Título: CISNE NEGRO
Título Original: Black Swan
Ano de Lançamento: 2010
Realizador: Darren Aronofsky
Argumento: Mark Heyman e Andres Heinz
Categoria: Drama | Suspense
Origem: EUA
Duração: 103 minutos
ELENCO:
Natalie Portman como Nina
Mila Kunis como Lilly
Winona Ryder como Beth MacIntyre
Vincent Cassel como Thomas Leroy
Se há algum tempo atrás me dissessem que estava prestes a entrar numa sala de cinema para ver um filme sobre ballet, cujo realizador parece irmão do Freddy Mercury, responderia que um sequestro e armas de fogo estariam envolvidos na equação. Se esse fosse o caso, deveria um agradecimento aos meus captores, por me terem obrigado a ver uma das melhores obras de cinema do ano.
Quando se fala deste filme, é quase inevitável mencionar o filme anterior de Darren Aranofski – “The Wrestler”. Apesar das óbvias dissemelhanças entre ballet e wrestling, ambos os filmes abordam temáticas e partem de pressupostos semelhantes; ambos tratam da obsessão da personagem principal por um desporto/arte (por estranho que pareça, há quem descreva tanto wrestling quanto ballet com ambas as denominações); tanto Nina como Randy são limitados em todos os aspectos da vida que não digam respeito ao Ballet; e, acima de tudo, tanto um filme como o outro, têm à cabeça personagens que passam a maior parte do filme a usar collants (sem tentar ser parcial, a escolha de Natalie Portman é mais acertada que a de Mickey Rourke).
Como já referi, a personagem principal (Nina Sayers) é obcecada pela sua arte. Tem a perfeição como meta, e tudo na sua vida que não envolva pliés, coupés e outros que tais, fica relegado para segundo plano. A sua relação com as outras personagens exemplifica isso mesmo, e devem ser vistas à luz da afinidade que partilha com a mãe. No início do filme vemos mãe e filha a partilhar uma conversa como se de irmãs ou bff’s se tratassem. Não podemos deixar de sentir que algo está errado. No decorrer da acção começamos a verificar a forma como Erica( a mãe, interpretada por Barbara Hershey) mostra o seu domínio e força castradora sobre Nina. Também Erica tinha sido bailarina, se bem que com pouco sucesso; exemplo clássico de uma mãe a tentar realizar o seu sonho frustrado através da filha. Freud teria aqui pano para mangas.
Nina é dançarina numa companhia de Ballet em Nova Iorque, e está na corrida para o papel principal numa nova versão do clássico “O Lago dos Cisnes”. Esse papel é marcado por uma dificuldade muito particular; a protagonista tem que ser capaz de desempenhar tanto o papel de cisne branco como o de cisne negro, papéis antagónicos, na sua essência. Nina é perfeita para desempenhar o papel de cisne branco, mas é demasiado perfeita para desempenhar o papel de cisne negro. Só quando demonstra a Thomas(o coreógrafo, desempenhado por Vicent Cassel), que talvez haja um lado negro debaixo do seu manto de perfeição, é que ele lhe dá o papel principal.
A partir do momento em que Nina descobre que vai ser a protagonista, ganham mais destaque três personagens, que despenham importantes papéis na interacção com ela, e que demonstram o quão inadequada é a sua preparação para qualquer relacionamento: o já referido Thomas, que a tenta fazer esquecer o perfeccionismo e abraçar o seu lado negro; Lily (Mila Kunis), que representa o cisne negro perfeito, e que é ao mesmo tempo idolatrada e odiada por Nina; e por fim Beth (Winona Ryder), a antiga estrela da companhia, a sombra omnipresente que representa o futuro inevitável de Nina e de todos os que vivem exclusivamente para um desporto/arte tão efémero.
Uma característica presente ao longo da história é que a obsessão de Nina pelo ballet começa a aumentar; deixa de ser o pano de fundo do filme e passa a ser a acção principal. E quando isso acontece, essa obsessão transforma-se em psicose. A ténue fronteira entre o real e o imaginado começa a diluir-se aos poucos e quão mais próxima Nina fica de abraçar o seu lado negro, mais confuso se torna diferenciar o que é real do que é produto da sua mente.
Este processo é filmado de forma brilhante por Aranofski que nos consegue iludir e confundir. Que nos deixa na dúvida quase até ao fim e que nos proporciona um terceiro acto verdadeiramente portentoso. Um final que bebe de “O retrato de Doryan Gray”, mas não creio que Oscar Wilde ficasse chateado. Afinal, não foi ele que disse “Talent borrows, genius steals.”?