Apesar de ser apenas por acaso, a curiosidade para ler a autobiografia da Michelle Obama existia. O contexto político que caracteriza a actual América é no mínimo estranho e no máximo inacreditável. Tinha curiosidade em saber como é que se passava dos Obama para os Trump. O que correu mal?
Claro que a leitura de Becoming não me ajudou a compreender os acontecimentos que aqui conduziram. Para isso era preciso um conhecimento bem mais profundo do mundo americano, da sua história (curta, mas rica) e dos meandros do mundo da política. Isso está longe de me assistir.
Acabei por ler esta autobiografia não para compreender, mas para desfrutar. Optei por ler a versão inglesa original, que está bem escrita, é simples e cativante.
É na primeira pessoa que ficamos a conhecer o contexto em que a 44ª primeira-dama americana cresce, os obstáculos que a sua geração enfrenta e as pessoas que a marcam. Só a meio do livro é que o nome Obama surge pela primeira vez, como o homem charmoso, que chega para ser o estagiário de Michelle, numa conceituada firma de advogados....marota!
Mas desenganem-se. Este não é de todo um livro sobre Barack Obama. É um livro sobre uma grande mulher, com uma identidade muito única, forte e simultaneamente frágil. Uma mulher que como todas nós, vive confrontada com escolhas difíceis e contraditórias, que muitas vezes ameaçam a sua verdadeira identidade.
Este livro deu-me uma perspectiva interessante não só acerca dos bastidores da casa branca e da política americana, mas também da sociedade americana e dos preconceitos que a minam. Talvez sejam esses mesmos preconceitos que nos conduziram até ao dia de hoje. Baseado no que li neste testemunho, acredito que os Obama tenham realmente tentado. As pessoas são simplesmente impacientes e os interesses dos mais ricos são difíceis de ultrapassar.