Há muito que não falo de episódios do trabalho, ou de trabalho no geral.
No mundo dos veterinários, há a ideia de que quem vai fazer clínica numa multinacional, vai necessariamente fazer só vacinas e desparasitações. Não vai ser médico veterinário a sério, porque vai trabalhar num "vacinódramo"; não vai acompanhar situações complexas.
Sinceramente não sei se essa ideia é propagada por colegas mais velhos, se é uma ideia que adquirimos na universidade, em estágios, ou se era uma ideia pré-formulada e baseada em generalizações só minhas (embora duvide).
Era por esta razão que sentia algum receio em optar por deixar a clínica onde estava, que já tinha mais de 20 anos de existência e provas dadas, e ir trabalhar num contexto diferente.
Entretanto passaram 6 meses e ainda não estou arrependida. Tem sido uma experiência interessante e diferente. Tive a sorte de embarcar num projecto novo, o que me permitiu acompanhar o crescimento de uma clínica veterinária desde o zero, sem a parte de estar economicamente comprometida. Isso trouxe também algumas desvantagens, como é óbvio.
Nos três primeiros meses a casuística era muito reduzida. Havia dias de autêntico tédio. Lentamente as coisas foram progredindo. É verdade que grande parte do serviço veterinário está voltado para a medicina geral e preventiva, embora já tenham aparecido alguns casos mais interessantes. Faz-me lembrar um pouco quando estagiava na Escócia.
A clínica onde estagiei, em Pitlochry, também era de clínica geral. No Reino Unido, as clínicas trabalham com centros de referenciação. Isto é, tudo o que seja algo mais complexo, como um animal diagnosticado com cancro, que precise de uma terapia especifica, ou um animal que necessite de uma cirurgia ortopédica complexa, é referenciado para um Hospital Veterinário, ou para um Centro Especializado. Há uma maior cooperação entre colegas veterinários, de modo a garantir o bem-estar do animal. Ninguém é obrigado a saber tudo sobre tudo. Cá em Portugal já começa a ser assim, e é também assim que funcionamos, no local onde trabalho.
No entanto, devido à forte concorrência e ao número quase incontável de clínicas, a maior parte dos locais recusa referenciar os casos com medo de perder o cliente e o próprio cliente nem sempre está receptivo a ser referenciado, porque está habituado a fazer tudo num só local. Se a clínica não dá resposta a tudo, não é uma boa clínica. Claro que isto não é necessariamente verdade e nem sempre é bom para o animal.
No entanto, devido à forte concorrência e ao número quase incontável de clínicas, a maior parte dos locais recusa referenciar os casos com medo de perder o cliente e o próprio cliente nem sempre está receptivo a ser referenciado, porque está habituado a fazer tudo num só local. Se a clínica não dá resposta a tudo, não é uma boa clínica. Claro que isto não é necessariamente verdade e nem sempre é bom para o animal.
Na zona do Reino Unido para onde fui os animais eram tão bem tratados, que raramente ficavam doentes. Os únicos internamentos a que assisti foram um cão com leptospirose e meia dúzia de animais com historial de trauma. A maior parte da casuística era composta por animais geriátricos, animais com problemas crónicos, medicina preventiva e dermatologia. Cá em Portugal é comum haver internamentos por falta de vacinação, por falta de desparasitação interna, ou externa, e por ingestão de substâncias tóxicas. Tudo coisas que poderiam ser evitadas, se os donos fossem minimamente informados e cuidadosos.
Falta muita informação e responsabilidade a muitos donos de animais em Portugal. É aí que a medicina preventiva entra. É precisamente aí que sinto que o meu trabalho é importante. Nesse aspecto posso dizer que o meu estágio na Escócia foi muito importante. Não vi casos clínicos XPTO's, mas aprendi a perceber melhor os donos e as dúvidas deles. Isso acaba por ser quase tão importante, como saber diagnosticar determinada doença.
Resumindo, gosto do que faço. Posso não me imaginar a fazer isto a vida toda, mas para já estou feliz e sinto um maior equilíbrio entre a minha vida pessoal e profissional. Continuo a não querer abrir a minha própria clínica, ou o meu próprio hospital. Acho que já existem espaços desse género aos pontapés (pelo menos, na zona onde me encontro). Se um dia decidir ter o meu próprio negócio, terá de ser algo diferente.
Claro que se entretanto ganhar o euromilhões, há uma série de coisas em que gostaria de investir: uma editora de livros, uma casinha de turismo rural, um café com entrada livre para animais de companhia (qualquer um, nao sou esquisita), uma clínica veterinária ambulante...mas para isso era preciso jogar no euromilhões, e para já ainda não ganhei esse hábito.
Resumindo, gosto do que faço. Posso não me imaginar a fazer isto a vida toda, mas para já estou feliz e sinto um maior equilíbrio entre a minha vida pessoal e profissional. Continuo a não querer abrir a minha própria clínica, ou o meu próprio hospital. Acho que já existem espaços desse género aos pontapés (pelo menos, na zona onde me encontro). Se um dia decidir ter o meu próprio negócio, terá de ser algo diferente.
Claro que se entretanto ganhar o euromilhões, há uma série de coisas em que gostaria de investir: uma editora de livros, uma casinha de turismo rural, um café com entrada livre para animais de companhia (qualquer um, nao sou esquisita), uma clínica veterinária ambulante...mas para isso era preciso jogar no euromilhões, e para já ainda não ganhei esse hábito.
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