Em primeiro lugar: diz-se DesparaSITANTE e não DesparaTIZANTE. Os animais desparasitam-se e não se desparatizam! É tão rara a pessoa que diz esta merda direita! E mesmo depois de eu repetir como se diz as pessoas não atinam. Pior que isto só mesmo dizer goleira em vez de coleira...Não percebo porquê que "O Bom Português" da RTP1 ainda não pegou nisto.
Uma das razões pelas quais as pessoas vem com frequência ao veterinário é precisamente para desparasitar os animais e para se informarem sobre o que existe. Esta é daquelas conversas que eu repito mil e quinhentas vezes até ficar maluca. Por isso aqui fica a conversa:
- Que opções é que existem no mercado em termos de desparasitantes externos?
R - Basicamente o spray, as pipetas, as coleiras e os comprimidos.
- Quais devo utilizar?
R - Dependerá do estilo de vida do animal, da estação do ano e da sua carteira. Os desparasitantes externos protegem contra pulgas, carraças, ácaros, mosquitos e moscas. Alguns deles não funcionam para estes parasitas todos e por isso é que a escolha irá depender do estilo de vida do animal e da estação do ano.
R - As pipetas são aplicadas na pele do animal e normalmente são eficazes contra pulgas, carraças e mosquitos durante um período de 15 dias a um mês. Existem variações no espectro de acção. Algumas marcas não funcionam contra o mosquito, o que é critico no caso dos cães portugueses, por causa de uma doença chamada Leishmaniose, que é transmitida precisamente pela picada destes insectos; outras marcas só funcionam contra pulgas, o que é mau para animais que andem cá fora, uma vez que estão em risco maior de apanharem carraças, por exemplo. Além da desvantagem de terem de aplicar pelo menos uma pipeta por mês, a aplicação da mesma só pode ser feita com um intervalo de 3 dias em relação a banhos, ou idas ao rio/mar. Isto é, se colocarem a pipeta no vosso animal, só podem dar-lhe banho passados 3 dias e só podem colocar a pipeta, passados 3 dias do banho. Caso ignorem o intervalo, estão a deitar dinheiro fora, uma vez que a pipeta não é eficazmente absorvida pelo organismo do animal. Outra coisa muito importante - NUNCA USEM PIPETAS DE CÃES EM GATOS! Os gatos são intolerantes a um componente que existe na maior parte das pipetas para cães e podem morrer caso vocês se enganem, (ou o farmacêutico seja um ignorante e decida vender-vos isso à mesma).
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Aplicar o conteúdo da pipeta em vários pontos do dorso do animal, em caso de peso superior a 15kg. |
- O que fazem as coleiras?

- O que fazem os comprimidos?
R - Os comprimidos são úteis particularmente em cães que passem muito tempo dentro de casa e que convivem com gatos, ou que tomam muitos banhos. Normalmente tem um sabor agradável e podem proteger apenas contra pulgas e carraças, ou incluir no espectro alguns parasitas internos. Há também indicação, dependendo da marca, para uso do comprimido, em animais que sofram de sarna, ou convivam com pessoas alérgicas a ácaros. Nos países nórdicos o comprimido praticamente substitui a pipeta. Contudo, sendo o nosso país endémico para a Leishmaniose eu só o recomendo nos meses mais frios do Inverno (Dezembro, Janeiro e Fevereiro), porque NÃO PROTEGE CONTRA PICADAS DE MOSQUITO. Também o utilizo em animais muito velhos, cuja probabilidade de virem a morrer de Leishmaniose é super reduzida (tipo maiores de 15 anos). A periodicidade de administração do comprimido varia entre uma vez por mês, ou de 3 em 3 meses, dependendo mais uma vez da marca.
Por último, o spray está reservado para aplicação em bebés (gatinhos e cachorrinhos) com menos de 1,5kg.
E é esta conversa que eu tenho vezes sem conta com os donos, quando me perguntam qual a melhor opção!
2 comentários:
Ana Luísa Alves muito obrigada pelos seus esclarecimentos e pela forma engraçada e leve como nos transmite a informação. Queria fazer lhe só uma questão : afinal a Seresto protege contra a leishmaniose e picadas de mosquitos ou não? É pq em alguns sites diz que sim, mas noutros não, pelo que fico na dúvida. Muito obrigada pela sua ajuda e bom humor também
Bem-vinda ao Baú dos Livros Andreia!
Nenhuma coleira protege contra a leishmaniose. Ela protege contra a picada do mosquito, que é o modo de transmissao da doença, reduzindo significativamente o risco de infecção.
A sua questão relativa á Seresto justifica-se. É um debate que continua presente, mesmo entre colegas veterinários e nem sempre há um consenso. Actualmente a marca (da Bayer) não tem licença oficial, para afirmar que é eficaz na prevenção da picada. No entanto, já foram feitos e publicados alguns estudos (como este https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25023573), em que concluíram que era um método eficaz de prevenção. As razões pelas quais a marca não tem a inclusão da indicação escapam-me. Pode ser uma questão burocrática/ de registo de patente...
Independentemente da escolha do tutor (porque a escolha depende sempre dele), aconselho de Junho a Outubro complementar a protecção com pipetas mensais com eficácia também para o mosquito vector.
Espero ter ajudado! Cumps!
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