Há 7 anos atrás entrei no curso de Medicina Veterinária. O meu pai tinha ido a S.Tiago de Compostela de bicicleta e tinha acendido uma vela por mim. Se foi a vela, se foi o meu esforço, ou se foi um misto das duas coisas, não sei. O que é certo é que nesse ano consegui entrar no curso, coisa que era altamente improvável (afinal de contas eu vinha de Artes...). Mais tarde descobri também que o S.Tiago é o padroeiro dos veterinários. Quem sabe...
Não sou religiosa. Fui criada numa família de origem católica, onde o Natal é celebrado, e onde todos estamos baptizados, mas mais por "parecer bem" e ser costume do que propriamente por acreditarmos num ser superior e omnipresente, que nos castiga por maus comportamentos. Tenho a minha fé. Acredito que a força de vontade pode mover montanhas e que os pensamentos positivos atraem coisas boas (e vice-versa). Gosto de pensar que algures lá nas estrelas estão aqueles que já partiram (de duas e quatro patas) a olhar por nós, mas sei que a probabilidade de isso ser mesmo assim é praticamente nula. Ainda assim, não tem mal imaginar, se isso nos faz sentir melhor.
Por estas razões e por outras que não vale a pena invocar, pareceu-me certo ir a S.Tiago de Compostela a pé. Além disso, ia ser uma aventura e eu gosto de me aventurar.
Fui com o meu pai e pedi ao meu namorado para não vir connosco. Não porque não goste dele, e não o quisesse ao meu lado, mas antes porque aquilo era algo que eu sabia que ia doer, transformando-me naquela Luísa insuportável que começa a disparatar por tudo e por nada. A verdade é que durante os 6 dias da viagem, não houve uma única vez que me tivesse stressado, ou chateado. E acreditem...chega a um ponto que é possível que isso aconteça. O meu primeiro conselho é: escolham bem, quem levam com vocês na vossa primeira ida a S.Tiago a pé.
Saímos ás 6:30h da manhã de Domingo, da cidade de Barcelos. O destino era Ponte de Lima. Já tínhamos a nossa credencial de peregrino, obtida umas semanas antes em S.Pedro de Rates, mochila devidamente carregada com saco cama, mudas de roupa (velha e descartável), água e pomadas de vários tipos e com diferentes propósitos. Até gelo instantâneo levávamos, uma vez que os joelhos fracos fazem parte da genética familiar.
As duas primeiras etapas são das mais bonitas. A região minhota sempre foi uma das minhas predilectas. Os campos de milho a perder de vista, as zonas de arvoredo, os regatos, as casas rústicas, as pessoas afáveis e a boa comida e bebida, fazem-me sempre sentir em casa. É das zonas que mais amo em Portugal.
Fomos sendo saudados por quem passávamos, havendo sempre quem desejasse "Bom caminho" e que "S.Tiago vos ajude". Começamos a ver os primeiros grupos de peregrinos. Alguns (aqueles que vinham do Porto), já ligeiramente entorpecidos pelo acto de andar continuamente.
Rapidamente chegamos a Ponte de Lima (eram 13:30h). O plano inicial era ficarmos no Albergue, mas optamos pela Pousada da Juventude. Pedimos um quarto duplo com WC e fomos informados que para os peregrinos havia pequeno almoço dado pelo segurança numa saquinha, quando quiséssemos sair na madrugada seguinte. Pagamos 15 euros cada um, o que nos pareceu excelente, dadas as condições.
Para matarmos tempo fomos até à "vila mais antiga de Portugal", onde por coincidência estava a decorrer a Feira do Cavalo, uma feira de velharias e um festival de musica clássica. Aquela gente não brinca em serviço! Ponte de Lima é das vilas mais bonitas do nosso país e recomendo que a visitem, caso ainda não o tenham feito.
Depois de comermos qualquer coisa num snack-bar, voltamos para a Pousada, onde dormimos nada menos do que 9 horas seguidas! No dia seguinte acordamos ás 5:30h...mas isso fica para um outro post...
To be continued...
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