Isto vai soar um bocado narcisista, mas há alturas na minha vida que me sinto rodeada por pessoas que não acrescentam absolutamente nada à minha pessoa/vida.
Há uns dias atrás, tive uma conversa com uma das minhas melhores amigas, sobre o facto de que quando saímos da Universidade, esta sucessão de inúmeras novas caras que conhecemos, nem que seja de passagem, torna-se cansativa. A certa altura sentimo-nos sozinhos como nunca antes nos sentimos. É um sentimento que ainda só experimentei umas duas vezes neste Verão, porque me vou mantendo ocupada até à exaustão. Se parar por muito tempo vou começar a pensar nisso e vou bater mal. O truque é mesmo não parar.
Uma vez o meu namorado disse-me que eu não me rodeava de pessoas que me desafiassem. Na altura fiquei chateada e não percebi o que ele queria mesmo dizer. Pareceu-me um ataque aos meus amigos. A verdade é que já fui muito intolerante com as pessoas. Hoje, suporto quase tudo e quase todos. Sou bem mais tolerante e dou-me bem com quase toda a gente que conheço. Gosto de conhecê-las e de ouvir o que tem a ensinar-me, baseando-me naquilo que elas mesmas vivenciaram. No entanto, começo a entender o que o meu namorado queria dizer. É tão cansativo ouvir as mesmas histórias de vida, as mesmas opiniões, os mesmos temas de conversa mundana, os mesmos modos e manias de falar...dia após dia, após dia...e a nossa cabeça sempre a mil, com coisas excêntricas, ou com ideias ditas disparatadas, a fervilhar e a querer gritar e sem poder fazê-lo...tudo a ser desperdiçado pela arte de nos tentarmos misturar e perder na realidade dita "da normalidade".
Quantas vezes na vida é que se conhece alguém que nos estimule mentalmente? Que nos desafie a pensar fora da caixa, diferente dos demais? Pela minha experiência, não se conhecem muitas pessoas assim. As que conheço, guardo bem próximas. Mas mesmo assim, a distância acaba por nos colocar em campos geográficos diferentes, e o nosso dia-à-dia fica cada vez mais pobre. E a minha essência parece que se vai apagando e misturando. No final acabo por ser mais uma pessoa, que apanha o comboio para ir para o trabalho e que regressa ao final do dia. Uma réplica da pessoa que se senta ao seu lado. Mais uma. E isso deixa-me triste. Mas deixa-me sobretudo cansada.