Sputnik, Meu Amor, de um modo resumido, narra a história de um triângulo amoroso; K, é um professor primário, que se encaixa no perfil das personagens masculinas a que Murakami nos habituou - solitárias e com gostos eclécticos. Este professor está apaixonado por Sumire. No entanto, esta rapariga, bastante excêntrica e jovial, não sente qualquer desejo de ser mais do que amiga de K e desconhece o amor que o amigo lhe dedica. Não é que ele não seja bom para ela, Sumire simplesmente nunca amou ninguém e nunca sentiu paixão por alguém. Desconhece até o que será isso de que toda a gente fala, e a sua única ambição é ser escritora. Um dia, num casamento, é assolada pelo desejo, que finalmente lhe mostra o que é sentir paixão, quando conhece Miu, uma mulher de meia-idade, bastante misteriosa.
A temática principal desta obra é a solidão. Gostei particularmente do paralelismo que é feito entre o título do livro e o tema em si - Sputnik, que em russo significa companheiro de viagem, foi o primeiro satélite a ser enviado para o espaço. Ainda no mesmo ano foi lançado o Sputnik II, onde seguia a bordo a cadela Laica. Nunca me tinha perguntado o que teria acontecido à cadelinha, depois de chegar ao espaço. Agora, depois de ler este livro, imagino a solidão e o medo que este animal não deverá ter sentido, dentro daquele pedaço de metal. Penso que seria isto que as personagens do livro sentiam; apesar de rodeados por muita gente (como a Laica, que era admirada por muitos), não conseguiam relacionar-se. Sentiam uma grande solidão.
(Fiquei com tanta pena da Laica, que fui ver o que lhe aconteceu. Segundo a Wikipedia, morreu poucas horas depois de entrar no Espaço. Causa da morte: stress e sobreaquecimento do satélite. Digam lá se a raça humana não é cruel?)
Tenho lido outras opiniões sobre este escritor e há quem não goste, ou quem já esteja farto. A verdade é que existe um padrão na construção das personagens; existe sempre uma personagem masculina, padronizada no seu estilo de vida, e amores não correspondidos, ou falhados. Este padrão existe de facto, mas para mim não representa mais do que a alma do próprio escritor. A forma como as diferentes histórias são moldadas, acabam por torná-las únicas, apesar da similaridade inicial que se sente. O
que distingue as obras de Murakami é a forma como este escritor
consegue transformar uma história banal em algo mágico, com uma grande
dose de surrealismo e de reflexões, que me fascinam.
Dizem que a magia de ler se baseia no prazer de viajar sem sair do sítio; Essa é uma grande verdade, mas há autores que conseguem despoletar essa viagem de uma forma mais mágica, do que outros. Haruki Murakami é um deles.