"Receite-me qualquer coisinha para o meu ------, que tem ----- e que eu não posso trazer aqui, porque----."
Sim, estou constantemente a ter pessoas na clínica que acham que basta receitar qualquer coisinha, sem ver o animal, para que ele fique bem, mesmo que eu não saiba o que ele tem. Como se nós, veterinários, tivéssemos poderes de adivinhação e só olhando para a foto do tal bichinho conseguíssemos descobrir a maleita dele.
Tentar comprar-nos as vacinas para darem em casa, também é bastante comum. Isto estará a ser incentivado pelos farmacêuticos?!
Não funciona assim!
Ainda ontem apareceu lá um fulano que queria à força toda que eu vendesse um sedativo para ele dar ao gato antes de o trazer ao banho e tosquia. Eu até daria, se a) o gato não fosse um persa (ás vezes não reagem bem a sedativos) e b) se eu já tivesse visto o gato alguma vez na vida.
Disse isto de forma explicita ao dono e mesmo assim o senhor fez cara feia e disse:
"- Assim vai complicar a minha vida e a sua."
"- Pois, não se preocupe, que nós estamos habituados a lidar com gatinhos maus."
Será que ele ouviu o que eu lhe expliquei?
Também há uns tempos apareceu uma senhora a dizer que a gatinha dela não comia há dois dias e tinha umas remelas estranhas. Mostrou-me a foto e queria que eu lhe receitasse algo, que ela já tinha tentado dar Benuron...Não conseguiu, felizmente! Quando ela disse isto eu interrompia e tive que alertá-la, que podia ter morto a gata com o Benuron! Raio das pessoas! Sempre com a mania da auto-medicação! Assustei tanto a mulher, que até a fiz chorar, mas de certeza que não volta a tentar dar medicação humana sem perguntar se pode...acabou depois por trazer a gatinha para ser vista de forma conveniente.
Estas situações são recorrentes e preocupam-me, na medida em que a prestação de cuidados de saúde animal deve ser tão cuidadosa e ponderada, como a que é instituída às pessoas. Claro que o problema reside precisamente na forma como nós, portugueses, encaramos a utilização de fármacos. Passamos a vida a auto-medicar-nos. Não há quase controlo nenhum nas farmácias e há uma extrapolação desse comportamento, no que diz respeito aos animais.