática continuo a ser. 

Ah e tal há que encontrar equilíbrio no dia-à-dia. Porque a viagem é que é a felicidade, diz quem é rico e quer manter o povo controlado e satisfeito com a sua mediocridade. Desculpem a acidez do post de hoje. Deve ser do tempo, ou do meu ciclo menstrual, mas estou cansada de ouvir que há fases da vida assim. 

Ontem dei de caras com gravações que fiz quando tinha 13 anos. Aquilo era genial. Uma série de filmes com enredos clichés, Barbies e Action Men's nos papeis principais. Para onde é que foi aquela criatividade toda?! Um dia, quando atinar com o Adobe Premier tenho de publicar aquilo no Youtube. 

E o meu plano para conquistar o mundo? Tinha tantos! Um deles incluía criar rebuçados Mentos individuais. Seria genial. Claro que alguém se antecipou. Também ia ser realizadora de filmes da National Geographic. Hoje nem a reciclagem faço e conduzo um Nissan Almera de alta cilindrada. QUEM SOU EU?! O que fizeram comigo?!

Podia culpar o facto de não ser feliz à minha condição de ser mulher. Afinal seria tão mais fácil desapontar as pessoas se fosse um homem. Era só fazer acontecer. As pessoas nem iam julgar. Queria deixar a veterinária depois de 7 meses de trabalho? Força aí! Vai dar a volta ao mundo e tirar fotografias. O teu relógio biológico não interessa. Podes perfeitamente ficar para tio. É aceitável. 

E se eu deixasse veterinária o que quereria ser? Mas isto parece tão familiar. Foi assim, quando deixei as Belas Artes...se calhar o problema não é o trabalho. O problema sou eu. 

Não faço puto ideia o que ando a fazer com a minha vida. Alguém faz?! Se tiverem um tutorial enviem o link nos comentários em baixo. 

Atenciosamente,
Luisa. 



segunda-feira, 8 de maio de 2017

"Genius" - Série Televisiva

Já aqui falei sobre a série televisiva "The Crown", que dramatiza a história de bastidores do reinado da rainha Isabel II de Inglaterra. Pois, parece que este ano vou continuar com as séries biográficas. 


"Genius" retrata a vida de Albert Einstein. À semelhança de "The Crown", as cenas são também apresentadas de forma dramatizada, onde existe espaço para especulação. Claro que se nota que o orçamento para esta série televisiva da National Geographic não é sequer metade do que foi utilizado em "The Crown". A semelhança entre as duas series televisivas é apenas a de serem duas "biopics".

Mas afinal quem era Einstein, o génio? Em primeiro lugar era um ser humano. É esta parte humana do génio, que surge em primeiro plano. O espectador é confrontado com cenas de Einstein jovem e o cientista numa fase mais tardia da sua vida. Não tenho bem a certeza que esta forma de apresentar a história me agrade, mas acaba por ser interessante ver como, apesar de decorridas décadas, os seus valores da personagem se mantém. 


As escolhas dos actores também tem levantado alguma polémica. Seleccionaram um actor que se nota ser inexperiente, para o papel de jovem Einstein (Johnny Flynn) e um senhor actor para o Einstein mais velho (Geoffrey Rush). Se calhar esta escolha foi propositada. Acaba por funcionar, porque a ingenuidade de Fynn transparece de certa forma na personagem e a experiência do icónico Geoffrey Rush reflete-se num Einstein mais velho e mais confiante. 
 

Apesar de ainda só existirem dois episódios, fiquei surpreendida com a forma como a actriz Samantha Colley interpreta de forma tão intensa a personagem de Mileva Maric. Acho que para já foi o talento revelação da série. Posso estar enganada, uma vez que não sou expert no assunto, mas Genius vai abrir-lhe muitas portas. A actriz brilha no segundo episódio, onde o papel da mulher na sociedade cientifica é abordado. É incrível observar o quanto o papel das mulheres na sociedade mudou. Estamos tão habituadas a ter o nosso lugar como garantido. Há 40 anos atrás onde é que me levariam a sério se dissesse que queria ser veterinária? 



Espero não me desiludir com esta série e recomendo que experimentem! 




domingo, 7 de maio de 2017

O que se passa?

Ultimamente tenho andado sem inspiração, ou vontade de fazer seja o que for. Sempre fui um bocadinho depressiva e tenho de ter cuidado com isso. Mas, há algo que me começa a acontecer; começo a achar a Internet um sitio cansativo. 

Antes de começar a trabalhar passava horas seguidas no computador. Havia sempre algo mais para ler, para ver, para aprender. Hoje aborreço-me facilmente, passo dias seguidos sem ligar o PC (ajuda ter um telemóvel bom) e não consigo ter uma opinião sobre nenhum dos assuntos actuais, porque ouvir falar deles é exaustivo e a minha opinião é só mais uma no meio de mil. É quase como se sentisse vergonha de ter uma opinião, porque vai ser o eco de muitas outras. 

É um defeito grande. Sempre tive esta tendência para querer ser única e especial e a realidade é que só isso não chega. É preciso ter um destino em mente e ignorar o que os outros pensam de nós pelo caminho. Porque é difícil ser única e especial, quando estamos a tentar agradar a toda a gente.

Talvez este seja o ano em que aprendo finalmente a dizer não.