segunda-feira, 30 de maio de 2016

O que o "Erasmus" me ensinou

A minha experiência Erasmus não foi das mais comuns. Normalmente associamos esse programa universitário a ir viver a "vida loca" num país da Europa de leste, enquanto fazemos as disciplinas que aqui não conseguimos arrumar. No meu caso, optei por deixar o Erasmus para o ano de estágios curriculares (6º ano) e usar a bolsa para ir aprender numa clínica. São opções. 

 
Foram 3 meses de múltiplas emoções e muitas lições. Amanhã volto para Portugal e posso dizer que mesmo sem a "vida loca" (excepto aquela noite em Edimburgo...), volto diferente.  

Para começar, tenho mais 3kg do que o que tinha quando saí do meu país, já para não falar do meu bigode latino, visto que ao segundo mês as minhas tiras de cera para depilação facial já tinham acabado. Mas, o mais importante, consigo ver aquilo que de melhor o meu país tem - as pessoas e a comida!


Não me entendam mal! Adorei a Escócia. Sem dúvida que este é um sitio dos mais mágicos onde estive e vou morrer de saudade... Aqui descobri aquilo que já desconfiava acerca de mim mesma - não consigo viver longe da Natureza. A coisa que aqui me deu mais prazer, para além do chocolate a preço de água, foi sem dúvida acordar e poder decidir que ia escalar uma montanha, correr à beira rio, fazer caminhadas em que me cruzava com veados selvagens, ou simplesmente ir ler um livro num bosque qualquer. Mesmo num dia de chuva, este sitio impressiona. Até o meu namorado disse que este país tinha tudo a ver comigo porque, passo a citar, "é como estar num jardim zoológico o tempo todo..." 


Mas não é só a Natureza que dá um encanto especial a este país. É a força dessa Natureza aliada à História que marca cada local. Cada montanha conta uma história, cada círculo de pedras é mágico e cada Castelo trás a memória de um tempo antigo. Tudo é história e tudo é cultura. As árvores antigas são adoradas, e as histórias do antigamente perpetuadas. Este respeito e adoração pela História e pela Natureza são o que torna o povo escocês e a Escócia únicos. 

Estas são as coisas de que vou ter saudades. Nós portugueses temos um grande defeito - não valorizamos o que de melhor temos. É por isso que não somos grandes. O nosso complexo de inferioridade não deixa. Se calhar precisamos todos de viajar. Precisamos de sair da nossa área de conforto e ver outros lugares, para nos podermos valorizar. Essa foi uma das principais lições que aprendi nestes 3 meses. 

Quando cá cheguei tudo me parecia maravilhoso e espectacular. Os horários, a remuneração, o estilo de vida, as montanhas de doces, os livros baratos... Continuo a achar que é bom viver como os escoceses vivem, mas, com o tempo, não pude deixar de sentir que faltava qualquer coisa. Só depois de receber as minhas visitas "tugas" percebi que eram as pessoas e o nosso espírito alegre e espontâneo! A nossa capacidade de pensar "fora da caixa", para o bem e para o mal, é o que nos torna únicos e tão divertidos! 

 
Aqui as ruas são muito silenciosas, mesmo quando estão cheias. Tudo é pensado e calculado. As ocasiões são marcadas com postais, que dizem coisas que deviam ser ditas cara a cara...É difícil ultrapassar o manto de "boas aparências" das pessoas. Acredito que o tenha conseguido com algumas das pessoas com quem me cruzei, mas não tantas como gostaria. A certa altura sentimo-nos sós, por causa desse distanciamento e torna-se impossível não pensar com saudade no nosso país e na brejeirice de muitos dos portugueses. 


Podemos não ter tanto dinheiro, ou paisagens tão espectaculares (embora eu saiba que temos algumas), mas temo-nos uns aos outros e temos a nossa gastronomia maravilhosa, que estou ansiosa por começar a recordar, iniciando no Santo António e acabando no São Pedro, para depois fazer uma pausa saudável até ao Magusto! 


Em jeito de conclusão, para além desta renovada fé no meu país, acredito que estes 3 meses me ensinaram muita coisa acerca dos meus próprios limites e da minha independência. Não é que alguma vez tenha sido uma pessoa muito dependente. Sempre gostei do meu espaço e de fazer as minhas coisas sem ter pessoas à minha volta, mas 3 meses fora de da nossa zona de conforto torna-nos mais confiantes! Depois de irmos à aventura sozinhos, sabemos que somos capazes de mais do que aquilo que achávamos. É por isso que digo - não tenham medo de ir à aventura sozinhos, porque terão sempre a vossa própria companhia!












 




 

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