"All The Light We Cannot See" (em português "Toda a luz que não podemos ver"), de Anthony Doerr surpreendeu-me pela positiva. Mais uma vez, fui buscar a sugestão ao Man Repeller... Elas são boas a sugerir livros (deixo a dica).
A época da Segunda Grande Guerra dá pano para mangas, no que respeita a questões relacionadas com a natureza humana, sob todos os primas - ódio, amor, fraqueza, força, bondade...
Este livro tem como personagens principais dois adolescentes:
Marie-Laure é uma rapariga de nacionalidade francesa, filha de pai solteiro, funcionário de um museu em Paris. Esta rapariga fica cega na infância, mas tem uma é feliz e muito amada pelos que a rodeiam; Werner é um jovem orfão de nacionalidade alemã, que toda a sua vida cresceu com a irmã Jutta no orfanato, esperando o momento de, tal como o seu pai, ter de ir trabalhar nas minas de carvão.
Enquanto cresce, Werner e Jutta ouvem, ás escondidas, transmissões radiofónicas francesas sobre vários temas científicos, direccionados para crianças. É nessa altura que o interesse pela engenharia e ciência desperta em Werner. Este passa a ter uma grande admiração não só pelos grandes cientistas da época, mas também pelo estranho homem francês, que se dá ao trabalho de transmitir de tão longe aquelas sessões radiofónicas que se tornam num marco da sua infância.
Com a chegada da Segunda Grande Guerra, Werner, destaca-se dos restantes pelo incrível talento para a engenharia e é levado para uma escola nazi. Aquilo que inicialmente lhe parece uma oportunidade de ouro, rapidamente se transforma em algo sobre o qual o rapaz não tem poder de decisão. E assim, a partir daquele momento, todas as escolhas de Werner são feitas por ele, levando-o a compactuar com situações com as quais a sua natureza nunca compactuaria, tivesse o contexto sido diferente.
Werner vê o seu melhor amigo ser espancado e nada diz; vê um homem moribundo ser morto e nada faz; vê uma criança inocente ser assassinada e fica em choque...até ao dia em que decide ignorar as ordens superiores o que o leva, mais tarde, a cruzar-se com Marie-Laure.
Por sua vez, a infância de Marie-Laure é interrompida pela guerra. Juntamente com o pai, vê-se obrigada a fugir de Paris, indo para casa de um tio-avô meio lunático, em Saint-Malo á beira mar. Esta fuga não é inocente. O pai da rapariga, é incumbido de uma importante missão: transportar um valioso diamante guardado no museu e mantendo-o seguro até ao fim da guerra. O homem aceita a tarefa, mas como ele mais três indivíduos participam. Todos transportam um diamante, mas nenhum deles sabe quem tem o verdadeiro exemplar. Este diamante além de super valioso possui uma lenda associada: o portador nunca morre, mas todos aqueles que ele ama acabam por sofrer grandes tristezas.
A distância entre as personagens é muita, mas desde cedo sabemos que há algo que as liga: o cientista francês da rádio, que Werner tanto admirava é o avó de Marie-Laure.
O livro vai-nos contando a vida das personagens através de pequenos capítulos alternados, sempre narrados na terceira pessoa.
Como podem ver, a história é longa e com várias nuances, mas desde cedo se percebe que estas duas crianças estão ligadas por mais do que um rádio e que eventualmente acabarão por se encontrar.
Apesar de entender que a parte inicial do livro tem de ser longa, caso contrário não seria possível haver uma ideia tão concreta acerca do carácter das personagens e sobre o seu passado, não sinto que tenha funcionado muito bem. Esta coisa de alternar os capítulos entre personagens acaba por se tornar cansativa e acaba sobretudo por destruir o interesse em continuar a ler. Quando a história estava a tornar-se interessante para aquela determinada personagem, o capítulo acabava. Acho que foi por isso que demorei tanto tempo a terminar.
Nos capítulos finais, sente-se que há uma mudança de ritmo e tudo começa a acontecer mais depressa. Todos os pontos se ligam e temos um belo resultado. Só aí olhamos para trás e conseguimos apreciar a obra completa. Acredito é que tenha havido quem tenha ficado a meio da leitura...
Outra coisa que também gostei foi o facto de não existir aquela distinção típica entre "bons" e "maus". Porque sejamos honestos, de certeza que em ambos os lados existiam pessoas boas e pessoas más. Pessoas que se viram encurraladas num contexto de desumanização; num contexto muito difícil de imaginar e sobretudo de julgar.
Gostei bastante da forma como terminou. Não foi um fim trágico, ou um fim cor-de-rosa. Foi um final realista e com significado.