"As Serviçais" estava na minha lista de leitura há bastante tempo...tipo há anos. Este é um livro sobre a vida das criadas negras, no estado sulista do Mississípi, nos Estados Unidos. Aqui as leis de segregação eram levadas muito a sério, e além disso o lugar das mulheres (pretas, ou brancas), estava bem estipulado. Ai daquela que resolvesse questionar a sociedade!
A história é nos apresentada sob a perspectiva de três mulheres diferentes: Aibileen, uma mulher de meia idade, conformada com a sua posição de criada negra; Skeeter, uma jovem branca aspirante a escritora, que luta contra a perspectiva de ter de se tornar numa simples dona de casa; e Minny, a antítese da calma e ponderada Aibileen, com uma língua afiada e uma vontade de ferro. Estas três mulheres unem-se para criar a sua forma secreta de protesto - um livro, onde sob anonimato e identidade falsa, relatam como é ser negra e trabalhar para as mulheres brancas.
Já tinha visto o filme, com a fantástica actriz Viola Davis no papel de Aibileen, mas ainda assim vale muito a pena ler "As Serviçais". A história no grande ecrã está bastante fiel, mas, como é lógico, é impossível introduzir em duas horas e pico todos os pensamentos e detalhes desta história e das suas personagens.
Gostei da forma como intercalam os capítulos sob a perspectiva destas três mulheres e como abordam temas interessantes, recorrendo a uma série de episódios aparentemente banais, não só o problema do racismo e segregação racial, mas também a emancipação e a desigualdade entre sexos. No entanto existiram algumas coisas que não gostei.
Começo por falar da tradução do título de "The Help", para "As Serviçais". Eu compreendo que o título "A Ajuda" não fizesse sentido em português, mas o que raio são "serviçais"?! Qual era o problema de optar por "As Criadas"? Ou então, manter a coerência do título e chamar-lhe de "Ajudem", já que (spoiler alert), "The Help" é o nome do livro secreto...neste caso o título era um bocadinho importante demais, para ser distorcido desta forma.
A personagem de Skeeter também me deixa com um sabor agridoce na boca. Acho que há demasiadas contradições na sua personalidade, que se reflectem na história e que acabam por irritar. Esta rapariga sempre cresceu com as suas amigas brancas, membros da liga xpto, mestres em boas maneiras e aulas de etiqueta e cujo único objectivo era casar com um homem rico e fazer festas de angariação de fundos, para os meninos pobres de África (a ironia...). Todas elas foram criadas por uma criada negra e o que apenas distingue Skeeter dessas miúdas é o facto de ter tido uma educação superior e ser ligeiramente menos bonita. Depois de voltar da universidade Skeeter continua a querer agradar a essas raparigas e a tentar incluir-se na sociedade onde cresceu e é isso que para mim não faz muito sentido. Se a única coisa que a distingue delas é a educação superior, porquê que só ao escrever o livro é que se apercebe da injustiça e desigualdade social à sua volta? Falta aqui qualquer coisa. Acho que é carácter!
Talvez isto tenha sido intencional e a escritora quisesse apenas associar a mudança e crescimento de Skeeter à escrita simultânea do livro secreto, mas parece um ligeiro desmazelo na construção da personagem, quando comparamos com a complexidade da aparentemente calma Aibileen.
Apesar de não ser perfeito, é uma boa história, bem contada e que toca em assuntos que, ainda hoje, causam comichão a muito boa gente.
Agora vou só ali limpar a cozinha e estender a roupa, que o meu marido pode não gostar que eu tenha um blog e descuide as tarefas domésticas.
Tatá! *