domingo, 8 de abril de 2018

Uma Pequena História do Mundo, de E.H.Gombrich

"Uma Pequena História do Mundo", do escritor austríaco E.H.Gombrich, é um dos melhores livros que já li.

Já me tinham falado deste pequeno livro, há cerca de cinco anos atrás, mas nunca o tinha encontrado em nenhuma biblioteca pública. Estes dias, ao passear pela secção de livros na FNAC, deparei-me com uma edição recente da Tinta da China e não hesitei em comprá-lo. 

Este é um livro dirigido a um público jovem, que fala, apenas em 400 e tal páginas, da história da humanidade. Parece pouca página para se falar de um tema tão complexo e vasto, mas a forma como está escrito consegue prender-nos e levar-nos directamente para o passado, sem que seja necessário fazer uso de personagens, ou enredos; a própria humanidade é a personagem central. 

Uma das coisas que noto, agora que já conclui o meu percurso académico, é a forma como as aulas de história eram centradas essencialmente na Europa Ocidental, em batalhas e datas, em reis e rainhas. Senti que existia um grande vazio acerca do que se passava na Europa de leste e na área que hoje em dia corresponde à Alemanha e à Áustria. Também não era dada muita atenção à Ásia e os meus conhecimentos, em termos históricos, dessas regiões sempre foram muito limitados e este pequeno livro, ajuda a trazer uma nova luz, para essas mesmas falhas; fala da história do mundo e não apenas da Europa Ocidental e dos grandes impérios.  

Há certos aspectos e dúvidas que sempre me assombraram, em termos de cultura geral, que são facilmente explicados neste livro. Por exemplo, porquê que a Primeira Guerra teve inicio? Como é que a morte de um monarca austríaco, podia levar a que todas as nações entrassem em conflito? A contextualização e a forma simples, como E.H.Gombrich escreve, torna fácil e até empolgante, desvendar esta e outras questões, sem que seja preciso perceber grande coisa de politica. 

Recomendo este livro a todas as pessoas curiosas e principalmente a quem nunca tenha gostado de história, quer sejam crianças, ou adultos. É um livro que vale mesmo a pena ler e dos poucos que acho que merecem um 5* no Goodreads.  


sexta-feira, 6 de abril de 2018

O controverso caso de Amelie

Amelie era a cadelinha de estimação da actriz portuguesa Maria João Bastos. Há coisa de dois anos, foi submetida a uma anestesia geral, para fazer uma limpeza dentária, tecnicamente chamada de destartarização, num hospital no sul do país. Após a alta, algo não correu bem e a cadelinha deu entrada de urgência, acabando por falecer. Esta é a versão resumida, sem especulação, sem detalhes e sem juízos de valor.

O que se seguiu poderia ter ajudado a trazer alguma conclusão acerca da causa de morte da cadelinha, mas tal não aconteceu, uma vez que a actriz, no meio da sua dor e perda, optou por vir para o Facebook "gritar" a sua revolta, para com o hospital e a médica veterinária que acompanhou a cadelinha.



Os comentários a esta publicação, foram vergonhosos, com insultos do pior à médica, ameaças de morte, críticas e mais insultos a toda a minha classe profissional. Isto resultou num processo de difamação contra a actriz, cujo veredicto foi publicado estes dias, sendo a actriz ilibada e optando, dois anos depois de iniciado o processo crime, por repetir as acusações. 

Se eu não fosse veterinária, se calhar até acharia aceitável a atitude da senhora e isto fez-me pensar que realmente não devemos levar uma rede social tão pouco a sério, em nenhuma área profissional. Devemos ter cuidado com o que optamos por publicar, e essa responsabilidade é ainda maior, quando somos uma "figura pública". 

Neste caso, ninguém, a não ser as pessoas envolvidas de forma directa, esteve lá para saber o que realmente se passou no pós-cirúrgico deste animal. Até pode ter sido erro da médica, ou se calhar até foi a dona que não vigiou o animal como devia, ou deu-lhe comida muito cedo. Não sabemos! No entanto, errar é humano, mas não é humano linxar em praça pública percursos profissionais que exigiram anos e anos de sacrifício. As responsabilidades devem ser sempre apuradas e procuradas, usando os meios adequados.

O que também me deixou desapontada foi a forma espantosa, como num momento somos os melhores profissionais do mundo e, ao mínimo deslize, como se erros de matemática a medicina veterinária se tratasse, passamos a ser os piores. Há bons e maus profissionais em todo o lado e eu não conheço o trabalho desta médica, mas sei que é humana e espero nunca ter de passar por semelhante situação. Ninguém erra porque sim. A perda de uma vida não é só traumática para os donos é, e ainda mais se acharmos que a culpa poderá ter sido nossa, para os profissionais que os tratam. 

Infelizmente a medicina veterinária não é matemática e os veterinários não são robots. É triste sentir que realmente os anos que passamos a estudar e o tempo que investimos nesta profissão, e as horas que passamos longe de quem gostamos, são cada vez menos valorizados pelos portugueses. Acredito que isto seja válido noutras profissões também. O atendimento e interacção com o público nem sempre é fácil, mas há limites. Dá mesmo vontade de pegar nas malas e ir para fora, para países onde somos tratados com respeito e carinho. 

Toda esta história se tornou num circo de acusações onde o importante ficou por esclarecer: afinal qual foi a causa de morte da Amelie? Tudo se perdeu; a cadelinha, a dignidade de todos os envolvidos e acima de tudo, a verdade.